Durante o período de confinamento e na reabertura gradual da economia, as estratégias dos vários países foram diferentes em várias áreas, entre elas a abertura (ou não) das escolas e infantários e as faixas etárias das crianças e adolescentes que regressaram aos estabelecimentos de ensino. O novo relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) diz que, com os dados disponíveis, não há prova que a reabertura de escolas tenha sido associada a aumentos significativos na transmissão comunitária.

Os relatos e publicações sobre o impacto das escolas na transmissão do vírus nem sempre são conclusivos ou coincidentes, mas o ECDC, com base na análise das cadeias de transmissão e nos dados fornecidos pelos países, não encontrou evidência de que a transmissão na comunidade tenha aumentado com a abertura das escolas. Assim como também não ficou demonstrado que o encerramento das escolas, só por si, tenha qualquer efeito no controlo da transmissão.

Os casos de surtos nas escolas são raros e a investigação mostra que a transmissão entre crianças, nos estabelecimento escolares, também é rara — nada comparável com as restantes doenças que as crianças costumam ter em contexto escolar. O que parece acontecer é que as crianças têm contacto com a doença noutros contextos, como em família, mas acabam por apresentar os primeiros sintomas na escola onde passam grande parte do dia.

Certo é que maior parte das crianças e adolescentes (até aos 18 anos) infetados com o novo coronavírus apresentam uma doença ligeira ou nem sequer chegam a apresentar sintomas. Isso não as torna imunes à doença, como alegou o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, visto que continuam a adoecer e a ser capazes de transmitir o vírus tal como um adulto. Pelo menos, até ao momento, não há nada que diga o contrário.

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Fechar as escolas não parece assim trazer benefícios para a comunidade, nem para  a própria criança, visto que mesmo que adoecesse, o mais provável era ter uma doença ligeira, conclui o ECDC. O organismo europeu continua, no entanto, a recomendar as medidas de contenção que se aplicam noutros contextos: máscaras, higienização das mãos e distanciamento social.

Já em termos de impactos negativos, as consequências têm-se acumulado e sido crescentes, como tem denunciado a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) praticamente desde o início da pandemia.

A escola tem um papel maior do que o da educação. Para muitos alunos é o único local onde têm uma refeição, onde têm acesso a cuidados de saúde ou onde são protegidos de abusos (físicos e sexuais) e de violência doméstica. A escola é também o apoio que os pais precisam para voltarem ao trabalho e colmatarem as dificuldades económicas intensificadas pela pandemia.

As crianças impedidas de frequentar a escola, especialmente entre os dois e os 10 anos, vão ter maior dificuldade na definição da identidade e no relacionamento social e podem também vir a sofrer (ou agravar) doenças mentais, como ansiedade e depressão. As crianças com necessidades educativas especiais são particularmente afetadas com a quebra do acompanhamento de proximidade, muitas vezes regredindo nas etapas de desenvolvimento alcançadas e agravando os sentimentos de isolamento.