A Segurança Social está a tentar encontrar vaga num centro educativo para os dois suspeitos do homicídio de Lucas Miranda, de 15 anos, com quem a dupla estava internada num centro de acolhimento em Setúbal. Os dois rapazes, de 16 e 17 anos, foram detidos na sexta-feira pela Polícia Judiciária, mas a juíza que os ouviu determinou que voltassem à instituição de acolhimento onde viviam e que se apresentassem todos os dias à GNR. Resultado: a direção da instituição foi obrigada a mandar para casa as 16 crianças e jovens que ali tinha à sua guarda, por razões de segurança.

Quando os dois rapazes foram detidos na quinta-feira, por serem os suspeitos da violenta morte de Lucas, que ali tinha sido colocado em outubro, o telefone do Centro Jovem Tabor, em Setúbal, não parou de tocar com encarregados pais e familiares preocupados com o destino dos dois jovens detidos e com a segurança dos seus. Assim, um dia depois, quando a juíza determinou que os dois suspeitos regressassem a casa — neste caso uma instituição de acolhimento — o responsável pela instituição decidiu de imediato entregar as restantes 16 crianças às suas famílias, numa decisão tomada com a Segurança Social de Setúbal, por razões de segurança.

Nessa noite já só ficaram no Centro dois jovens: um de 18 anos que não tem família que o acolha e que vive ali; e um outro cuja mãe é motorista de longo curso e não pôde ir buscá-lo de imediato. Já na noite de sábado ficaram os dois suspeitos e estes dois rapazes, com as funcionárias que os guardavam em pânico. É que, segundo contou o presidente da Associação Tabor, Carlos de Sousa, os dois suspeitos do homicídio do jovem Lucas terão sido ameaçados de morte por telemóvel e por isso, nessa noite, muniram-se de ferros. Os outros dois, temendo pela sua integridade física, fizeram o mesmo. “Tanto os funcionários como os jovens que ali pernoitaram estavam em pânico”, descreveu Carlos de Sousa ao Observador.

Os dois suspeitos já teriam na sua ficha o registo de outros crimes, por isso foram ali colocados. Aliás, esta segunda-feira uma das funcionárias da instituição acabou mesmo por formalizar uma queixa-crime contra um deles por ameaça. “Este Termo de Identidade e Residência devia ter sido determinado para outro sítio”, acrescenta Carlos de Sousa, que reconhece que os únicos seis centros educativos (para jovens que cometem crimes) que existem no país estão cheios e sem capacidade para receber mais jovens. Assim, as instituições de acolhimento de jovens que recebem aqueles que têm problemas familiares acabam por acolher também estes casos.

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“No distrito de Setúbal há duas instituições, uma delas a nossa, que recebem estes jovens. Tenho uma mistura de jovens que vieram de famílias disfuncionais, outros por mau comportamento, uns por toxicodependência, outros com problemas mentais. Na minha opinião muitos deviam estar em casas de recuperação de toxicodependência ou em centros educativos”, diz Carlos de Sousa.

Por outro lado, os próprios profissionais da instituição estão em risco. “São na maioria mulheres e não têm formação para lidar com estas situações”, acusa Carlos de Sousa, que garante estar frequentemente a prestar-lhes apoio psicológico.

Neste momento, os 16 jovens que foram enviados para casa estão numa situação pouco comum, uma espécie de “intervalo”, como descreve Carlos Sousa, das medidas determinadas pelo tribunal e que os levaram ali. Só quando a Segurança Social encontrar uma alternativa para os suspeitos de homicídio, é que eles podem voltar.

Lucas Miranda, estudante e jogador de futebol, sofria de um problema do foro psiquiátrico e, segundo a sua mãe, depois do confinamento viu o seu estado de saúde alterar-se. A mãe pediu ajuda e ele foi internado no Centro em outubro, mas em duas semanas fugiu um par de vezes. À terceira não voltou. O seu corpo foi encontrado num poço quatro meses depois com sinais visíveis de violência. O crime aconteceu fora da propriedade da instituição. Os suspeitos foram detidos pouco mais de duas semanas depois.

Informações falsas para despistar e um crime ainda por resolver. A investigação da PJ sobre Lucas, o rapaz encontrado num poço?