A diversidade dos contingentes militares que participam em operações de paz constitui um “valor adicional” para as missões, defendeu esta quarta-feira a ex-comandante da missão da UE no Sahel.

“Quanto mais diverso for o grupo, isso traz um valor adicional à missão”, disse Kirsi Henriksson, anterior chefe da Missão Civil da UE no Sahel-Níger, apontando a importância de haver “diferentes pessoas, homens e mulheres, velhos e novos“.

A militar finlandesa, que falava num seminário sobre a participação das mulheres em operações de paz, alertou contudo que há uma “divisão” entre o objetivo da missão e a realidade no terreno, pelo que é importante os militares receberem formação nos seus países de origem, sobretudo do ponto de vista do género.

Muitas vezes, explicou, os militares “estão tão ocupados com as questões práticas antes de partirem para a missão”, que “não estão muito abertos a receber informação sobre a integração de género“, mas esta torna-se “relevante quando chegam à zona da missão”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Gordana Garasic, anterior assessora de Género na Força Internacional da NATO no Afeganistão (ISAF), sublinhou por seu turno que mulheres e homens devem receber o mesmo treino militar para terem “oportunidades iguais” e serem igualmente “capazes de realizar a missão”. Quando isso não ocorre, considerou a militar croata, há “discriminação desde o início”.

Gordana Garasic frisou por outro lado que não basta ter um certo número de mulheres ou homens nas missões para se poder dizer que se implementou a perspetiva de género, considerando que “é muito importante que posições e que funções essas pessoas têm e como nos relacionamos com elas”.

Igualmente importante, prosseguiu, é a necessidade de “mudar mentalidades“, o que muitas vezes é mais fácil em missões externas do que a nível nacional, em que é preciso quebrar uma “cultura organizacional”.

No mesmo seminário, o major-general Franco Federici, comandante da Missão da NATO no Kosovo (KFOR), defendeu que a perspetiva de género implica “reconhecer se uma situação ou operação afetará homens e mulheres de forma diferente devido às diferentes regras que ambos têm na sociedade”. O militar italiano sublinhou ainda que a perspetiva de género constitui um “multiplicador de forças“, que “beneficia tanto a população local quanto a operação”.

Intervindo na mesma sessão, o brigadeiro-general Paulo Neves de Abreu, comandante da Missão de Treino da UE na República Centro-Africana (EUTM RCA) admitiu “obstáculos culturais, psicológicos e sociais que diminuem a participação das mulheres em todos os níveis das forças militares” e realçou a importância de iniciativas para promover a participação das mulheres.

“Publicações nas redes sociais são um exemplo, pois mostram a diversidade entre homens e mulheres de diferentes nações” e “as mulheres em uniformes ou como decisoras políticas“, apontou. O seminário “Promoção da Participação Plena das Mulheres em Operações de Paz” foi organizado pelo Ministério da Defesa Nacional, no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da UE.