No primeiro dia da fase de mitigação, Portugal já recebeu 5 mil dos 80 mil testes ao coronavírus que encomendou e que são “os previstos para a próxima semana”. A informação foi adiantada por António Sales, secretário de Estado da Saúde, que na habitual conferência de imprensa para apresentação do boletim diário da Direção-Geral da Saúde acrescentou ainda que os 5 mil testes chegaram esta quarta-feira e que os restantes 75 mil chegarão “no início da próxima semana”.

Além de António Sales e Graça Freitas, também o médico Fernando Almeida, presidente do Instituto Ricardo Jorge, marcou presença na conferência de imprensa desta quinta-feira. A presença do médico justificou-se com as dúvidas que têm surgido relativamente à eficácia dos chamados testes rápidos e Fernando Almeida acabou por apresentar uma explicação detalhada sobre os diferentes tipos de exames disponíveis.

[Veja o essencial da conferência de imprensa diária da diretora-geral da Saúde e secretário de Estado da saúde]

Segundo o médico, além dos testes “clássicos da PCR em tempo real”, os restantes três tipos de testes “chamados rápidos” não tiveram ainda “parecer positivo do Infarmed ou do Instituto Ricardo Jorge”. “Não significa que não seja apropriado. A questão deve ser sobre a utilização do teste e em que circunstâncias. Quando queremos vigiar e fazer estudos de sequenciação e identificação do gene para diagnóstico rápido, são testes de PCR em tempo real”, esclareceu Fernando Almeida, acrescentando que esse tipo de testes poderá ser utilizado “numa fase subsequente”.

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“Só são detetados estes anticorpos entre sete a 10 dias depois da infeção. Poderão ser muito válidos para uma fase subsequente, para percebermos o nível de imunidade que a população portuguesa já tem ao novo coronavírus”, explicou, sublinhando que poderão ser utilizados, por exemplo, em “profissionais de saúde”. Graça Freitas complementou as declarações de António Sales e de Fernando Almeida com a informação de que já foram testadas em Portugal 22.257 pessoas, todas as “pessoas suspeitas”. “Além destes muitos mais fizeram testes. O que vamos fazer agora é continuar esta mesma metodologia”, concluiu.

Equipamentos de proteção individual para os profissionais de saúde serão “reforçados nas próximas semanas”

Sobre o material de proteção disponível para os profissionais de saúde, e depois de os bastonários de três ordens de saúde — Enfermeiros, Bastonários e Farmacêuticos — terem assinado uma carta conjunta dirigida a António Costa onde pediam um reforço de material, António Sales garantiu que os equipamentos de proteção individual serão “reforçados nas próximas semanas”. “Foram distribuídos cerca de 150 mil equipamentos de proteção individual pelas diferentes administrações regionais, que depois vão fazendo a sua respetiva distribuição, com equidade e proporcionalidade. Essa distribuição vai ser reforçada esta semana, de acordo com as aquisições que vamos fazendo”, disse o secretário de Estado da Saúde, que destacou ainda o papel das ordens de saúde que, nota, têm sido “inexcedíveis”.

Já Graça Freitas, questionada sobre a dificuldade que alguns doentes crónicos estão a enfrentar, por estarem impedidas de sair de casa para comprar a medicação necessária, justificou as dificuldades “pontuais” com a discrepância de tempo entre a emissão de uma norma e o tempo que os hospitais e restante estrutura demoram a adaptar-se. “O que quero dizer é que não estamos no mundo perfeito, estamos no mundo em adaptação. Entre sair a norma e serem agilizados todos os procedimentos pode haver uma décalage de dias. Esses doentes terão de ter uma solução. Os hospitais terão que fazer um esforço para cumprir a norma e arranjar soluções para poder servir os seus utentes”, explicou a diretora-geral da Saúde.

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Os medicamentos contra o ébola que “resultam” e testes para “qualquer caso suspeito”

Graça Freitas comentou ainda o uso, com sucesso, de vários medicamentos utilizados no vírus do ébola no tratamento de pessoas infetadas com Covid-19. “Tudo indica que estes medicamentos resultam”, afirmou a diretora-geral da Saúde, ressalvando que ainda não é possível “tirar conclusões”. “Os nossos profissionais de saúde estão a utilizar todo o arsenal terapêutico disponível no mercado. Alguns dos doentes que entretanto recuperam necessitaram de uma terapêutica mínima, outros de uma terapêutica mais intensiva. Essa avaliação é feita caso a caso”, acrescentou, deixando ainda uma “palavra de tranquilidade” às pessoas que “ainda vão adoecer”.

“Até aqui, as pessoas estavam habituadas a um circuito que tinha um hospital de referência para onde o SNS 24 encaminhava pessoas com sintomas. Agora, muitas pessoas vão ficar em casa e isto é um bom sinal, é sinal que têm uma patologia ligeira e que a doença provavelmente vai evoluir bem”, disse a diretora-geral da Saúde, que falou depois sobre as mudanças no circuito que foram implementadas a partir da meia-noite.

“Nesta fase de transação, as pessoas vão ter de ter confiança no circuito. Qualquer suspeito vai ter acesso a testes. Muitos doentes que estiveram no hospital, depois foram para o domicílio sabendo que, se por acaso a situação a evoluir, obviamente terão de ter outro tipo de tratamento. Quero deixar esta palavra de tranquilidade para todas as pessoas que daqui para a frente serão identificadas como positivas. Devem ficar no domicílio e em tranquilidade”, disse Graça Freitas, que sublinhou ainda que o número de óbitos atual é “pouco superior a 1%” e é “mais elevada nos grupos etários mais velhos”, dentro do que “seria expectável”.