O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita garante que as notícias que deram conta de uma ordem do Governo para que não interviesse no Porto, no contexto da final da Liga dos Campeões, são “insidiosas mentiras” e “infâmias”, embora admita que os grandes ajuntamentos não foram um bom exemplo.

“Temos sempre a aprender com aquilo que são as respostas a estes grandes desafios, mas queria aqui mostrar o reconhecimento do Governo pela capacidade operacional, mesmo quando são objeto de insidiosas mentiras, como foi a propalada instrução para uma não intervenção no Porto por parte de uma das unidades da PSP”, garantiu Eduardo Cabrita na intervenção inicial que fez aos deputados na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.

“Isso violaria toda a autonomia técnico-operacional. Seria, aliás, uma falta de respeito por uma força que é conhecida a nível europeu pela sua capacidade de intervenção neste domínio”, acrescentou o ministro.

Mais à frente, questionado pelo PSD sobre se essa ordem — supostamente para deixar as pessoas beber e dar um empurrão à “economia local” — tinha sido dada em Lisboa, nos festejos pelo campeonato do Sporting, Cabrita voltou a indignar-se: “O organizador foi o mesmo: a Federação Portuguesa de Futebol. A PSP adoptou a resposta adequada e é uma infâmia estar a ser porta-voz da mentira de que o ministro dá indicações técnico-operacionais sobre esta ou aquela unidade”, respondeu ao deputado Carlos Peixoto.

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“Também relativamente a Lisboa tudo é transparente: a iniciativa das celebrações foi articulada entre o Sporting e a Câmara Municipal”, referiu Cabrita, lembrando o “baixíssimo número de incidentes” para dizer que, por comparação, os festejos em Portugal correram melhor do que noutros jogos no estrangeiro.

“Ou tem azar patológico ou é masoquista”

Ainda assim, e depois de ter sido fortemente atacado pelo PSD — “Ou tem um azar patológico, ou é masoquista, ou gosta de estar na berlinda por más razões”, disse Peixoto, acusando o Governo de “convidar os ingleses para uma festa de arromba no Porto e depois querer que eles se comportem como se estivessem na missa” — Cabrita assumiu ter ficado “preocupado” com os ajuntamentos: “Naturalmente que me preocupa quando há grandes ajuntamentos. Não são bons, quaisquer que sejam. Sejam no Bairro Alto, em Albufeira, no Porto, não são um bom exemplo de saúde pública. As forças de segurança lá estão para dar a resposta adequada e contribuir para a solução”, frisou.

Os sociais-democratas atacaram também o ministro por ter apresentado “os melhores resultados de sempre em matéria de segurança interna”, ironizando: “Como é que quer mais acidentes nas estradas se os carros estavam fechados nas garagens e mais criminalidade se as pessoas estavam fechadas em casa? Esses dados que nos traz são risíveis”. Cabrita não tardou em responder: “É de facto desesperante o estado em que se encontra o PSD… vive de caso em caso, de encontro da direita em encontro da extrema-direita”, ironizou, acusando depois o partido de mostrar uma “falta de respeito” para com as forças de segurança e o país. E ainda desabafou: a área da Administração Interna é “particularmente ingrata”.

O clima hostil continuou, de resto, nas interações sobretudo com a direita: durante uma discussão sobre o SEF, Cabrita provocou o CDS dizendo já não ver “esperança” para o partido e Telmo Correia respondeu que, com o acumular de casos que envolvem a Administração Interna, da polémica das golas antifumo a Odemira passando pelos festejos futebolísticos António Costa já devia ter demitido Cabrita (ou, nas palavras de Correia, “devia tê-lo remetido ao descanso”).

Na mesma audição, o ministro disse ainda “saudar” o acordo quanto ao Zmar, que “permitiu dispensar a requisição civil”, para voltar a defender a posição do Executivo: a decisão de avançar para aquele instrumento legal, referiu, só aconteceu dada a “não cooperação” com o ministério da Economia “sobre uma estrutura de um parque de campismo em que não há proprietários, só há utentes de alvéolos”, fez questão de frisar.

Cabrita adiantou que pediu esclarecimentos ao coordenador da task force da vacinação, o vice-almirante Gouveia e Melo, sobre os motivos que levaram a que todos os polícias não tenham sido vacinados no prazo anunciado, que era final de maio.

A vacinação entre aquela classe estará nos 60% desde fevereiro e a forma como está a decorrer o processo de vacinação contra a covid-19 nas forças de segurança tem sido criticada pelos sindicatos, que alegam que muitos polícias que estiveram na linha da frente de combate à pandemia durante o estado de emergência e que continuam no trabalho operacional ainda não estão vacinados.