Os sinais de alerta estão todos lá: prevalência da variante Delta, aumento exponencial do número de novos casos, aumento do número de internamentos e pressão no acompanhamento dos contactos dos novos casos. Ainda assim, no papel, é preciso que Lisboa se mantenha acima dos 240 novos casos por 100 mil habitantes por duas semanas consecutivas para que haja um retrocesso no desconfinamento. Mas os especialistas olham o exemplo de Sesimbra — onde a autarquia pediu autorização ao Governo para implementar medidas antes de decorridas essas duas semanas — para pedir ao Executivo que tome desde já medidas para evitar que Lisboa seja o motor de uma quarta vaga no país.

Carlos Antunes, um dos especialistas da equipa que faz a modelação da evolução da doença em Portugal, frisa ao Diário de Notícias que a situação que se vive neste momento “já é muito superior à de junho do ano passado” e que “na prática” o país já está “numa quarta onda pandémica, porque já está com uma amplitude e um comprimento semelhante à onda de março do ano passado, que se estendeu até maio”. “No dia 15 de junho do ano passado o país registou 400 novos casos. No mesmo dia deste ano 973, devendo estar agora com uma média de 820 por dia”, compara o especialista. Já Carlos Robalo Cordeiro, ao mesmo diário, fala num “cocktail explosivo”: “Se o contágio continuar a aumentar da forma como está agora contamina-se o país todo”.

Ambos concordam que aguardar mais uma semana “é perder tempo”. O jornal Inevitável escreve na edição desta quarta-feira que o Governo deverá avaliar  no conselho de ministros um recuo no desconfinamento em Lisboa já esta semana.

O coordenador do Governo para a Covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo e secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, já reconheceu que “Lisboa já está acima do limite que permite recuar” e, em declarações à RTP3, frisou que caso a incidência não diminua na próxima semana poderá haver uma redução de horários aos fins de semana e feriados, por exemplo, na restauração.

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Lisboa que já ficou retida na quarta fase do desconfinamento (que começou no dia 1 de maio) poderá assim ter que regressar às regras de 19 de abril, a terceira fase. Recorde-se que só então a restauração reabriu as portas sendo permitidas quatro pessoas por mesa no interior e seis na esplanada apelas até às 22h30 em dias úteis (já no comércio o horário de encerramento era às 21horas). Nos fins de semana e feriados o comércio e restauração encerravam às 13 horas. Outra das alterações tem impacto, por exemplo, nos eventos familiares que regressariam ao limite de ocupação de 25% dos espaços.

Dos 346 doentes internados, 215 estão nos hospitais de Lisboa e Vale do Tejo

Numa altura em que o ritmo de vacinação permite cobrir a população mais vulnerável e que registou maiores taxas de mortalidade para a Covid-19, um dos fatores a ter em consideração é a pressão hospitalar. E a região de Lisboa e Vale do Tejo lidera o número de internamentos a nível nacional. Mais de 60% dos doentes a precisar de cuidados hospitalares estão nesta região, com 51 (dos 79 nacionais) internados em Unidades de Cuidados Intensivos.

Os dados foram recolhidos pelo jornal Público, que escreve ainda que a região tem um total de 289 camas em enfermarias e 73 camas de Cuidados Intensivos destinadas a doentes Covid-19 (de um total de 6.323 de enfermaria e 296 de UCI). O Centro Hospitalar Lisboa Norte (que tem os hospitais Santa Maria e Pulido Valente) abriu mais 21 camas Covid-19 na sexta-feira em enfermaria — passando a um total de 42 — estando já 26 ocupadas. No reforço da UCI, para um total de 14 camas Covid, nove estão ocupadas. Neste centro hospitalar o número de internados em enfermaria triplicou num mês: de 14 internados para 42.