Morreu a primeira mulher a fazer parte de um governo em Portugal. Nascida em Angola em 1929 e de origem indiana, Maria Teresa Cárcomo Lobo tinha 89 anos e vivia no Rio de Janeiro, Brasil. A notícia foi avançada na quinta-feira pelo embaixador Francisco Seixas da Costa e já foi confirmada pela Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).

Foi Marcello Caetano, o último chefe de Governo do Estado Novo, que, em agosto de 1970, nomeou Maria Teresa Cárcomo Lobo para o cargo de subsecretária de Estado da Saúde e Assistência, estreando, assim, a participação das mulheres no poder executivo. Teresa Lobo era licenciada em Direito e integrou o governo até novembro de 1973, quando foi feita uma remodelação governamental. Deputada à Assembleia Nacional, fez parte do conselho da presidência da Assembleia como presidente da Comissão de Saúde e Assistência e foi condecorada com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Cristo.

No dia 20 de agosto de 1970, o jornal vespertino A Capital avançou a notícia da nomeação de Maria Teresa Lobo para o Executivo de Caetano. “Uma senhora (pela primeira vez) membro do Governo” foi o título escolhido.

O vespertino “A Capital” noticiou a nomeação de Maria Teresa Cárcomo Lobo para o Governo de Marcello Caetano (imagem retirada do jornal Expresso)

Maria Teresa Lobo tomou posse no Palácio de Belém, em Lisboa (momento que pode ser visto nos arquivos da RTP) e foram muitas as suas intervenções parlamentares. Entre elas destacam-se a participação na discussão na especialidade da proposta de lei do IV Plano de Fomento, a apresentação de um requerimento que pedia informações sobre a ação do Comissariado do Governo para os Assuntos do Estado da Índia e um requerimento sobre a proteção e defesa dos animais. Por último, mas não menos importante, participou também no debate na especialidade da proposta de lei sobre transplantes de tecidos ou órgãos de pessoas vivas.

Ainda antes de chegar ao governo de Marcello Caetano, Teresa Lobo já tinha passado por Macau, onde foi docente, e por Moçambique e já tinha também chefiado o gabinete de Estudos Económicos e Financeiros do Banco Nacional Ultramarino. Depois da Revolução de Abril, Teresa Lobo acabou por se mudar para o Brasil, onde continuou a sua atividade profissional. Ali, foi juíza federal no Rio de Janeiro e, apesar de se ter aposentado em 1999, ainda desempenhou o cargo de dirigente da ACRJ até junho de 2017.

Numa mensagem publicada no Facebook, o embaixador Seixas da Costa recorda a novidade, quase “histórica”, que a nomeação de Teresa Lobo constituiu. A sua imagem, “muito da época, foi uma imagem que encheu então os jornais e a televisão, passando subliminarmente como uma “prova” da “abertura” Marcelista”, escreve Seixas da Costa. Foi com “enorme tristeza” que a ACRJ confirmou, em comunicado, a morte da antiga governante portuguesa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR