A Arábia Saudita ordenou a expulsão do embaixador canadiano do país, como reação às críticas de Otava a propósito da detenção de duas ativistas sauditas pelos direitos das mulheres. A decisão surge acompanhada de outros medidas pesadas, como a retirada do seu próprio representante do Canadá e o congelamento de todas as trocas comerciais entre os dois países.

“Consideramos o embaixador canadiano no Reino da Arábia Saudita persona non grata e ordenamos-lhe que saia nas próximas 24 horas.” O anúncio foi feito este domingo num comunicado divulgado pelo ministério dos Negócios Estrangeiros do país, onde Riade classifica os comentários do Governo canadianos a propósito da detenção das ativistas Samar Badawi e Nassima al-Sadah de “inteiramente falsos”.

As declarações dos representantes canadianos, argumenta Riade, são”uma afronta enorme e inaceitável nas leis e processo judicial do Reino [da Arábia Saudita], bem como uma violação da soberania do Reino”. Caso haja mais “interferências” de Otava, ameaça o país do Golfo, “serão interpretadas como um reconhecimento do nosso direito de interferir nos assuntos internos do Canadá”.

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A Arábia Saudita irá ainda retirar o seu próprio embaixador do Canadá e congelar todas as trocas comerciais entre os dois países — o que, de acordo com o Wall Street Journal, não afetará grandemente a economia canadiana, já que as exportações para o país representam apenas cerca de 650 milhões de euros por ano.

A decisão surge na sequência das declarações da ministério dos Negócios Estrangeiros canadiano, liderado por Chrystia Freeland, declarando-se “seriamente preocupado” com as detenções e pedindo a libertação das duas ativistas. “Instamos as autoridades sauditas a libertarem-nas imediatemente, bem como a todos os outros ativistas pacíficos pelos direitos humanos”, afirmou a diplomacia de Otava.

Uma das detidas, Samar Badawi, é uma conhecida ativista contra a lei saudita que impõe um tutor masculino a cada mulher. Badawi é também irmã do blogger Raif Badawi, atualmente a cumprir pena de prisão. Badawi, condenado por apostasia, foi ainda sujeito a várias chicotadas como pena. A sua mulher é atualmente refugiada no Canadá.

Na noite de domingo, uma porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros canadiano garantiu ao Globe and Mail que Otava está a tentar “obter clarificações relativamente ao comunicado do Reino da Arábia Saudita”. “O Canadá irá sempre defender a proteção dos direitos humanos, incluindo os direitos das mulheres, e a liberdade de expressão em todo o mundo”, reforçou.

Desde que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman chegou ao poder em junho do ano passado, a Arábia Saudita tem levado a cabo uma política de maior abertura e transformação social, decretando medidas como a reabertura de cinemas e dando autorização às mulheres para conduzir. Contudo, ao mesmo tempo, tem aumentado a detenção de ativistas e até membros da elite do país. Segundo a Human Rights Watch, desde maio que o regime tem intensificado a detenção de ativistas pelos direitos das mulheres — uma atitude que o Wall Street Journal define como uma tentativa de “enviar a mensagem de que só a monarquia pode decidir o ritmo e a escala das mudanças sociais no Reino”.

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