A economia portuguesa deverá crescer 4% em 2021, menos do que os 5,5% de Espanha, antevê a consultora britânica Capital Economics numa nota de análise distribuída esta terça-feira pelos clientes e a que o Observador teve acesso. E tudo porque a retoma “meteu a marcha-atrás”: “Após uma primeira vaga relativamente suave, Portugal está agora a sofrer a pior segunda vaga em toda a Europa”, num contexto de confinamentos parciais que “fizeram pouco para travar o aumento dos casos” e, por outro lado, uma diminuição das restrições na época natalícia que “não ajudou”.

“Desde o início do ano, a situação epidémica foi de má a pior”, lamenta a consultora Capital Economics, reconhecendo que a média de novos infetados tem vindo a cair nas últimas semanas mas “continua muito elevada, tal como o número de pessoas hospitalizadas e em cuidados intensivos”.

O confinamento generalizado que acabou por ser decretado deverá fazer com que, na estimativa da Capital Economics, o Produto Interno Bruto (PIB) trimestral caia 3% entre janeiro e março – uma estimativa que se baseia na indicação de que as restrições não serão atenuadas antes que a pressão hospitalar baixe. Um dos indicadores mais importantes é uma redução do número de doentes em cuidados intensivos para um valor na ordem dos 200 (752 esta terça-feira).

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A Capital Economics acredita que, prevendo-se mais algum tempo de confinamento, “as vendas a retalho devem aguentar-se bem e alguns indicadores de confiança empresarial sugerem que a atividade estará a melhorar – porém, outros tipos de consumo, como os restaurantes, devem cair de forma acentuada”.

“A quebra na mobilidade, até ao momento, neste primeiro trimestre sugere que a quebra económica é de uma magnitude comparável à que existiu no segundo trimestre de 2020”, diz a consultora, justificando com este indicador a previsão de uma quebra de 3% no PIB trimestral em Portugal (em Espanha deverá ser uma descida de apenas 0,5%, segundo a mesma consultora).

Vacinação avança “à velocidade do caracol”

Olhando para o que resta do ano, porém, a Capital Economics diz tem algum otimismo que a vacinação “irá acelerar”, sendo que nesta altura está a avançar “à velocidade do caracol”. “A nossa estimativa é que até final de abril as pessoas mais vulneráveis já terão sido vacinadas, o que permitirá que as restrições sejam levantadas a partir de maio/junho”, diz a Capital Economics, baseando-se na “experiência do [verão do] ano passado” para acreditar que “a atividade irá recuperar rapidamente assim que as medidas mais gravosas forem levantadas”.

Tendo revisto em baixa as previsões para o crescimento no primeiro trimestre, “ainda acreditamos num crescimento robusto no segundo e no terceiro trimestres”, o que permitirá ambicionar um crescimento de 4% no PIB para a totalidade do ano, antecipa a consultora – uma previsão que está próxima daquilo que a Comissão Europeia também prevê.

Por outro lado, a Capital Economics lamenta que, para este ano de 2021, os fundos europeus apenas deverão ter “um impacto muito pequeno no PIB” (embora possam dar um impulso equivalente a 6% do PIB anual nos próximos anos). Ainda assim, “o que nos dá algum conforto é que os custos com juros da dívida têm caído e não é provável que subam tendo em conta a política expansionista do Banco Central Europeu”.