O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou numa entrevista exibida na madrugada de desta sexta-feira que alertou o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que se não fossem tomadas medidas duras o país teria 180 mil mortes provocadas pela Covid-19.

Eu nunca falei em público que eu trabalhava com 180 mil óbitos se nós não interviéssemos, mas para ele [Bolsonaro] eu mostrei, entreguei por escrito, para que ele pudesse saber da responsabilidade dos caminhos que ele fosse optar”, declarou Mandetta, durante o programa “Conversa com Bial”, da Rede Globo.

O ex-ministro também afirmou que Bolsonaro teve uma atitude negacionista ao ser alertado dos problemas de saúde pública causados pela pandemia. “Foi realmente uma reação bem negacionista e bem raivosa (…) Eu simbolizava a notícia e ele [Bolsonaro] ficou com raiva do ‘carteiro’, ficou com raiva do Ministério da Saúde”, declarou.

O antigo ministro lança esta sexta-feira o livro “Um paciente chamado Brasil”, no qual relata bastidores da crise que levou à sua saída do governo, em abril passado.

Mandetta foi demitido por apoiar medidas de isolamento social, contrariando as orientações de Bolsonaro que sempre minimizou a pandemia de Covid-19, que chegou a chamar de “gripezinha”, e também porque não autorizou o uso da cloroquina em pacientes com a doença, outra exigência do Presidente brasileiro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Até esta sexta-feira não há comprovação científica de que a cloroquina, substância usada no tratamento de malária e lúpus, tenha eficácia contra o novo cornavírus.

Além de negar a gravidade do problema, ao longo da pandemia, o chefe de Estado brasileiro participou de protestos em apoio ao seu governo, visitou lugares públicos provocando aglomerações e desrespeitou várias vezes decretos sobre o uso de máscaras, saindo e interagindo com apoiantes sem o equipamento de proteção.

Na semana passada, o Presidente brasileiro reiterou suas críticas ao isolamento social para evitar a proliferação do novo coronavirus, ao declarar que ficar em casa durante a pandemia é para “fracos”.

Num evento realizado no estado de Mato Grosso, Bolsonaro deu os parabéns a um grupo de agricultores por “não terem entrado na conversinha mole” do isolamento social. “Vocês não pararam durante a pandemia. Vocês não entraram na conversinha mole de ficar em casa. Isso é para os fracos”, disse o chefe de Estado a produtores rurais e apoiantes.

Bolsonaro acabou contaminado em julho e recuperou da doença aparentemente sem problemas maiores.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (mais de 4,6 milhões de casos e 139.808 óbitos), depois dos Estados Unidos da América.