Foi uma das surpresas da grande noite de futebol americano Superbowl, o evento desportivo anual mais importante dos Estados Unidos da América. Surgiu nos ecrãs como anúncio aparentemente simpático e patriota, primeiro, defendendo os valores dos Estados Unidos da América, país onde “hoje a manhã ergue-se novamente “, onde “nunca na história houve tantas mulheres a sair para ir trabalhar” e onde “dezenas de crianças vão nascer em famílias felizes e prósperas”. Subitamente, anoiteceu — “Acorda, América. A manhã acabou” — e o anúncio patriota revelou-se afinal um teaser da próxima temporada, a terceira, da série distópica “The Handmaid’s Tale”.

O teaser, inesperado, não indica quando chegará a próxima temporada da série inspirada num romance de Margaret Atwood, que retrata a vida de servas (“handmaid’s”) da República de Gilead, o país fascista onde vive a protagonista June Osbounre, também conhecida como Offred, interpretada pela atriz Elisabeth Moss. O anúncio diz apenas que a terceira temporada chegará “em breve” — coming soon, na versão inglesa.

Não são muitas as pistas deixadas neste teaser [espécie de aperitivo audiovisual] da próxima temporada da premiada série que nos Estados Unidos da América é exibida na plataforma de streaming Hulu. Vencedora de oito prémios Emmy e dois Globos de Ouro, que distinguiram todos a primeira temporada da série de Bruce Miller — o que revela o impacto mais reduzido da segunda temporada –, “The Handmaid’s Tale” parece encaminhar-se para novos episódios sombrios e distópicos, arriscando até um retrato negros dos tempos atuais dos quais se sugere ser preciso acordar.

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Os paralelismos, contudo, não são feitos apenas entre o regime fascista de Gilead e uma espécie de cenário idílico ilusório que se vive “hoje” nos EUA — a própria ideia central do teaser, “Morning in America” (manhã na América), foi resgatada da campanha presidencial de Ronald Reagan em 1984. O slogan já tinha inspirado Margaret Atwood na desconstrução de um mundo próspero e apaziguado, levada a cabo através dos seus romances, que amplificam via ficção alguns dos traumas e problemas do presente.

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