Aeroportos, bases militares e até estádios de futebol foram convertidos em “cemitérios” de carros, depois de ter eclodido o escândalo do Dieselgate, em 2015, nos Estados Unidos da América. Obrigada a recomprar os modelos a gasóleo equipados com um sistema fraudulento de manipulação de emissões, a Volkswagen teve de retirar de circulação os TDI (anunciados na altura como sendo “Clean Diesel”) e estacioná-los em enormes descampados, espalhados por 37 locais em solo norte-americano.

Imagens de drone mostram a dimensão do Dieselgate

Porém, a intenção nunca passou por deixar todas as viaturas adulteradas ao abandono. “Estes veículos estão a ser guardados de forma temporária e a manutenção de rotina está a ser feita para que possamos garantir a operacionalidade e qualidade [dos automóveis] a longo prazo”, explicou uma porta-voz da Volkswagen, Jeannine Ginivan. Isso já está a acontecer: depois de parados, em média, cerca de dois anos, os “vilões” do Dieselgate que a Volkswagen foi obrigada a recomprar estão a regressar ao mercado. “Surpreendentemente”, a procura é tal que parecem ‘não chegar para as encomendas’, revela uma reportagem do The New York Times.

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União Europeia prepara-se para próximo Dieselgate

Além de ser obrigado a pagar mais de 25 mil milhões de dólares só nos EUA, o fabricante alemão teve de recomprar no mercado norte-americano cerca de 380 mil veículos dos 11 milhões de carros a gasóleo que tiveram de ser actualizados em todo o mundo. Estima-se que 20 mil tenham sido destruídos, mas 100 mil já estarão aptos a circular, livres do software que manipulava as emissões poluentes. O facto de terem estado parados muito tempo obrigou à substituição de alguns componentes mas, realizada essa operação de “limpeza e reabilitação”, os Volkswagen do Dieselgate estão de volta à rede de concessionários. E estes confessaram à publicação americana que têm clientes que literalmente “voam” [entre estados] para adquirir uma destas unidades.

Os norte-americanos correm em busca de um destes diesel usados exactamente pelo mesmo motivo que, antes do Dieselgate, os condutores preferiam as motorizações a gasóleo: o baixo custo de utilização face aos gasolina. Ao argumento da poupança junta-se agora uma garantia de quatro anos ou de 72 mil quilómetros e, sobretudo, um “preço-canhão” para um usado com poucos quilómetros.

Um Golf de 2015, com 60 mil quilómetros, pode agora ser adquirido por 11.500 dólares (cerca de 10.300€). Em média, os Golf, Beetle e Passat do buyback estão a ser comercializados por valores abaixo dos 12 mil dólares (cerca de 10.800€), o que está a atrair muitos compradores. Tanto mais que, entretanto, algumas marcas acabaram com o diesel nestes segmentos, como é o caso da Chevrolet. E ter um carro a gasóleo por um preço equivalente a um modelo a gasolina, ao abrigo de uma garantia equivalente à de um veículo novo, é uma oportunidade a que muitos não resistem, atraídos também pela longevidade da mecânica e pelos baixos consumos, pois mesmo depois de removido o software fraudulento, um TDI continua a ser mais “poupado” que um gasolina.

Para muitos, este é um “bom negócio”. Mas tem os dias contados: escoadas as tais 100 mil unidades, até 2020, a Volkswagen pretende encerrar a venda de carros diesel nos EUA.