Trump está “muito bem”. Tão bem que pode receber alta já esta segunda-feira e regressar à Casa Branca. Foi pelo menos o que transmitiu a equipa médica do Presidente norte-americano na conferência de imprensa deste domingo com a atualização da situação clínica do presidente dos EUA. Mas o tipo de tratamento a que está a ser submetido contraria o discurso de não existir “nenhuma preocupação clínica”.

Trump está a ser tratado para a Covid-19 com dexametasona, um esteroide que a Organização Mundial de Saúde (OMS) só recomenda para casos graves de Covid-19. A dexametasona tem efeitos positivos nas pessoas que tiveram de ser colocadas a oxigénio ou estar ligadas a um ventilador, já que ajuda os doentes com dificuldades extremas em respirar, segundo indica a OMS.

OMS alerta que dexametasona só serve para casos graves

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em junho, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, admitiu mesmo que a dexametasona “pode salvar doentes em estado grave”, mas alertou que apenas deve ser administrado aos pacientes nesta situação e sob “supervisão clínica”. Kai Kupferschimdt, jornalista especialista em ciência, lembrou no Twitter que as recomendações da OMS são “muito claras” quando explicam que a dexametasona só deve ser usada em “doentes em estados graves e críticos de Covid-19”.

O uso deste medicamento — especialmente quando Trump tomou um cocktail de anticorpos REGN-COV2 e já está ao mesmo tempo a tomar remdesivir — levanta dúvidas sobre se o Presidente estará mesmo bem e se está a receber este tipo de tratamento apenas por precaução devido ao cargo que ocupa. Krutika Kuppalli, médica de doenças infeciosas da Universidade de Medicina da Carolina do Sul, também tem dúvidas. No Twitter, defendeu que o tipo de medicação que Trump está a tomar não parece o de “uma pessoa que foi admitida no centro médico Walter Reed por precaução”. “Esses são medicamentos pesados que são ​​administrados a uma pessoa que provavelmente está muito doente“, lê-se no tweet.

E a mesma especialista adverte ainda que os esteroides inibem a “capacidade do corpo de criar uma resposta febril”, pelo que “não diz nada” afirmar que Trump não tem febre quando se sabe que está a tomar dexametasona. A febre pode, simplesmente, não estar a manifestar-se devido a este medicamento.

A notícia da possibilidade de Trump regressar à Casa Branca já esta segunda-feira levanta mais dúvidas especialmente quando a equipa médica revelou que o Presidente teve dois episódios de quebra na saturação de oxigénio desde quinta-feira. À CNN, o médico Sanjay Gupta disse que, mesmo partindo apenas do cenário descrito pelos médicos no briefing deste domingo, Trump não deveria receber alta já amanhã.

Nessa conferência de imprensa, Sean Conley, o médico de Trump, disse que, embora o Presidente estivesse a sentir-se bem na noite de quinta-feira, na final da manhã de sexta-feira o seu oxigénio caiu abaixo de 94% e o Presidente apresentava febre alta — o que levou o médico a recomendar que recebesse oxigénio. Embora Trump tivesse inicialmente recusado e dito que não tinha falta dar, acabou por receber oxigénio ainda nesse dia. Já no sábado, os níveis de oxigénio ficaram abaixo dos 93% e Trump acabou mesmo por ter faltas de ar. No entanto, o médico garantiu que o chefe de Estado atualmente encontra-se “muito bem”, com níveis de oxigénio de 98% — o que faz com que não haja “nenhuma preocupação clínica”.

Um Presidente infetado a um mês das eleições. Retirado da campanha ou substituído, o que vai acontecer a Trump?

Equipa não revelou mais cedo que Trump recebeu oxigénio para “tentar refletir uma atitude otimista”

Questionado sobre por que razão não revelou logo no briefing de sábado que Trump tinha recebido oxigénio, Sean Conley disse apenas que estava a “tentar refletir uma atitude otimista da equipa”. E rematou: “O ponto aqui é que ele está a ir muito bem”. Tão bem que a equipa prevê dar-lhe alta:

O nosso plano para hoje é que ele coma e beba e saia da cama. Se ele continuar a sentir-se tão bem quanto hoje, a nossa esperança é planear dar-lhe alta já amanhã e tranferi-lo para a Casa Branca, onde ele poderá continuar o seu tratamento”.

Já na conferência de imprensa de sábado alguns comentários confusos do médico do Presidente tinham levantado algumas dúvidas. Tal como este domingo, a mensagem transmitida foi a de que Trump estava bem. Só que, no sábado após o briefing, Mark Meadows, chefe de gabinete na Casa Branca transmitiu aos jornalistas um estado de saúde bem mais alarmante.

Desde quando é que Trump sabe que está infetado? Três grandes dúvidas levantadas pelos médicos presidenciais

Este domingo, Sean Conley explicou que as declarações de Meadows foram “mal interpretadas”. “O que ele quis dizer é que há 24 horas, quando eu e ele estávamos a verificar como estava o Presidente, houve aquele episódio momentâneo de febre alta e aquela quebra temporária da saturação do oxigénio”, disse, lembrando que “felizmente, esse foi realmente um episódio isolado e muito breve” e que Trump “está bem”.

Mas o médico continua a evitar respostas claras a algumas perguntas, nomeadamente sobre os resultados dos exames que Trump fez para despistar uma pneumonia ou até se desde sexta-feira o presidente dos EUA voltou a precisar de um suplemento de oxigénio —que chegou a ter ainda antes de ser internado. O médico que está a chefiar a equipa chegou à conferência de imprensa sobre a atualização clínica de Trump sem essa resposta na ponta da língua e quando foi questionado pelos jornalista disse apenas que não tinha a certeza e que tinha de “verificar com os enfermeiros

O vídeo que expôs as contradições na Casa Branca. Foi o chefe de gabinete que desmentiu os médicos de Trump