O número de balcões bancários em Portugal teve uma significativa redução desde 2010, com perto de duas mil agências a encerrarem na última década, mas mantém-se acima da área do euro. Já em relação às caixas de multibanco, mais de duas mil desapareceram nos últimos 10 anos, existindo agora 11.569 caixas automáticas, segundo dados esta terça-feira divulgados pelo Banco de Portugal.

Segundo as séries longas do setor bancário português 1990-2018 esta terça-feira divulgadas, o número de balcões bancários no território nacional mais do que duplicou na década de 90, passando de um número inferior a 2.000 em 1990 para um valor em torno dos 5.300 em 2000.

Depois de alguma estabilização nos primeiros cinco anos do novo milénio, verificou-se um novo aumento nos anos seguintes, atingindo-se um valor máximo perto de 6.500 em 2010. Desde então, e em especial a partir de 2013, o número de balcões registou uma grande diminuição, situando-se ligeiramente acima de 4.000 em 2018.

Em relação às caixas multibanco, em 2008, havia 13.637 caixas automáticas, que passaram para 11.569 em 2018, ou seja, menos 2.068. O ano em que houve mais caixas multibanco foi em 2010, quando havia 14.614. Se as contas forem feitas face a esse ano, a queda até 2018 foi superior a 3.000 caixas de levantamento automático (conhecidas vulgarmente em Portugal por caixas multibanco, por esta ser a rede mais representativa no país).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em sentido contrário à queda das caixas multibanco, tem aumentado o número de terminais de pagamento automático, que eram 322.336 em 2018, mais 40 mil do que em 2010. Já face a 2000, o número de terminais de pagamento automáticos (que existem habitualmente nas lojas, que permitem pagar bens e serviços com cartão bancário) triplicou, já que nesse ano eram poucos mais do que 106 mil.

A exceção foram os anos de 2011, 2012 e 2013, em que estes terminais diminuíram, o que o Banco de Portugal relaciona com “os efeitos da crise [que] se poderão ter feito sentir no número de estabelecimentos comerciais”.

Segundo o banco central, Portugal continua acima da média da zona euro tanto no número de terminais de pagamento automático como no número de caixas multibanco, na comparação face a um milhão de habitantes.

Setor perdeu 16 mil trabalhadores

O documento destaca também que nos últimos anos, o setor viveu um contexto de “assinalável redução do número de trabalhadores”, uma vez que se em 2008 havia um total de 78.963 trabalhadores, em 2018 o valor era de 62.895 trabalhadores (menos cerca de 16 mil), mas, ainda assim, com predominância de trabalhadores “com muitos anos de experiência e de idade”.

A base de dados esta terça-feira divulgada contém informação histórica sobre o sistema bancário português, que inclui dados sobre indicadores financeiros, empréstimos a clientes e taxas de juro, recursos humanos, distribuição de agências e sistemas de pagamentos.

A tendência de diminuição do número de balcões ocorreu também na área do euro, tendo-se, no entanto, iniciado mais cedo do que em Portugal, conclui o relatório do BdP. Em termos relativos face à população, o número máximo de balcões na área do euro verificou-se em 1997 (primeiro ano disponível da série), enquanto em Portugal o valor máximo ocorreu em 2010.

Em 2018, o número de agências por milhão de habitantes cifrava-se em 405 em Portugal e 395 na área do euro.

A diferença é mais assinalável quando se leva em consideração a dimensão relativa dos respetivos setores bancários e, neste caso, Portugal aparece sempre como um dos países com mais balcões por ativo gerido. Considerando o total de ativos, apenas três países apresentam um número de balcões superior ao de Portugal (Eslovénia, Lituânia e Eslováquia), enquanto considerando a população este número é ligeiramente superior (Estónia, França, Chipre, Itália e Áustria).

O documento assinala que depois de um expressivo crescimento desde 1990, o setor está num processo de ajustamento da respetiva dimensão desde 2010. “Esta conclusão é comum olhando para três indicadores distintos: ativo total, número de balcões e de trabalhadores“, refere.

De acordo com os dados, em 2018 na área do euro, por cada mil pessoas 5,4 trabalham no setor bancário, enquanto esse número é de 4,5 em Portugal. Esta comparação altera-se, contudo, quando se considera o número de empregados em relação ao valor de ativos geridos.

Assim, num contexto da “assinalável redução do número de trabalhadores nos anos mais recentes, o setor bancário carateriza-se pela predominância de colaboradores com muitos anos de experiência e de idade”, com forte aumento da escolaridade média, refere o BdP.

Em 2018, 57% dos bancários trabalhava no setor há mais de 15 anos e 48% com uma idade superior a 48 anos (45% com idades compreendidas entre 30 e 44 anos e apenas 7% com menos de 30 anos). Em termos de educação, 63% tinha o nível superior (eram 20% em 1990), 33% o nível secundário e 4% o nível básico (eram 40% do total em 1990).

A evolução dos recursos humanos afetos à banca foi marcada por duas características assinaláveis, refere o relatório.

“Por um lado, verificou-se uma reduzida renovação dos trabalhadores. Dentro do universo das instituições pertencentes à Associação Portuguesa de Bancos, o número de colaboradores há mais de 15 anos em cada instituição quase que duplicou entre 1990 e 2018, representando no ano mais recente 57% do total de empregados afetos à atividade interna. (…) Por outro lado, verificou-se um expressivo aumento da escolaridade média“, assinala o BdP.

Em 2018, a idade média dos empregados era de 41 anos, estando este valor muito influenciado pelos grupos de maior dimensão.

Ao longo dos últimos 30 anos ocorreu uma diminuição da margem financeira do sistema bancário, num contexto de redução expressiva das taxas de juro e das margens de intermediação financeira, bem como de uma forte desaceleração do crédito. Durante vários anos essa evolução foi sendo compensada por um aumento de outros proveitos, como as comissões, e uma redução de custos. No entanto, desde 2007, e de forma mais evidente desde 2010, verificou-se uma forte diminuição dos resultados no contexto de um significativo aumento das imparidades/provisões, parcialmente revertido nos anos mais recentes.

Depois de anos de grande crescimento do crédito, a crise financeira e o ajustamento da economia portuguesa levaram a um aumento nos níveis de liquidez: o rácio entre crédito e depósitos reduziu-se de cerca de 150% em 2010 para menos de 90% em 2018. Em linha com as maiores exigências regulatórias verificou-se igualmente um expressivo aumento dos níveis de solvabilidade.

A base de dados Séries Longas — Setor Bancário Português 1990-2018 será atualizada anualmente.