O Presidente búlgaro, Rumen Radev, saudou esta quarta-feira em Lisboa “as relações construtivas entre a Bulgária e Portugal” como um sinal para o futuro europeu, por serem dois Estados capazes de “encontrar posições comuns com base nos valores europeus”, no primeiro dia de uma visita de Estado a Portugal, a convite do seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa.

[As relações entre os dois países] são um símbolo para o futuro da Europa, uma vez que dois Estados que se encontram nas pontas da Europa conseguem trabalhar num espírito de cooperação e diálogo, para procurar encontrar posições comuns unindo-se com base nos valores europeus. Este facto dá um novo impulso às ideias europeias, um novo impulso ao seu desenvolvimento sustentável e é a nossa esperança para uma Europa forte, sólida, estável”, declarou o Presidente búlgaro

O governante búlgaro disse-se “muito contente” por ter encontrado esta quarta-feira, mais uma vez, “muitas posições semelhantes [às de Portugal] relativamente ao futuro da Europa, à estabilidade, ao Brexit, aos populismos ocidentais, ao futuro da União Europeia e às relações entre a União Europeia e a Turquia”.

“Estou muito contente por partilharmos posições muito semelhantes sobre políticas de coesão e desenvolvimento, não só porque contamos muito para a elaboração do quadro económico multilateral, mas também porque estamos a olhar para uma Europa forte no futuro”, observou.

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Num “momento complicado”, em que se assiste a “uma Europa dividida e com muitas contradições, uma Europa em que estão em ação muitas forças que pretendem dividi-la, nós estamos a dar o exemplo de que podemos unir-nos, de que somos capazes disso”, insistiu.

Sobre a política migratória da UE, o Presidente búlgaro referiu-se ao Pacote de Mobilidade 1, “que há muito pouco tempo esteve no centro de tensões na comunidade europeia”, congratulando-se, mais uma vez, por partilhar com Portugal a opinião de que a aplicação dessas medidas “terá um efeito muito negativo não só para a Bulgária, como para muitos outros países da Europa, por ser contrário à ideia de uma Europa unida”.

“Nós, em nome dos nossos cidadãos, temos de procurar encontrar soluções para estas questões, que são muito importantes para o nosso futuro, o futuro europeu”, sustentou.

A Bulgária e Portugal, enquanto países fronteiriços, estão expostos à pressão migratória e defendem a posição de que as fronteiras da Europa devem ser reforçadas e bem defendidas: temos de fazer com que a política de migração da Europa funcione – porque, neste momento, não está a funcionar – e, nesse sentido, temos de apoiar-nos em princípios muito claros, procurando um equilíbrio entre a dignidade humana e a segurança e o futuro da Europa”

Radev considerou que “devem existir centros [de triagem de migrantes], não dentro dos países, mas fora da União Europeia, onde se possa fazer as pesquisas rápidas para esclarecer se aquela pessoa que quer asilo é mesmo uma pessoa que precisa de asilo ou tem outras intenções”.

O Presidente búlgaro defendeu também que é “importante celebrar acordos de readmissão que permitam devolver pessoas”, acrescentando: “Já temos acordos com o Afeganistão, o Paquistão e com outros países”. “Temos de reforçar as possibilidades de readmissão para que possamos garantir mais segurança na Europa, melhor avaliação do risco: a Europa, se quer integrar pessoas de outros países, tem que fazer isso de forma correta, porque neste momento esse processo não está a funcionar bem, a nossa segurança ainda não está bem preservada”, reiterou.

Inquirido sobre a saída do Reino Unido da UE, o Presidente búlgaro disse que “o mais importante, no que diz respeito ao Brexit, é preservar uma posição europeia unida para a solução dos problemas”, apesar de “diferentes países terem sensibilidades diferentes”.

“Devo dizer que, como Portugal, a Bulgária tem uma grande comunidade em Inglaterra: são cerca de 200.000 pessoas que vivem e estudam lá, pessoas que contribuem muito para a economia e para o sistema social do país”, indicou.

Para cumprir “o objetivo prioritário” do seu país, “defender os direitos destas pessoas”, e perante “todos os problemas que estão a acompanhar neste momento o processo do Brexit e a falta de clareza sobre como vai ser concluído”, a Bulgária elaborou, à semelhança de muitos outros dos Vinte e Oito, entre os quais Portugal, um plano de contingência “que abrange aspetos económicos, administrativos e políticos para defender os direitos das pessoas dos dois lados: das comunidades búlgaras no Reino Unido e dos cidadãos britânicos que vivem na Bulgária”.

Os direitos destas pessoas têm de ser assegurados, porque é esse o futuro da Europa. Se não conseguirmos defender os direitos dos nossos cidadãos, então, falhámos”, observou

Apesar das dificuldades que o Reino Unido está a ter na aprovação pelo seu Parlamento do acordo de saída negociado com Bruxelas, Radev disse esperar “uma boa saída”: “É claro que temos de tomar todas as medidas necessárias para minimizar os danos para a economia”, comentou, acrescentando: “Pelo que sei, no que diz respeito a Portugal, uma saída [do Reino Unido da UE] sem acordo custaria ao país 1% a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) e seria danosa para a economia nacional”.

No final da sua intervenção, no Palácio de Belém, onde foi recebido por Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente búlgaro expressou a sua “firme convicção sobre o futuro comum” de Portugal e da Bulgária, sobre “a futura cooperação entre ambos os países em prol do futuro dos respetivos povos”.

Partilhamos a mesma visão da vida, o mesmo destino histórico: ambos os povos carregam semelhantes reviravoltas históricas, ambos os povos conseguiram encontrar forças para superar tais reviravoltas”, destacou

Rumen Radev informou ainda que “com o apoio do Estado búlgaro, a plataforma do Instituto Camões está cada vez mais popular” no seu país, o que leva a crer que “a cooperação com Portugal no âmbito da ciência, da educação e da investigação continuará a intensificar-se”.

Por fim, agradeceu o apoio concedido aos seus compatriotas “aqui em Portugal”: “São poucos, são cerca de 13.000, e graças ao apoio prestado, eles estão a evoluir aqui, estão a comprovar o seu valor enquanto cidadãos e membros da comunidade”. “Para nós, é muito importante que estas pessoas continuem a preservar a sua identidade, a sua cultura, a sua língua, pelo que agradecemos: Obrigado, senhor Presidente. Estou à sua espera na Bulgária”, concluiu.

Marcelo diz que renegociação do Brexit “não está no horizonte” e pede unidade europeia

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse esta quarta-feira que a renegociação do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia “não está no horizonte” e pediu unidade na posição europeia. O chefe de Estado falava no Palácio de Belém, em Lisboa, em resposta aos jornalistas, em declarações conjuntas com o seu homólogo búlgaro, Ruman Radev, que esta quarta-feira iniciou uma visita de Estado de dois dias a Portugal.

Questionado sobre o Brexit, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que Portugal é pela “defesa de um acordo” que foi negociado entre a União Europeia e o Governo britânico, como tem afirmado o primeiro-ministro português, António Costa. “Não está no horizonte a renegociação do acordo”, acrescentou o Presidente da República. Segundo o chefe de Estado, nesta matéria “o primeiro ponto é unidade na posição europeia, que tem existido e deve continuar a existir”.

Marcelo Rebelo de Sousa salientou também a importância da “defesa dos direitos dos portugueses que vivem no Reino Unido, em simultâneo com a salvaguarda dos direitos dos cidadãos britânicos que vivem em Portugal“. Por último, referiu-se à “preparação de um programa que, aliás, já foi anunciado pelo Governo, para uma situação de emergência, que não é a desejada, e que seria a de uma saída sem acordo”.

Na sua intervenção inicial, o Presidente da República referiu-se à Bulgária como “um país amigo, parceiro e aliado”, com quem Portugal tem “sólidas relações políticas” e cujas relações económicas bilaterais “têm amplo espaço para se desenvolver”. Portugal e a Bulgária convergem “na defesa de uma Europa mais justa, mais solidária e mais coesa” e são aliados na Aliança Atlântica, referiu.

Marcelo Rebelo de Sousa recebeu o Presidente da Bulgária, Ruman Radev, e a sua mulher, Desislava Radeva, na Praça do Império, com honras militares, e depois os dois chefes de Estado reuniram-se no Palácio de Belém. Esta quarta-feira ao final do dia, o Presidente da República oferecerá um jantar em honra do seu homólogo búlgaro no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa.