Dois anos depois ainda não há qualquer decisão nos tribunais que prove que o afogamento do lusodescendente Steve Maia Caniço no rio Loire, em Nantes, numa das noites da Festa da Música resultou da ação musculada da polícia francesa. Familiares e amigos continuam a exigir justiça por Steve Maia Caniço e pontualmente são realizados desfiles ou momentos em homenagem ao jovem que morreu afogado. A esse pretexto, na sexta-feira, mais de um milhar de pessoas reuniu-se numa rave ilegal na região da Bretanha (depois de terem feito uma festa semelhante na noite de passagem do ano).

Caso de lusodescendente que morreu afogado continua a agitar França. Há novos dados sobre o telemóvel de Steve Maia Caniço

As tentativas da polícia francesa para a impedir foram-se sucedendo ao longo da noite, mas os confrontos foram inevitáveis e um dos participantes, de 22 anos, acabou gravemente ferido e “perdeu uma mão”, segundo confirmou o presidente do Departamento de Ile-et-Vilaine, Emmanuel Berthier. Mas o que aconteceu ao certo na noite de sexta-feira?

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Através dos relatos de quem tentou participar na rave organizada — como habitual — em segredo, é possível reconstituir alguns momentos chave da noite que terminou em sete horas de confrontos com a polícia francesa.

O primeiro ponto de encontro foi marcado para Redon, na fronteira de três municípios (Ille-et-Vilaine, Morbihan e Loire-Atlantique). Antecipando aquilo que podia acontecer, a autarquia de Ille-et-Vilaine já tinha na véspera emitido um despacho onde proibia qualquer reunião festiva de natureza musical e ainda a circulação de qualquer veículo com aparelhagem de som. Quem parte para estas festas ilegais vai recebendo localizações de GPS para onde se deve dirigir.

22 horas. Estacionamento Intermarché, Redon

O primeiro ‘pin’ tinha sido divulgado e, relatam os media franceses, por volta das 22horas já havia “centenas de veículos no estacionamento do Intermarché em Redon”. Quem lá chega começa a buzinar e assim conseguem reunir os interessados em participar na festa de música.

Uma hora mais tarde, já depois das 22 horas definidas para o recolher obrigatório, novo ‘pin’ de localização: a pedreira de La Gacilly. Está a pouco mais de 10 quilómetros de distância e os carros dos entusiastas desta festa ilegal começam a entupir as as estradas. Em pouco tempo a zona Oeste fica paralisada e o novo ‘pin’ é distribuído: Bains-sur-Oust e via Rieux. O ponto de encontro passa a ser o hipódromo de Redon.

Hipódromo de Redon, início dos confrontos

Numa tentativa para impedir que a festa se realizasse, a polícia francesa posicionou-se no hipódromo ainda antes da chegada dos entusiastas da música. Quatro equipas móveis tentavam impedir que os organizadores da rave ilegal instalassem o sistema de som e dispersar a multidão quando começaram a ser atingidos com cocktails molotov, segundo Jacques Ranchère vice-presidente de Redon.

Na resposta a polícia recorreu a gás lacrimongénio e a partir daí os confrontos duraram várias horas. Além de onze polícias feridos, dois dos quais transportados ao hospital, há ainda um homem de 22 anos que ficou sem uma das mãos durante os confrontos.

Ainda assim, conforme relatou o jornalista Clément Lanot no Twitter, as seis horas de confrontos com a polícia e o número de feridos não foi suficiente para impedir a rave ilegal de ter lugar. Nos vídeos partilhados é possível ver, já depois do dia ter nascido que a música foi mesmo instalada e várias dezenas de pessoas dançavam ao som.

As autoridades francesas já confirmaram a abertura de uma investigação à organização do evento onde foram detidas onze pessoas. Também o facto de um dos participantes ter ficado sem uma mão será alvo de investigação.

3 fotos

A operação para desocupar o hipódromo foi relançada na tarde de sábado, já depois das 17 horas e foi dada como terminada cerca de duas horas depois.