O primeiro-ministro abordou a polémica do Museu das Descobertas, considerando que é preciso aceitar aos bons e os maus momentos das Descobertas.

“É preciso descolonizar os Descobrimentos”, afirmou António Costa, numa entrevista ao Público, a propósito dos 20 anos da Expo’98. Uma descolonização necessária, segundo o líder socialista, porque este “processo histórico não foi unilateral — descobrimo-nos uns aos outros.”

Para Costa, os portugueses não devem “ter o complexo, mas o orgulho de conseguir tratar em Portugal aquele que foi o período da História em que indiscutivelmente demos o nosso maior contributo enquanto nação para o mundo”.

A afirmação do primeiro-ministro surge no âmbito do debate que surgiu em torno do Museu das Descobertas, que consta do programa eleitora do presidente da Câmara de Lisboa. Vários académicos insurgiram-se contra esta designação, numa carta publicada pelo Expresso, considerando que o nome do museu não só é uma “incorreção histórica” como ignora “a riqueza dos debates e da investigação internacional e nacional que tem sido feita sobre o período histórico em questão e os vocabulários que lhe estão associados”.

“Num momento em que se intensificam, em Portugal, os debates sobre a história colonial portuguesa, em que surgem grupos de afrodescendentes que querem uma história plural, em que a academia, jornalismo e sociedade civil começam a falar de forma mais crítica e mais aberta, é importante que um novo museu seja também o reflexo dessa riqueza problematizante. Encontrar um outro nome que se possa tomar como ponto de partida para refletir e para expor criticamente estes processos históricos, poderá exigir algum esforço. Mas não deixará de produzir resultados melhores do que o uso de uma expressão obsoleta, incorreta, e carregada de sentidos equívocos”, lê-se na carta.

“Quando digo que quero descolonizar é porque acho que não faz sentido hoje fazer um museu que seja a versão do século XXI da Exposição do Mundo Português. Mas acho que não temos de ter uma relação complexada, quer com aquilo que de positivo trouxeram, quer com os momentos horríveis que houve, como a escravatura, como os massacres, como todo o período da Guerra Colonial.”

Costa sublinha, contudo, que o programa de Fernando Medina não fala de um Museu das Descobertas, mas do Museu da Descoberta, e onde constaram “uma referência à escravatura”. “A descoberta contém tudo. Quer aquilo que nós descobrimos, quer aquilo que os outros descobriram em nós. Mas não fazia sentido para um país que teve sempre uma visão universalista da sua própria História ter uma leitura passadista, anacrónica, como se fosse uma Exposição do Mundo Português no século XXI.”

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