Antes havia o Fahrenheit 9/11. Agora há também o Fahrenheit 11/9 (um trocadilho com a data do primeiro dia de Trump como presidente eleito, 09 de novembro de 2016), o novo documentário de Michael Moore, apresentado esta quinta-feira à noite no Festival de Cinema de Toronto, no Canadá. O filme é uma espécie de sequela à crítica do realizador norte-americano a George W. Bush (ainda hoje o documentário com maior lucro de sempre) e analisa a ascensão de Donald Trump a presidente dos Estados Unidos.

No documentário são explicadas as forças que terão contribuído para a vitória eleitoral de Trump e traçados paralelos com a escalada de Hitler na Alemanha dos anos 1930. A certa altura o filme sobrepõe palavras de Trump a vídeos de comícios de Hitler enquanto um historiador fala da ascensão de homens fortes a posições de poder.

Exploramos a questão de como nos metemos nesta confusão dos diabos e como saímos dela. Ele [Trump] anda por aí há muito tempo e nós comportamo-nos de uma certa maneira durante muito tempo. Quando olhamos para trás, agora percebemos como o caminho lhe foi aberto”, disse o realizador de 64 anos.

Antes da exibição do filme, Michael Moore agradeceu aos canadianos por acolherem a estreia de Fahrenheit 11/9: “Queríamos poder dizer que fizemos pelo menos uma exibição em Toronto”, atirou, dando a entender que podia ser a primeira e última exibição do documentário. Todos os cuidados foram poucos e o realizador deu conta disso, ao sublinhar a natureza clandestina do filme. “Disse a todos os que estavam a gravar o filme que tínhamos de agir como se estivéssemos na Resistência francesa”.

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“O que queríamos transmitir com este filme é o sentimento de urgência que todos nós estamos a sentir”, continuou Moore. “Estamos a lutar para recuperar o nosso país. Quem não entenda isso vai dececionar-se amargamente com os resultados do que está prestes a acontecer nos próximos anos com Donald Trump”, acrescentou.

No filme, há muitos fatores apresentados como estando na base da ascensão de Trump: desde as suposições de que a vitória da candidata democrata, Hillary Clinton, estava ‘no papo’, até aos meios de comunicação norte-americanos e… a Gwen Stefani. Confuso? Michael Moore tem uma teoria: a campanha de Trump à Casa Branca só começou para conseguir um aumento de salário na NBC, onde integrava o programa “O Aprendiz”. Tudo porque Gwen Stefani ganhava mais do que ele como jurada do “The Voice”, no mesmo canal. Moore acredita que os filhos de Trump o incentivaram a realizar dois comícios presidenciais como forma de publicitar o seu “problema” e que o agora presidente gostou do que viu e resolveu avançar.

“Sabem, o Trump tem uma mentalidade muito retrógrada e limitada. Uma mulher ganhava mais do que ele na NBC. Foi só isso que foi preciso”, atirou Michael Moore, que garante que sofreu repercussões assim que anunciou o filme. “Mantive tudo em segredo até anunciar o filme no programa do Stephen Colbert e mostrar algumas cenas do filme. Na semana seguinte recebi uma visita do Departamento das Finanças, que me queria auditar. Nunca tinha sido alvo de uma auditoria. A graça aqui é que desde ‘Roger & Me’ que eu pago mais. Não faço deduções e dou recibos, o que significa que estou a pagar a mais. Por isso, quando for auditado, eles vão descobrir que estou a pagar mais impostos do que aqueles a que sou legalmente obrigado e vão ter de me devolver o dinheiro”, concluiu.

Depois de George W. Bush, Michael Moore aponta a câmara a Donald Trump. Vem aí mais um documentário polémico