Ficou conhecida como reunião do Infarmed, mas o regresso da reunião com os especialistas aconteceu esta segunda-feira na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. E trouxe várias mudanças: desde logo a parte expositiva dos vários especialistas, que foi transmitida integralmente através da internet ao longo de quase três horas. Já as questões levantadas pelos atores políticos (e o debate que se seguiu) ficaram quase à porta fechada — à exceção de uma intervenção de Ferro Rodrigues que, ao contrário do previsto, ainda estava a ser transmitida para os ecrãs da sala do lado, onde estava a imprensa — e pela primeira vez o Presidente da República entrou e saiu sem qualquer declaração pública.

Já António Costa respondeu aos jornalistas à entrada, mas nas declarações finais do Governo – já quase seis horas depois de ter começado a reunião – foi possível ouvir (apenas) a ministra da Saúde e o ministro da Educação, uma vez que o regresso às aulas acabou por ser o tema central da reunião.

O PS foi o primeiro a surgir frente aos microfones e com garantias que “a abertura do ano escolar está preparada ao mais ínfimo detalhe”. O secretário-geral adjunto socialista, José Luís Carneiro começou com palavras dirigidas aos pais e encarregados de educação:

“A abertura está preparada ao mais ínfimo detalhe em articulação do Ministério da Saúde com o ME, com orientações que estão disponíveis no site da DGS e DGest”, afirmou José Luís Carneiro recordando também que as “famílias e escolas” podem “alicerçar as decisões com base no quadro de orientações que está disponível”.

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Já sobre o desconfinamento geral e o retomar da normalidade possível, o socialista notou que se esperava que o RT pudesse chegar até 1,2, mas que está atualmente em 1,17. “Esperava-se um indicador de contágio de 1,2, com o desconfinamento geral, mas estamos com 1,17 em termos de indicador de contágio”, apontou, acrescentando que o modo como a pandemia tem evoluído “está sob o controlo das autoridades [de saúde]”.

Ferro e os lares de idosos. “Porque é que não se apreenderam lições da primeira fase?”

Partidos querem estratégia para transporte de alunos até às escolas

PSD, CDS e Chega querem que o Governo apresente uma estratégia para o transporte dos alunos, durante o ano letivo, entre a residência e os locais de ensino. De acordo com os representantes, será necessário criar uma estratégia, articulada com as autarquias para diminuir os contactos dos alunos nos autocarros que os transportam até às escolas.

“Não é só o que se passa na escola, mas também nos transportes”, frisou Rui Rio, do PSD, depois de esta manhã ter visitado uma escola no Porto. Pelo CDS, Francisco Rodrigues dos Santos recordou seis questões que já tinha colocado ao Governo, onde se inseria também a preocupação com a forma como os alunos serão transportados e do Chega, André Ventura apontou a entrega esta segunda-feira de um projeto de resolução com a intenção de o Governo criar uma estratégia em articulação com as autarquias.

PEV, BE e PAN querem mais profissionais nas escolas e no SNS

Entre as preocupações demonstradas, os partidos mais à esquerda continuam a bater-se pela contratação de profissionais para as áreas da saúde e educação. Bebiana Cunha, do PAN, diz que é “fundamental” que haja um reforço na área da saúde pública.

“É fundamental que o Governo proceda ao reforço de especialistas da Saúde Pública. Está comprometido com 33 profissionais, sejam médicos, enfermeiros ou até da Saúde Ambiental”, apontou a deputada Bebiana Cunha.

Do Bloco de Esquerda, Moisés Ferreira recordou o compromisso de contratação de 8.400 profissionais de saúde que estão previstos no Orçamento do Estado. “se queremos um SNS que não deixe nenhuma necessidade por atender voltamos a insistir na contratação de 8.400 profissionais previstos no Orçamento do Estado”, apontou  deputado bloquista.

Já o PEV, pela voz de Mariana Silva notou a necessidade de reforçar o número de auxiliares de educação e professores nas escolas para que todos os alunos “possam ter aulas presenciais”. “Percebemos que o nosso parque escolar não está preparado para as regras que terá de enfrentar”, apontou.

Mariana Silva abordou também a questão das consultas nos cuidados primários que continuam a ser feitas “por telefone ou ao postigo” que, diz, “não pode continuar”.

Iniciativa Liberal lamentou discurso demasiado científico para a população

Tiago Mayan Gonçalves, representante do Iniciativa Liberal, começou por lamentar o facto de o tempo da reunião que foi aberto e transmitido não ter sido feito num discurso “dirigido aos cidadãos”.

Também “o destino dado” à Stayaway Covid preocupa o Iniciativa Liberal, por não ser claro qual o destino que será dado à aplicação criada para alertar para eventuais contactos com pessoas infetadas com a Covid-19.

“A palavra que poderá definir esta reunião é dececionante. Esperamos ver mais já para a semana e as respostas e definições quanto ao que significará o Estado de Contingência para o país”, afirmou o representante do IL.

Idosos nos lares e residências continuam a ser preocupação

Maior idade é sinónimo de maior fragilidade na saúde e, desde o início da pandemia, que se sabe que os idosos são a população mais frágil e com maior taxa de letalidade no que diz respeito ao Sars-Cov-2. Volvidos seis meses desde que o vírus chegou a Portugal, à saída da reunião Marta Temido optou por destacar aquilo que já “se aprendeu” com a pandemia e os bons exemplos que Portugal tem dado no que diz respeito à testagem precoce de idosos sem sintomas, mas os partidos que falaram antes não pareceram convencidos com o que ouviram lá dentro.

PSD, BE e CDS pediram “um reforço nos lares”. “Os lares devem merecer maior vigilância por parte do Estado”, afirmou Moisés Ferreira, do BE enquanto Rui Rio, do PSD, considerou “premente” a necessidade de reforço de vigilância nas unidades para idosos.

Marta Temido disse depois que o Governo procurará “maior celeridade na resposta”. Frisando que desde o primeiro momento os lares e estruturas para idosos é uma preocupação do Governo, as “765 estruturas de retaguarda” que existiram para “apoiar a deslocalização das pessoas” dos lares e os “mais de 117 mil testes realizados”, Marta Temido diz que com os procedimentos já aprendidos se irá “procurar uma maior celeridade na resposta”.

“Optámos fazer rastreio, teste de assintomáticos, numa fase precoce. Vamos continuar a investir naquilo que são os testes feitos num período de tempo muito rápido para deteção e tratamento”, disse a ministra da Saúde.

Marta Temido mostrou-se ainda confiante na capacidade dos cuidados primários para dar resposta às necessidades da população. Uma temática abordada pela deputada do PEV, Mariana Silva, nas declarações à saída.

Para Tiago Brandão Rodrigues ficou a última declaração, para dar garantias que tudo está preparado para que os alunos regressem em segurança às salas de aula. O ministro da Educação mostrou-se confiante no trabalho efetuado por cada escola para receber os alunos no regresso presencial às aulas.

Segundo Brandão Rodrigues, as regras mais recentes vêm “clarificar qual é o papel de cada um”, das escolas aos municípios, no regresso às aulas. “Temos de continuar a trabalhar para diminuir os contactos e todos os comportamentos de risco”, notou o responsável pela Educação.

A ferramenta Estudo em Casa irá continuar e o ministro da Educação diz que “haverá novidades em breve” sobre essa ferramenta que acompanhou os alunos durante a suspensão de aulas presenciais no último ano letivo.

“O que queremos é que as crianças estejam na escola e é para isso que vamos trabalhar. Se forem interrompidas têm de ser interrompidas no menor espaço (turma ou turmas) e tempo possível”, disse Tiago Brandão Rodrigues acrescentando que o governo continua a trabalhar na digitalização da escola pública e no Estudo em Casa sobre o qual haverá “novidades em breve”.