Como o próprio assumiu ao Observador, em conversa a propósito da importância das Casas na campanha pela liderança do Benfica, “não foram tempos fáceis”. Numa semana Rui Costa estava em Itália a negociar a contratação de João Mário com o Inter, na seguinte encontrava-se em reuniões de emergência da Direção após a detenção de Luís Filipe Vieira para assumir de forma interina a liderança do clube até fechar uma série de processos, promover a demissão em bloco e sufragar a sua condição. Ganhou, a todos os níveis.

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Ganhou quando conseguiu fechar o mercado, blindar o futebol do ruído externo, assegurar a entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões e começar da melhor forma a temporada. Ganhou quando, mesmo entre dificuldades, a SAD fechou o empréstimo obrigacionista com os 35 milhões de euros pretendidos. Ganhou quando assegurou um damage control perante os parceiros mais relevantes depois de tudo o que a detenção de Luís Filipe Vieira gerou na imagem do clube. Ganhou, agora, com uma votação expressiva, naquelas que foram as eleições mais concorridas de sempre do clube, com mais de 40.000 votantes, e a segunda a nível mundial apenas superada pelo último sufrágio do Barcelona (cerca de 55.000).

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Rui Costa entrou no top 4 das vitórias mais expressivas com mais do que uma lista a sufrágio depois de um período particularmente conturbado da vida institucional do Benfica. Sem nunca o ter manifestado de forma expressa, era desta forma que o novo presidente queria ganhar por forma a ficar mais perto daquela que para si seria a grande vitória deste ato eleitoral além da participação massiva de associados: virar a páginas de uma era Vieira, unir o clube e estabilizar o projeto de quatro anos, com dez grandes desafios nos próximos tempos entre outras questões que irão surgir de forma mais breve (como possíveis vendas de partes do capital social da SAD que não pertencem ao clube) e a médio prazo (como o posicionamento do Benfica perante o caminho a passos largos para a centralização dos direitos televisivos.

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A importância dos resultados no futebol para tudo o resto andar para a frente

O Benfica terminou a última temporada sem títulos oito anos depois, na sequência de um investimento de 100 milhões de euros em contratações numa época que já se sabia estar “mutilada” pela ausência na fase de grupos da Liga dos Campeões. Em 2021/22, a realidade inicial está a ser bem diferente, com a liderança no Campeonato apesar da recente derrota com o Portimonense e quatro pontos em dois jogos na Champions, incluindo um 3-0 ao Barcelona. O sucesso no futebol é uma pedra chave para o resto do projeto de Rui Costa, com essa certeza de que parte da união que reclama e que sabe que será muito importante para o clube nos próximos tempos entroncará de forma inevitável nos títulos que a equipa ganhar.

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A afirmação europeia tantas vezes prometida mas ainda adiada

Luís Filipe Vieira foi falando quase ciclicamente do peso europeu do futebol do Benfica mas foi falhando essa ambição em campo com duas finais europeias mas da Liga Europa (2013 e 2014) entre algumas eliminações na fase de grupos da Champions. Esse foi um dos pontos mais falados por Rui Costa na parte desportiva. Mesmo que sem promessas, e recordando sempre o atual cenário do que é o futebol europeu, o novo presidente destacou a importância de ter um Benfica com outra presença nas competições externas. Esse é outro dos pontos importantes do projeto idealizado para o mandato de quatro anos, seja por uma questão financeira, seja por uma questão de prestígio, seja por uma questão da própria “retenção” dos talentos saídos do Benfica Campus. E a atual temporada poderá ser o início desse caminho.

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A procura de novas receitas depois de um (raro) ano com as contas negativas

Depois de sete temporadas sempre com as contas positivas e a bater recordes em alguns exercícios a nível de receitas operacionais e mais valias com alienação de passes, a SAD fechou com prejuízo em 2020/21 à semelhança do que aconteceu com o clube. A ausência da Liga dos Campeões, a pandemia e a ausência de público nos estádios foram algumas das justificações apresentadas, e que deixam de vigorar para o atual exercício, o que faz com que exista outro cenário já em 2021/22. No entanto, e neste âmbito, o Benfica continua a procurar novas receitas que possam potenciar a marca e as contas do clube, que não deverão chegar através de venda de capital social da SAD mas sim de outras formas como o naming do Estádio da Luz e/ou do Benfica Campus, que está desde mbenfarço a ser trabalhado pela WME Sports.

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Como conseguir a união que se perdeu nos últimos anos

Poderiam existir algumas vozes críticas a Luís Filipe Vieira sobretudo no quinto mandato mas nunca foram suficientemente “audíveis” nem tiveram grande expressão no plano público. Nas eleições de 2020, João Noronha Lopes e os quase 35% que conseguiu mostrou que existia uma linha com peso em busca de uma mudança para o clube. Agora, por várias razões a começar pela saída de cena de Vieira, Rui Costa tem condições para garantir uma união que na sombra o antecessor já tinha perdido mas também sabe que os primeiros tempos na liderança serão fundamentais para “convencer” aqueles que ainda o olham como uma continuidade do vieirismo e retomar o caminho de uma liderança presidencialista e aglutinadora. A forma como os resultados da auditoria forense serão apresentados também poderá ter influência.

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Os casos de Justiça que se tornaram tema deixarão de o ser sem Vieira?

Um dos pontos que foi motivando mais críticas e pedidos de mudança no rumo que o clube estava a levar passou de forma inevitável pelos casos de Justiça que, de forma direta ou indireta, foram sendo “colados” ao Benfica, mas também é verdade que esses mesmos casos ou foram deixando o clube de fora, como aconteceu por exemplo no processo e-toupeira, ou permanecem ainda em investigação, caso levem a esse cenário. A única acusação concreta que existe nesta fase prende-se com um alegado desvio de 2,5 milhões de euros do Benfica por parte de Luís Filipe Vieira na transferência de três jogadores e num esquema com o agente Bruno Macedo. Afastar o Benfica de tudo o que não tenha a ver com a esfera desportiva é um dos objetivos de Rui Costa mas sobra a dúvida se bastará a saída recente de Vieira para isso acontecer.

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Virar a página de uma era Vieira (com tudo aquilo que isso significa)

A aparição de Luís Filipe Vieira este sábado no Pavilhão da Luz, três meses depois da operação Cartão Vermelho, encerrava uma série de dúvidas. Iria falar? Iria defender-se dos processos? Iria dizer algo sobre a realidade do Benfica? Resposta: sim, sim e sim. Aquilo que a figura que liderou os destinos do clube da Luz ao longo de quase duas décadas fez foi a preparação de um regresso ao quotidiano encarnado, com essa promessa de que vai falar para “dizer tudo” aos associados. Vieira fez questão de dizer que olhando para o Estádio, para o Benfica Campus e para tudo aquilo que é hoje o Benfica está um reflexo do que fez (utilizou mesmo a frase “Ainda não consegui acabar aquilo que pensei” na entrevista à BTV) mas o clube entra com Rui Costa num novo ciclo onde Vieira será recordado pelo que realizou no passado. Essa divisão, qualquer que seja a postura do ex-líder no futuro, reforçará o mandato do novo presidente.

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Resolver a questão do Cartão do Adepto em vésperas de lançamento do Red Pass

Rui Costa levantou o assunto em quase todas as intervenções que teve nas Casas do Benfica e voltou a falar nisso no debate com Francisco Benítez, explicando a pertinência do assunto em véspera de lançamento do Red Pass, o bilhete de época para o Estádio da Luz que estará à venda a partir de dia 21, após a receção ao Bayern para a Liga dos Campeões. “Esse maldito Cartão do Adepto está a impedir-nos de lançar até antes o Red Pass. Os adeptos estiveram fora dos recintos durante um ano e meio, agora têm de estar é dentro dos estádios”, salientou, entre o anúncio de conversas com Federação, Liga e Autoridade para a Prevenção e Combate da Violência no Desporto. Foi num desses encontros recentes com a APCDV que chegou a acordo para reduzir as zonas fechadas a isso a 50% mas o problema permanece e sem solução.

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Garantir a estabilidade financeira das Casas no período pós-Covid

Ao longo da campanha, Rui Costa foi percebendo (ou reforçando) a importância das Casas do Benfica para o clube mas ficou também a conhecer uma realidade que talvez não conhecesse de forma tão profunda e que tem a ver com o impacto financeiro que todas sofreram durante a pandemia, tendo em conta que a larga maioria tem como fontes de receita estabelecimentos como cafés ou restaurantes que estiveram fechados nesse período. O novo presidente já tem ideias para poder ajudar nessa recuperação de todas as Casas e, posteriormente, para a consolidação desse projeto pela importância que tem não só na vida que confere ao clube mas também na própria orgânica a nível macro do clube em termos nacionais.

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Poderá haver espaço para uma reforma estatutária que aglutine mais pessoas?

Apesar das críticas feitas por Francisco Benitez no debate entre ambos na BTV a propósito da aprovação do Regulamento Eleitoral, dizendo que Rui Costa tinha sido mais “obrigado” a aceitar pelo que se passara na Assemblei Geral Extraordinária do que propriamente mostrado vontade em chegar a um acordo, o novo presidente foi pautando a sua conduta pela abertura e pelo diálogo, tendo por isso aceitado o primeiro debate mais de duas décadas depois e elogiado o acompanhamento das eleições pelo canal do clube. Rui Costa tem numa primeira fase pontos mais importantes para resolver mas sabe que a capacidade de juntar os movimentos de oposição que têm maior expressão nas reuniões magnas do clube é um garante para a estabilização mais célere do Benfica. Nesse sentido, a reforma estatutária é um dos temas.

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Uma aposta forte numa nova era para as modalidades de pavilhão

Durante os últimos três meses, e entre vários “fogos” que foi tentando resolver em áreas que não eram as suas, Rui Costa trabalhou com Fernando Tavares na construção de plantéis e planificação da temporada das modalidades de alta competição de pavilhão (quer o desporto feminino, quer o Projeto Olímpico estão num plano estável, vencedor e com condições para irem crescendo). O novo presidente sempre foi uma presença assídua sobretudo nas grandes decisões entre maio e junho e sabe da importância que os sócios com voz mais ativa no plano interno (não em termos públicos mas nas Assembleias Gerais) conferem a esses títulos, sendo uma aposta pessoal a recuperação de uma temporada que ficou muito aquém – e foi nesse sentido que foram feitas várias alterações em jogadores e equipas técnicas à exceção do voleibol.

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