Um percurso a ligar a todos os pormenores, uma evolução a ligar a todos os pormenores, uma primeira vitória na categoria rainha do motociclismo feita nos pormenores. Na troca do pneu da frente que não quis no início da prova mas que aproveitou da melhor forma após a bandeira vermelha, na forma como se colocou na curva inicial e na 3 logo na primeira volta após a segunda partida, na perceção que teve numa trajetória que lhe valeria o primeiro lugar no Grande Prémio da Estíria beneficiando das saídas largas de Jack Miller e Pol Espargaró. A atual situação de pandemia, não sendo um pormenor, é mais um fator que passou a ter em conta na sua vida e, ainda antes da chegada a Portugal vindo de Viena, pediu a todos os fãs para guardarem os festejos para outra ocasião.

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“As circunstâncias que vivemos atualmente não permitem celebrar como merecemos e não me permitem ter a chegada que muitos de vocês estão a organizar no aeroporto, à campeão, como vocês e eu merecemos. Por isso venho apelar a que não façam esses ajuntamentos no aeroporto. Respeitem a minha segurança para que possa continuar a dar-vos alegrias nas pistas”, pediu num vídeo divulgados nas redes sociais. As palavras foram aceites e, mal aterrou no aeroporto Humberto Delgado, deslocou-se para uma sala onde alguns jornalistas já não tiveram lugar exatamente por essas condicionantes. “No caminho para cá reconheceram-me, sobretudo quando passava por portugueses. Também não é difícil, tenho o nome na máscara”, atirou entre sorrisos, antes de dizer mais tarde que “hoje era dia de celebrar com a família que também tinha sido testada”: “As regras no MotoGP são muito apertadas, só podemos entrar no paddock com um teste negativo. Nesta altura tem de ser assim…”.

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Polo preto, postura serena, troféu em cima da mesa da sala, uma boa disposição irradiante. “Consegui dormir, sim. Ontem parecia um sonho mas vivi-o bem acordado”, referiu, antes de uma explicação sobre o porquê de ter deitado a língua de fora durante os festejos enquanto ia passando a mão pelo cabelo encharcado depois da corrida para ficar um pouco mais de pé. “Todos os parabéns foram especiais. Recebi os parabéns de pessoas de todas as áreas, daí sentir-me tão grato até porque não sabia que estava tanta a gente a ver a corrida. Acredito que, excluindo um ou outro, todos os pilotos ficaram contentes por me verem ganhar também. Já me chamaram de Einstein no paddock e achei engraçado fazer o paralelismo após ganhar. Sempre fui conhecido por ser bastante cauteloso, por não me guiar apenas pelo coração, por gostar de desenvolver as coisas, por ter muito raciocínio. Coloca algum peso mas acho que me assenta bem, não sei…”, referiu Miguel Oliveira, da Tech3 KTM.

A atenção, cuidado e estudo agora é redobrado mas é algo natural. Acho que vivemos numa época onde o respeito entre pilotos é regular. E eu gosto de ser um piloto respeitado em pista, mas é algo que se ganha por mérito”, realçou ainda, a propósito das possíveis mudanças após o primeiro triunfo.

“Não foi uma semana fácil depois do que aconteceu antes no Grande Prémio da Áustria mas houve um grande trabalho por trás, começando pela equipa. O ambiente que vivemos, era um ambiente de querermos a desforra. Pressentíamos que de uma forma ou outra o resultado iria chegar. Foi frustrante mas foi um incidente de corrida, podia ter sido evitado mas já não é discussão. Pegámos no que fizemos de positivo, ficámos com isso e usámos essa frustração e essa raiva para fazer um bom trabalho”, destacou a propósito do primeiro triunfo no MotoGP, que foi descrito também pelo próprio em determinados que de revelaram fundamentais para a conquista.

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“A troca de pneus… Olhei para o céu antes, vi nuvens, pedi para trocarem o pneu da frente, não foi bom no início, depois comecei a pegar mais na corrida mas na bandeira vermelha trocámos para o pneu que disse que não queria no início e guardámos um pneu extra traseiro. O [segundo] arranque foi ótimo, posicionei-me bem depois pela curva 3 e o resto é história. É verdade que não foi uma corrida normal mas era preciso estar lá para aproveitar. Dar uma vitória à Tech3 também é muito bom, ainda por cima num Grande Prémio especial, o 900.º, quando também eu estava a fazer o 150.º da carreira. Fez-se história em muitos aspetos. Agora ainda não sei onde é que estou mas estas coisas são para ser vividas. Nunca me agarrei a um resultado, a eterna insatisfação continua e só quando acabar a carreia é que vou olhar para trás para o que se alcançou”, salientou Miguel Oliveira que, sem colocar uma marca temporal para alcançar esse objetivo, acredita que vai chegar a campeão mundial no MotoGP.

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“Ser campeão do Mundo é um sonho mas acho que é mais um objetivo. Continuando na linha de pódios e vitórias é possível. O acumular de pontos é que conta. Estamos a viver uma situação distinta de outras épocas. Temos rondas consecutivas e é tudo muito imprevisível. O importante para alcançar qualquer título é manter a consistência”, começou por referir na conferência. “De todas as pessoas que acreditam em mim, o meu pai é o que acredita mais mas sinto-me capaz de ser campeão do mundo. Mais tarde ou mais cedo vai acontecer. Muito trabalho, muita dedicação, muita perseverança e os resultados um dia vão chegar”, assumiu mais tarde, antes de reforçar mais uma vez “o inexplicável sentimento de gratidão” por todas as mensagens que recebeu.

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Próxima prova? São Marino, daqui a três semanas. Última prova? O Grande Prémio de Portugal, que fecha o calendário de 2020 no Autódromo Internacional do Algarve. “Vai ser uma corrida incerta, não podemos testar nessa pista, e tenho essa pequena vantagem de poder conhecer a pista. Sobretudo temos de celebrar o facto de termos um grande evento em Portugal. Depois, eu, como português, quero brindar todos os portugueses com um grande espetáculo e que isso fosse conquistar a vitória, logicamente”, destacou o piloto de Almada.

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