Há quatro meses vimos chegar às lojas o primeiro jogo da Lego deste ano, The Incredibles, simultaneamente a primeira aventura relacionada com a Pixar a ser adaptada a videojogo misturada com as famosas peças de construção e a adaptação oficial dos dois filmes da família Parr. Quando o analisámos, sentimos que o nível de dedicação do estúdio que desenvolve os jogos da Lego estava apontada para o “grande” título do género do ano: Lego DC Super-Villains.

Falar de um jogo de Lego é falar de todos, já que a fórmula é a mesma há mais de dez anos: um jogo familiar em que resolvemos puzzles simples com as habilidades únicas de cada personagem, onde passamos muito tempo a destruir o cenário criativamente constituído por peças Lego. O que vai mudando de título para título são as franquias aplicadas (sendo que os super-heróis da DC levam vantagem por serem “prata da casa” da editora Warner Bros.) e os enredos mais humorísticos, polvilhados com uma grande diversidade de personagens disponíveis.

Jogo “The Incredibles” tem vilões que ninguém conhece

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Lego DC Super-Villains, como o título bem demonstra, é um jogo totalmente construído do ponto de vista dos vilões da DC Comics. No início, a Liga da Justiça (constituída pelo Batman, Superman, Wonder Woman e companhia) são exilados para outra dimensão por um grupo de vilões que são as suas cópias criminosas vindas de um mundo paralelo. À falta dos maiores heróis da Terra, são os vilões como Joker, Lex Luthor e Harley Quinn que têm de salvar o planeta desta nova ameaça.

Para além do elenco que ascende às 160 personagens, todas com uma variedade única de habilidades, o grande diferença de Lego DC Super-Villains em relação aos outros jogos da marca é o facto de podermos criar o nosso próprio protagonista. A nossa personagem tem a capacidade de ir “aprendendo” novos poderes ao longo do jogo, o que é justificado por um mito da banda desenhada DC relativamente obscuro, sobre um vilão chamado Amazo. Numa era em que as adaptações ao pequeno e grande ecrã dos super-heróis parecem dominar a linguagem em torno do género, foi uma agradável surpresa sentir que o estúdio Traveller’s Tale foi mais longe nas suas inspirações, indo até ao material original da BD.

A história principal do jogo tem 15 níveis diferentes, que nos pareceram muito mais curtos do que as missões de jogos anteriores. Há menos objetos colecionáveis em cada missão e muito menos puzzles, resultando, em geral, num jogo que parece levar menos tempo a terminar . Em comparação com Lego the Incredibles, os puzzles não parecem ser tão simplistas e a obtenção dos extras não é tão facilitada. No entanto, é impossível não sentir que o nível de complexidade e de desafio tem caído de ano para ano, infantilizando um título que não é apenas para crianças. Por outro lado, o facto de existirem dois a três jogos de Lego feitos todos os anos pelo mesmo estúdio, faz com que se comece a sentir a falta de originalidade nos quebra-cabeças apresentados. Os jogadores habituées da série resolverão as missões num ápice, sentindo que a “frescura” de outrora já há muito se perdeu.

Nos últimos dois anos temos sentido também um novo direcionamento estético para a série, com uma mistura de cenários mais detalhados e mais realistas com construções Lego. Em algumas situações essa mistura de duas linguagens distintas funciona, mas por este jogo ter muitas zonas muito escuras (como Arkham, Gotham City e Apokoplis) existe alguma confusão visual para quem está a jogar e que não consegue distinguir o que é destrutível do que é apenas cenário. Para isso contribui também os habituais problemas de câmara que sempre assombraram os jogos da Lego e que nem depois de todos estes anos continuam resolvidos.

O ponto forte de Lego DC Super-Villains, dentro de toda a repetição da série, reside na qualidade do enredo, no humor apurado dos personagens e no excelente voice acting. Muitos dos atores de Hollywood que ao longo dos anos emprestaram a voz a personagens da DC, regressam aqui ao trabalho, elevando, e muito, a qualidade de interpretação. Os maiores destaques vão mesmo para o regresso de Mark Hamill à pele de Joker, de Michael Ironside, que reinterpreta o vilão Darkseid 12 anos depois, de Tara Strong, que empresta a sua voz às “conhecidas” Harley Quinn, Batgirl e Raven, e de Kevin Conray, na sua quinquagésima interpretação de Bruce Wayne/Batman.

Lego DCSuper-Villains é mais do mesmo, mas para os fãs dos jogos da Lego isso é suficiente. Para além do mundo bem construído, com muitas partes do universo DC, e do seu excelente enredo e voice acting, não existem argumentos mecânicos de inovação que consigam convencer quem nunca gostou destes jogos a “entrar” finalmente na série. Destinado para fãs da Lego e da DC, trata-se de um ótimo título para se passar de fio a pavio com os mais pequenos, que continuam a ser um dos públicos-alvos. Mas, infelizmente, é pouco mais do que isso.

Lego DC Super-Villains está disponível para PS4, Xbox One, PC e Nintendo Switch por 59,99€.

Ricardo Correia, Rubber Chicken