Os 31 utentes que estavam num lar privado em Cavalões, Vila Nova de Famalicão, apenas com três funcionárias foram transportados este domingo para o Hospital das Forças Armadas, no Porto. Desde sexta-feira que esta instituição está sem funcionários a trabalhar, depois de oito terem testado positivo para o novo coronavírus. A ministra da Saúde, avançou que os idosos e as três funcionárias foram esta tarde testados à Covid-19, mas alertou: “Tinham de ter pensado num plano de contingência”.

“Trata-se de um lar privado onde terão sido identificados alguns doentes com Covid-19 e que estão a ser testados esta manhã. Tivemos informações do INEM, que se encontra no local a realizar a colheita de material biológico”, referiu Marta Temido em conferência de imprensa, acrescentando que este tipo de instituições tem de ter um plano de contingência para casos como este.

Rui Oliveira/Observador

Na noite deste sábado, Teresa Pedrosa, a proprietária e gerente instituição, indicou à agência Lusa que os 18 funcionários do lar estão “ou com teste positivo ou em quarentena” e, por isso, os 33 utentes estavam a ser acompanhados apenas por três pessoas: ela, a diretora técnica, que está grávida, e uma enfermeira.

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Queremos ajuda, que reintegrem os utentes ou nos arranjem pessoas para nos ajudar”, afirmou Teresa Pedrosa em declarações à Lusa, explicando que já entrou em contacto com a Segurança Social, a delegada de saúde e a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.

Segundo Teresa Pedrosa, a Segurança Social disse que “como é um lar privado, o caso tem que ser tratado com a Saúde Pública”. “A delegada de saúde disse que temos de ficar as três com eles. O que é impossível”, afirmou. O mais velho dos utentes tem 94 anos e o mais novo 55, “mas tem HIV”. “São pessoas de alto risco”, alertou.

Já a familiar de uma utente contou à Lusa que foi contactada pela direção sobre “a possibilidade de acolher em casa” a sua familiar. Mais tarde, essa possibilidade passou a certeza, com um telefonema da delegada de saúde de Vila Nova de Famalicão, a querer saber se poderia “acolher em casa” a sua familiar. “Ela disse que não encontra solução para os idosos”, contou. Entretanto, durante a noite, dois dos 33 utentes foram levados para casa por familiares, sob termo de responsabilidade, tendo ficado 31 idosos dentro deste lar.

“Tinham de ter pensado num plano de contingência”

Depois de avançar a informação de que os idosos e funcionários do lar estariam a ser testados à Covid-19 — tendo duas viaturas do INEM no local — a ministra da Saúde fez ainda um aviso durante a conferência de imprensa desta manhã: este tipo de instituições — privadas ou Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) — “têm que ter um plano de contingência”. Se não o tiverem, terá de ser encontrada uma solução dentro da comunidade.

Tinham que ter pensado num plano de contingência, porque essa informação sobre como é que deveriam preparar-se para responder a uma situação deste tipo foi disseminada há dias ou até semanas”, referiu Marta Temido. A ministra sublinhou a necessidade e importância em que cada um tenha “profissionais de segunda linha de prevenção para poder intervir, equipas a funcionar em espelho (por cada um que está a trabalhar, outro em casa, com turnos rotativos)”.

“Não podemos deixar as pessoas com base em dois colaboradores nem interná-las ou transferi-las para outros lares”, acrescentou Marta Temido, ressalvando que sabe que é “difícil e que muitas vezes as entidades não têm meios” para isto.

[Rui Fontes, presidente da Associação Amigos da Grande Idade, diz à Rádio Observador que os lares não têm material: “Já estamos a inventar desinfetantes com lixívia e máscaras com guardanapos”. E estima que se o vírus entra num lar 40% dos idosos morre. Pode ouvir aqui.]

“40% dos idosos morrem se o vírus entrar num lar”, alerta presidente da Associação Amigos da Grande Idade

Autarquia disponível para ajudar “dentro das competências”

A Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão reagiu esta manhã ao caso e disse estar a “acompanhar com preocupação” a situação, mas que o caso “é do foro da saúde, sendo responsabilidade das entidades da Saúde e da Segurança Social”. Em comunicado, a autarquia acrescenta que foram estas as entidades que reportaram o problema e que o município “tudo fez e continuará a fazer para, no âmbito das suas competências, contribuir para a melhor solução, auxiliando as entidades responsáveis”. As refeições dos utentes foram asseguradas com a ajuda de várias instituições.

“O Município sabe que as autoridades de saúde a nível concelhio e regional estão a procurar respostas, que passarão pelo reforço dos colaboradores no apoio à instituição e seus utentes, ou pela deslocação destes para outro local”, acrescentou ainda a autarquia, dizendo que “este não é o tempo para apurar causas e responsáveis”, mas que deseja que “o que está a ocorrer não se repita”.

Entretanto, fonte da autarquia confirmou ao Observador que os 31 utentes vão, ainda este domingo, para o Hospital das Forças Armadas, no Porto, e que se tratou de uma “operação entre as várias instituições, incluindo autoridades de saúde, Proteção Civil e a Câmara Municipal”.

(Artigo em atualização)