Afinal, o PSD pediu ou não a demissão do ministro da Saúde? Está instalada a confusão entre os sociais-democratas depois de o deputado Ricardo Baptista Leite, porta-voz do PSD para a saúde, ter pedido na manhã desta sexta-feira a Adalberto Campos Fernandes, no Parlamento, que se demitisse “hoje, aqui e agora”.

Aparentemente alheio ao debate, o presidente do partido, Rui Rio, que está em Beja para as comemorações do 44.º aniversário do PSD, falou aos jornalistas dizendo que não sabia bem o que se tinha passado na Assembleia da República, mas garantiu que pedido de demissão não seria, porque não é esse o seu “estilo”.

O Observador contactou, depois, o deputado Ricardo Baptista Leite, para que esclarecesse, afinal, se tinha feito ou não um pedido de demissão. O deputado disse que não se sentiu desautorizado por Rui Rio, mas reiterou tudo o que tinha dito de manhã. Para ajudar à confusão, o vice-presidente do PSD Adão Silva já se veio pronunciar sobre o assunto. “Não há um pedido de demissão, insisto”, disse aos jornalistas.

Recorde a cronologia da crise interna do PSD em curso, declaração por declaração:

10h00 — Ricardo Baptista Leite: “Demissão hoje, aqui e agora”

A polémica começou com a intervenção do deputado social-democrata Ricardo Baptista Leite num debate no Parlamento com a presença do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes. Depois de ter afirmado que “o ministro da Saúde já não existe” e que o ministro das Finanças “tomou de assalto” o Ministério da Saúde, o deputado atirou a frase que marcou a manhã:

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Face ao descalabro em que está instalado o Serviço Nacional de Saúde, a única atitude séria que se poderia esperar do senhor ministro da Saúde era a sua demissão hoje, aqui e agora.”

O deputado continuou com as críticas duras ao ministro. “Se o ministro da Saúde é um mero delegado do ministro das Finanças, é porque temos um primeiro-ministro irresponsável que o permite, que assiste impávido e sorridente à destruição progressiva dos serviços”, afirmou, acusando o atual Governo de ter transformado “o Serviço Nacional de Saúde no Serviço Nacional da Doença”.

12h30 — Rui Rio: Pedir demissão “não é o meu estilo”

O presidente do PSD, Rui Rio, encontrava-se em Beja na altura deste debate, num programa de comemoração do aniversário do partido que incluía, entre outros momentos, uma visita ao hospital. Questionado pelos jornalistas que acompanhavam a visita, Rui Rio respondeu que não viu o debate parlamentar. “Não foi assim que me contaram que aconteceu“, disse Rio, quando lhe perguntaram pelo pedido de demissão.

“Os deputados do PSD perguntaram ao ministro da Saúde se ele não quer reequacionar a sua posição no Governo face ao facto de estar a dividir a gestão do Ministério da Saúde, na prática, com o ministro das Finanças. Têm saído notícias em que isso aparece muito claro”, sublinhou.

Os jornalistas ali presentes ainda insistiram na pergunta mais duas vezes. À primeira, Rui Rio disse que não é primeiro-ministro, e que “o primeiro-ministro é que tem de saber” se demite ou não um ministro. À segunda, quando questionado sobre se o PSD não poderia pedir a demissão do ministro, Rio desfez todas as dúvidas quanto à sua posição sobre o assunto, aparentemente desautorizando aquilo que Baptista Leite tinha dito de manhã: “Pode, mas não é propriamente o meu estilo“.

12h50 — Baptista Leite diz que não vê “dissonância” com Rio

Face à aparente contradição entre a posição de Baptista Leite, que apelou diretamente à demissão do ministro, e a de Rui Rio, que garantiu que pedir demissões não era o seu estilo, o Observador contactou o deputado social-democrata para saber se a posição do partido tinha sido concertada entre a bancada parlamentar e a liderança do partido.

O esclarecimento do deputado, porém, apenas adensou a confusão. Primeiro, Baptista Leite disse que o que quis dizer no Parlamento foi que “o senhor ministro tem de avaliar se tem condições para continuar”, já que não tem assumido o papel de liderança no Serviço Nacional de Saúde, deixando para o ministro das Finanças”. Questionado sobre se, sendo assim, estava a voltar atrás relativamente ao que tinha dito de manhã, Baptista Leite negou: “Reitero e subscrevo o que disse de manhã, a direção da bancada do PSD subscreve e o presidente do partido não contraria”.

Mas, confrontado com as declarações de Rui Rio sobre não ser o seu “estilo” pedir a demissão de um ministro, Baptista Leite garantiu que não vê “qualquer dissonância” entre a bancada parlamentar e o líder do partido. Isto porque, defende o deputado, o que a bancada parlamentar fez foi sugerir ao ministro que “equacionasse a demissão”. “Quando o PSD quiser fazer um pedido de demissão direta, fará.”

14h00 — Adão Silva: “Não há um pedido de demissão, insisto”

A quarta (e, para já, última) intervenção do PSD sobre este assunto foi do vice-presidente da bancada social-democrata, Adão Silva, que falou à comunicação social no Parlamento. Procurando colocar um ponto final na discussão, garantiu: “Não há um pedido de demissão, insisto. Há uma sugestão ao ministro da Saúde para que, em função das circunstâncias, repense a sua presença no Governo. Não há aquela ideia que está a perpassar na comunicação social de que o PSD pede, exige, impõe, reclama a demissão”.

“Não é, nunca foi essa a ideia. Friso mais uma vez. Perante as situações que estão a acontecer, que são inequívocas, no campo da degradação da saúde em Portugal e perante este fenómeno que hoje se conheceu num caso concreto, que tem a ver com oncologia pediátrica no Porto, em que o Ministério das Finanças se sobrepõe ao Ministério da Saúde, o que houve foi uma sugestão para que o ministro da Saúde repense muito bem o que é que está a fazer no Governo, no Ministério da Saúde, que claramente não controla”, afirmou Adão Silva.

O vice-presidente da bancada parlamentar social-democrata aproveitou para garantir que os deputados do PSD estão “plenamente sincronizados com o presidente do Partido Social Democrata”.