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FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

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A emoção de Pedro ao ver o Maestro, a folha dos tópicos e "uma injeção de força" em tempos difíceis. Um dia na campanha de Rui Costa

Demora mais em autógrafos e selfies do que a discursar. Anda de fato sem gravata, leva um papel com notas. Comove e fica comovido com crianças. "Nas Casas esquecia os problemas", admite ao Observador.

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Eh pá, o Zuckerberg já perdeu cinco mil milhões só com esta brincadeira”. O momento ia ser de contacto presencial com um presidente interino e candidato à liderança do Benfica mas aquilo de que se falava à porta do Centro Nacional de Exposições de Santarém era sobretudo do “apagão” no Facebook, no WhatsApp e no Instagram. Mais à frente, no parque de estacionamento, os dois mais novos brincavam. De um lado para o outro, a ziguezaguearem sem telefone, de camisolas vermelhas do Benfica com “Maestro” nas costas a andarem entre os carros ali parados em frente. Domingos Almeida Lima, vice também ele demissionário e recandidato ao cargo, olhava para o telefone até receber a SMS que aguardava e que chegou com cerca de 15 minutos de atraso. “Olha, vem aí. É ele”, atirou enquanto organizava elementos da Casa do clube local e ia ajeitando a gravata. “Andem, meninos, cheguem-se à frente”, ouviu-se. Rui Costa acabara de chegar.

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Pedro, de nove anos, perdeu a vergonha e colocou-se no caminho até à rampa que dava acesso à entrada. De fato mas já sem gravata, o líder interino dos encarnados rasgou de imediato um sorriso largo. “Então, está tudo bem?”, atirou. A criança não aguentou, abraçou-o e começou num choro compulsivo.

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– Oh, oh… Então? Está tudo bem, eu estou aqui… Não é preciso ficares assim, eu estou aqui…

Rui Costa passava a mão pela cabeça de Pedro tentando acalmar todo aquele nervosismo que traíra o fã no momento de conhecer o seu ídolo. Como nem assim as coisas voltaram ao normal, e percebendo que toda a gente estava a olhar (ou a admirar) aquele momento, o Maestro, como ficou conhecido quando era jogador, assumiu a batuta daquele outro jogo, agarrou na criança ao colo e andou a passear um par de minutos com ela pelo parque de estacionamento, longe de todo o burburinho que se tinha criado e sempre a falar baixinho ao ouvido. “Ele é mesmo assim. Aquele não é o presidente nem o candidato, é o pai que adora crianças”, explicaria mais tarde à mesa Hugo Costa, filho mais novo de Rui Costa, a Hélder Domingos, pai de Pedro e vice-presidente da Casa do Benfica de Santarém, depois de comentarem o que se tinha passado uns minutos antes lá fora na estrada do espaço.

– Pronto, agora já está tudo bem, não é? Anda cá para assinar a tua camisola…

Beatriz, irmã de Pedro um ano mais velha, olhava para o irmão a secar ainda as lágrimas e também ela não aguentou a emoção enquanto era consolada por Domingos Almeida Lima. Rui Costa sorriu e deu-lhe um beijo na cabeça. “Agora está tudo bem, também vou assinar a tua camisola”. A falta de luz naquela zona e a própria caneta fizeram com que demorasse um pouco mais de tempo, mas a promessa foi cumprida e a parte de trás da camisola que dizia “Maestro” nas costas em sua homenagem já ia para o interior da sala com a mensagem “Para o Pedro, com um abraço do Rui Costa”. Se já tinha chegado sorridente ao Centro Nacional de Exposições de Santarém, existia agora um suplemento extra de orgulho em todos os cumprimentos que foi deixando a quem estava naquela receção ao candidato. Incluindo o pai de Pedro.

Depois de ter visto as lágrimas do irmão Pedro ao ver Rui Costa, também a irmã Beatriz não resistiu ao ver o "Maestro"

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Enquanto Rui Costa ia passeando com o seu filho ao colo, Hélder Domingos recebia os parabéns de amigos e colegas de direção da Casa dos encarnados pela “grande educação” que tinha dado; mais tarde, quando já estava na parte dos autógrafos na camisola, puxou do telemóvel para filmar um momento para mais tarde recordar. “Ele é um bocadinho chorão, ontem à noite já me tinha dito que não sabia se ia aguentar quando o visse. Ainda expliquei que era bom, que tinha de ficar satisfeito, mas ele é mesmo assim, uma criança emocional”, explicou em conversa com o Observador. “Ele adora o Rui Costa e outros jogadores antigos que nunca viu jogar. Diz que aqueles é que são os jogadores a sério, os jogadores que sentiam a camisola, e vê vídeos deles no Youtube durante horas. E não fui eu que lhe disse nada disso, foi ele que com o tempo foi formando essa ideia. A atitude que ele teve com o Pedro… Não há palavras”, acrescentou.

"Ele adora o Rui Costa e outros jogadores antigos que nunca viu jogar. Diz que aqueles é que são os jogadores a sério, os jogadores que sentiam a camisola, e vê vídeos deles no Youtube durante horas. E não fui eu que lhe disse nada disso, foi ele que com o tempo foi formando essa ideia. A atitude que ele teve com o Pedro... Não há palavras", explicou Hélder Domingos, pai de Pedro e Beatriz.

– Então, boa noite!

“Ben-fi-ca! Ben-fi-ca! Ben-fi-ca!”, ouvia-se na sala enquanto Rui Costa agradecia de mão direita levantada. As 16 mesas redondas para dez pessoas além da principal onde ficaria o candidato já estavam praticamente cheias, quase como se houvesse um protocolo institucional para o momento. Ali, mais do que em qualquer outra ação de norte a sul do país, Rui Costa contava com várias figuras candidatas também aos órgãos sociais nas eleições deste sábado, como Domingos Almeida Lima, Luís Mendes, Manuel de Brito, José Gandarez ou Jaime Antunes. Além deles, Braz Frade estava numa mesa próxima, o carismático (taxista) Jorge Máximo um pouco mais à frente. Numa primeira instância Rui Costa foi apenas acenando, depois começou a cumprimentar as pessoas de forma individual, a seguir fez o caminho por toda a sala – sempre com Pedro e Beatriz por perto, até quando todo o pessoal da cozinha saiu para tirar uma fotografia de grupo com o protagonista da noite.

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O “elefante na sala” que não ocupa espaço, a Casa 2.0 e a folha que não foi ao debate

O “gelo” começava a ser quebrado e ainda houve algumas fotografias e selfies além dos cumprimentos da ordem nesse momento. O dia de Rui Costa tinha começado com “agenda do presidente”, após a derrota na Luz com o Portimonense antes da paragem para os compromissos das seleções, e teve depois à tarde a entrevista na BTV (aí com a gravata vermelha que tirou entretanto durante a viagem de cerca de uma hora, no início parada por um pequeno acidente na autoestrada à saída de Lisboa) que passaria à noite, durante esse jantar em Santarém. Se não fossem esses atrasos, e tendo em conta que era a única ação do dia, o candidato passaria antes de forma informal e rápida pela rua Serpa Pinto, onde fica atualmente a Casa do Benfica daquela cidade. A essa hora, tudo estava vazio, sobrando um café com posters de equipas campeãs dos encarnados um par de números mais à frente. Tudo estava já concentrado no CNEMA de Santarém.

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Uma sopa de legumes, um pastel de carne acompanhado por batatas no forno, uma mousse de chocolate numa pequena tigela de barro, um cigarro enquanto se apanha ar. Em todos os espaços ligados ao universo Benfica existe nos últimos três meses uma espécie de “elefante na sala” chamado Luís Filipe Vieira. Ali não é exceção. No entanto, surge um dado curioso nas conversas que vamos ouvindo (e que, pelo menos numa mesa, teve tanto ou mais de política e resultados autárquicos do que de Benfica): o antigo presidente é referido sem qualquer ligação ao facto de se ter demitido, de não estar no clube ou de ter entrado na lista de arguidos da operação Cartão Vermelho – onde num ponto é suspeito de ter desviado, num esquema com o agente Bruno Macedo, um total de 2,5 milhões de euros do clube em três transferências de jogadores.

Depois de assinar as camisolas de Pedro e Beatriz, Rui Costa chegou ao jantar com a Casa do Benfica de Santarém que contou com quase 200 pessoas

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“Não, isso foi quando cá esteve o Vieira” ou “O Vieira é que começou com isso da nova Casa” são frases que se ouvem durante o jantar entre benfiquistas, que aproveitam o momento para colocar a conversa em dia enquanto se aguarda pelo discurso da praxe. De forma indireta, e para quem conhece a realidade local, o antigo líder ficará para sempre ligado ao universo encarnado em Santarém por ter sido ali feita a escolha da Direção para implementar o primeiro projeto de Casa do Benfica 2.0 nos edifícios localizados no Jardim da Liberdade. Aliás, faz na próxima semana um ano que Vieira esteve no Teatro Sá da Bandeira, numa sessão de esclarecimento durante a campanha, explicando que a pandemia atrasou o lançamento dessa ideia pioneira que terá um investimento de um milhão de euros e criará 40 postos de trabalho.

– Força, grande presidente!
– Ainda não, ainda não…
– Mas vai ser e vai ser mesmo!

Rui Costa encontra-se numa mesa colocada de forma propositada perto do local onde um funcionário foi pondo música ao longo da noite. Ali, ao contrário do que aconteceria mais tarde por exemplo no debate da BTV com Francisco Benítez, tem uma folha com alguns tópicos que resumem todas as mensagens que foi dizendo de forma repetida pelas várias Casas do Benfica por onde foi passando. Uma folha e um copo de água, que no final do discurso já terá menos de metade. Chegava o momento principal da noite que, afinal, acabaria por ser quase secundário perante um outro “evento” espontâneo que encheria mais a sala.

"Quero dizer que não há nada que seja mais importante para mim do que servir os sócios e os adeptos do clube. Aperceber-me de quanto Benfica há pelo mundo, que às vezes até é algo que nós próprios desconhecemos, a paixão que existe pelo clube... Vou estar aqui para servir todos os sócios e os adeptos do Benfica, é um compromisso", começou por destacar Rui Costa no discurso da praxe.

“É bom estar no meio da família benfiquista, é aqui que me sinto bem. Queria agradecer ao Luís Santos, presidente da Casa do Benfica de Santarém que me apoiou desde início. E queria também fazer aqui já uma homenagem a alguém que está há 42 anos na Casa do Benfica de Santarém, o senhor Álvaro Gaivoto. 42 anos, quase tantos como eu de vida… Isto é o Benfica”, começou por dizer antes de ser interrompido pela primeira salva de palmas pedida pelo próprio Rui Costa. “Quero dizer que não há nada que seja mais importante para mim do que servir os sócios e os adeptos do clube. Aperceber-me de quanto Benfica há pelo mundo, que às vezes até é algo que nós próprios desconhecemos, a paixão que existe pelo clube… Vou estar aqui para servir todos os sócios e os adeptos do Benfica, é um compromisso”, reforçou.

– As Casas crescem cada vez mais, são as grandes embaixadas que nós temos e aqui em Santarém teremos a primeira Casa 2.0, que irá promover o reforço da marca, iniciar o processo de modernização de todas as restantes e fazer a inclusão com novos empregos. Ficaria muito orgulho se a inaugurasse…

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“Servir o Benfica, servir os sócios e adeptos, é dar vitórias. O Benfica lidera todo o desporto nacional, não só no futebol mas nas modalidades e no Projeto Olímpico. Tendo um Projeto Olímpico, não faz sentido que o Benfica não seja o mais representado nos Jogos. Depois, a aposta na formação. Basta olhar para todos os grandes craques que saíram do Benfica Campus e estão nos melhores clubes da Europa. Nunca poderemos prescindir deste diamante. Queremos formar mais e formar melhor. Não temos obrigações de colocar lá jogadores, queremos é formar para que possam chegar lá. Somos o único clube com dez equipas, cinco masculinas e cinco masculinas, e queremos ganhar nas dez e no futebol feminino, um projeto que nasceu forte, à Benfica. Em breve, todas as equipas da Liga dos Campeões terão de ter uma equipa feminina também e nós já lá estamos à frente”, prosseguiu, entre aplausos aproveitados para beber água.

Rui Costa cumprimentou todos os presentes no jantar, com especial destaque para Hugo, o filho mais novo, tirou uma fotografia com todo o pessoal de cozinha e discursou após o jantar

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“Acredito num Benfica democrático e num Benfica de rigor. Nunca conquistei nada a pisar quem quer que fosse e jamais poderia estar onde estou hoje se não desse a máxima liberdade para tudo. Por isso, e quem quer que seja que ganhe as eleições, deixo um pedido: que os benfiquistas se unam de vez, que acabe de vez a discussão que tem existido”, voltou a pedir, numa outra ideia transversal a todas as Casas por onde passa.

– Vocês são os maiores em tudo…
– Tu é que és o maior em tudo, Maestro!
– Não, isso foi lá atrás…

“Estaremos na batalha do Cartão do Adepto. Estivemos um ano e meio sem adeptos, a diferença como se vê agora foi grande. Tirarem os adeptos dos estádios? Não, devolvam os adeptos aos estádios! Outro ponto: as glórias do Benfica têm de estar sempre no clube e eu sinto-me assim porque nada me conseguirá encher mais de orgulho do que ter vestido o manto sagrado, a camisola do Benfica. Queremos também melhorar nas infraestruturas. Só não temos uma coisa em relação aos outros: comparação”, atirou para gáudio da plateia. “Começamos a ficar curtos e temos projetos para continuar a evoluir como fazer crescer o Benfica Campus e fazer uma Cidade Desportiva ou uma Aldeia Olímpica. Há muitas equipas que treinam por Lisboa por não haver espaço, mas queremos que tenham casa própria, queremos que todas as equipas treinem num espaço que tenha lá à vista Sport Lisboa e Benfica”, continuou no discurso.

Só mesmo no final houve lugar a algum improviso, por forma a interagir também com a assistência. “Mas há mais uma coisa… Agradecendo sempre o colosso que está ali e a obra enorme que fizeram no Estádio, falta ali qualquer coisa, não acham? Gostam mais por dentro ou por fora?”, questionou. “É preciso melhorar por fora, falta uma mancha vermelha”, atirou Jorge Máximo. “Por dentro haverá poucos que sejam melhores do que o nosso mas mesmo tendo de modernizar em algumas áreas nunca teve a mesma beleza e é preciso dar a mesma imponência por fora”, assumiu Rui Costa, que até mora perto da Luz.

Antes e depois do jantar, todos tentaram (e conseguiram) uma fotografia ou uma selfie com o líder interino e candidato à presidência

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O ex-jogador, glória, líder interino e candidato que é sobretudo benfiquista

Em condições normais, neste tipo de ações ou encontros nas Casas do Benfica, o discurso do interveniente principal constitui quase um fim de cerimónia (um bom nome para o evento porque se percebe o cuidado que muitos dos presentes têm em apresentar-se da melhor forma possível). Neste caso, como aconteceu noutras Casas, foi apenas a ponte para aquilo que se seguiria e que se calhar era mais aguardado. Rui Costa é candidato à liderança dos encarnados, assume nesta fase de forma interina o comando do clube, mas é muito mais do que isso. É o ex-jogador da camisola 10, é a antiga glória, é o homem do futebol. Junta o que mais ninguém naquela posição conseguiu alguma vez ter. Por essa razão, tudo muda.

A mesa onde tinha a folha com tópicos para o discurso e o copo com água (que entretanto é reabastecido) torna-se o palco para uma improvisada sessão de autógrafos e fotografias. Cinco minutos, dez minutos, 15 minutos, meia hora. Tão depressa aparecem pela frente camisolas, casacos e cachecóis para assinar, como se juntam pequenos grupos a pedir uma recordação ou uma selfie. A fila começa por ser uma pelo meio, passa depois a duas pela direita e pela esquerda, mas no final acaba por imperar o bom senso de perceber que há tempo para todos. A expressão facial começa a demonstrar já algum cansaço, o sorriso disfarça esse estado. Os mais novos, tal como quando chegou, funcionam quase como vitamina – a camisola de bebé que autografa de forma personalizada e as fotografias que tira com outras crianças presentes dão-lhe vida.

Rui Costa é candidato à liderança dos encarnados, assume nesta fase de forma interina o comando do clube, mas é muito mais do que isso. É o ex-jogador de camisola 10, é a antiga glória, é o homem do futebol. Junta o que mais ninguém naquela posição conseguiu alguma vez ter. Também por isso, tudo muda.

No final, entre um café que entretanto foi servido e que faz questão de beber, ouve um sócio que lhe diz algo, leva-o pelo braço até uma zona com menos pessoas e afastada da coluna de som que continua a dar música aos presentes, e fica ali alguns minutos a discutir assuntos do Benfica. “É disto que ele gosta, adora estar no meio de benfiquistas a falar das coisas que as pessoas falam. É benfiquista, pronto”, contam-nos. Apesar de ter andado as últimas duas semanas a correr de um lado para o outro, gosta de ouvir na primeira pessoa estes testemunhos que tão depressa vão dos problemas financeiros que a pandemia teve o condão de potenciar nas Casas do Benfica, às ideias para o futebol, o clube e as modalidades encarnadas.

Três minutos de discurso, zero perguntas, uma confirmação de Rui Costa: “Sou candidato às eleições do Benfica”

Todas as visitas a Casas, e foram agora quase 15, tiveram o seu contexto próprio. A primeira, por exemplo, em Barcelos, funcionou talvez mais para festejar a vitória em Guimarães que deu o sétimo triunfo consecutivo à equipa de Jorge Jesus do que para apresentar os principais pilares que pretende ver implementados no clube. Os dias mais preenchidos, como quando fez Peniche, Montemor-o-Velho, Bairrada e Ovar ou Albufeira, Faro e Vendas Novas, tinham paragens um pouco mais curtas mas sempre com pontos comuns como o fato sem gravata, a máscara vermelha, as fotos com crianças e o papel dos tópicos para o discurso. Esse papel acabou por ser um espelho do que foi a campanha feita por Rui Costa.

Rui Costa esteve mais de meia hora a dar autógrafos e tirar fotografias. Mais do que o candidato, estava ali uma antiga glória do futebol dos encarnados

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O líder interino e candidato quase não deu entrevistas, falou para dentro e teve poucas aparições públicas extra visitas às Casas. Oficializou a intenção de avançar para a presidência do Benfica numa declaração com pouco mais de três minutos numa unidade hoteleira de Lisboa, aproveitou o espaço na BTV para fazer um vídeo em forma de direito de antena, deu só a entrevista ao canal do clube, marcou presença no debate desta quinta-feira com Francisco Benítez na BTV. Foi aí que melhor mostrou algo que demonstrou ao longo de duas semanas: podia ouvir críticas, podia ser colocado em causa pelas decisões que tomou ou toma, mas não permitia, ou permite, que belisquem a ligação que tem ao clube. Foi por isso que a conversa azedou com o candidato da lista B quando lhe falaram da FootLab ou do regresso adiado à Luz.

Não foi o Vale-Vilarinho mas teve momentos de maior crispação: os 5 pontos quentes no debate dos candidatos ao Benfica

De resto, tudo andou à volta desse papel com tópicos. À exceção das intervenções na BTV apenas por uma vez falou diretamente de Luís Filipe Vieira e para elogiar o trabalho que foi feito ao longo de 15 anos no Seixal, no Benfica Campus, com projetos de alargamento e melhoria que quer agora que andem para a frente. A ideia do príncipe herdeiro, algo que foi criado pelo próprio antecessor quando anunciou Rui Costa como o número 2 da sua lista, foi sempre recusada, não pela ligação natural ao clube, mas na ótica de distanciamento daquilo que é vulgarmente descrito por vieirismo. Essa foi uma das principais notas da campanha – Rui Costa está prestes a chegar onde estava destinado mas não pelo caminho que pretendia.

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Os problemas das Casas, aquela final na Bairrada e a sensação do “ainda bem que vim”

– Reparei em várias pontos comuns em todas as passagens pelas Casas: fato sem gravata, máscara vermelha do Benfica, o papel com os tópicos e o sorriso maior quando estava com crianças…
– Foi mesmo isso, foram duas semanas assim e a ouvir os problemas atuais das Casas.

As duas semanas de visitas a Casas do Benfica, depois de mais de dois meses sem tempo para parar quase como se todos os jogos de fato e gravata tivessem prolongamento, grandes penalidades e algo mais do que isso, fizeram bem a Rui Costa. Os tempos mudaram em relação à década de 90, quando era mais novo e acarinhado pelos sócios e adeptos nas visitas às Casas pela qualidade em campo e por ser “prata da casa”, mas há questões transversais às Casas, ao clube e à sociedade que o foram preocupando.

“Todas as Casas têm os seus cafés, os seus bares e os seus restaurantes que vão servindo como receita para a própria Casa e que, como aconteceu com todos, estiveram fechados. Ou seja, tinham aqueles custos que são normais mas depois deixaram de ter aquela receita para suportar isso. De uma forma ou outra, todas as Casas me foram falando desses problemas, se calhar a de Vendas Novas sentiu um pouco mais isso porque tem um espaço mais amplo de restaurante ao contrário de outros que têm cafés mais pequenos. Vendas Novas tinha isso, tinha mais atividades com miudagem, muitas das obras que se têm de fazer foram custeadas pelas próprias pessoas. Daí que tenha falado da questão de estabilizar financeiramente as Casas, porque sabia e fui vendo a grande importância que têm para o Benfica”, explicou ao Observador.

Rui Costa admitiu que as várias horas que foi passando nas Casas do Benfica também tiveram o condão de fazer com que se esquecesse dos problemas por estar entre benfiquistas

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“As Casas sempre tiveram muito de carolice, com pessoas que estão ali, não tiram rendimentos mas gastam o seu tempo só pela paixão benfiquista que têm. É por isso que quando entramos ali vemos aquilo que é a alma benfiquista, agora com os problemas que todos tivemos por causa da pandemia”, acrescentou, antes de ressalvar também a importância que estas visitas tiveram também a nível pessoal.

“Aquilo que se continua a notar mais nas Casas é toda aquela vibração pelo Benfica, a forma como vivem o clube. Para mim foi uma injeção de força e dinamismo depois de tempos que não foram nada fáceis. Todos nós precisamos e eu estava a precisar de toda esta injeção de carinho e apoio que recebi nas Casas que visitei, é uma força que se recebe e depois se transporta. Entrava ali e esquecia todos os problemas, era como se houvesse apenas aquilo: falar sobre Benfica, entre benfiquistas, vibrar com o Benfica. Quando estava na Bairrada, a TV estava a passar a final da Supertaça de voleibol e percebi que as pessoas estavam todas a seguir o jogo quando ia discursar. Tive de dizer ‘Desculpem lá, falo quando acabar o jogo’ e vimos juntos mais uma vitória do Benfica. Isto são as Casas do clube”, recordou na conversa com o Observador.

"Aquilo que se continua a notar mais nas Casas é toda aquela vibração pelo Benfica, a forma como vivem o clube. Para mim foi uma injeção de força e dinamismo depois de tempos que não foram nada fáceis. Todos nós precisamos sempre daquela injeção de carinho e apoio que recebi, em todas as Casas que visitei, é uma força que se recebe e depois se transporta. Entrava ali e esquecia todos os problemas, era como se houvesse apenas aquilo: falar sobre Benfica, entre benfiquistas, vibrar com o Benfica", destacou Rui Costa ao Observador.

“Foram duas semanas cansativas, não é fácil, mas aquilo que acontecia sempre quando fazia depois viagens de regresso era pensar ‘Ainda bem que fui, ainda bem que isto aconteceu’. Caso seja eleito sei que não vou conseguir visitar tanto as Casas como queria, mas irei acompanhar tudo sempre que possível porque quero que sintam que a casa mãe está próxima deles. Não é por ser o Benfica mas, depois de um ano e meio com os estádios fechados, poder voltar a ter o Estádio da Luz cheio e todos os restantes estádios com os nossos adeptos… Ainda não voltou tudo ao normal, mas para lá caminha. Não há melhor do que isto. E caso seja eleito, já chego com a força destas duas semanas para unir de vez o clube e caminhar para aquilo que todos queremos, que são as vitórias do Benfica”, concluiu Rui Costa.

Como o mundo de Rui Costa mudou nos últimos três meses (e pode mudar mais)

Há um episódio que é de forma recorrente puxado para explicar a viragem de papel de Rui Costa na Luz: numa semana, estava em Itália com Rui Pedro Braz e o empresário Federico Pastorello a negociar a vinda de João Mário para o Benfica como administrador da SAD; na semana seguinte pisava o relvado do Estádio com outros dirigentes, família e pessoas próximas para fazer uma declaração com cerca de três minutos a assumir a liderança interina do clube na sequência da detenção de Luís Filipe Vieira no âmbito da operação Cartão Vermelho (sendo que na altura o ex-presidente ainda não se tinha demitido do cargo).

Rui Costa apela à unidade. “Serei sempre um de vocês”

Não foram tempos fáceis, até pelo contexto em que tudo aconteceu, mas os últimos três meses funcionaram quase como licenciatura em várias questões que tinha conhecimento mas onde não participava de forma direta. A par das pastas do futebol que foi resolvendo, com um plantel com as contratações pedidas por Jorge Jesus à exceção de mais um central com que sonhava ainda nos últimos dias de mercado, foi estando em contacto próximo e direto com Domingos Soares de Oliveira por causa do empréstimo obrigacionista que estava a decorrer e pela questão das finanças da SAD, trabalhou com Fernando Tavares nos orçamentos e na construção dos plantéis das modalidades, reuniu com os pares da Direção por questões mais institucionais que estavam ainda relacionadas com a instabilidade que estava criada.

Benfica voltou a ter um debate entre candidatos 21 anos depois, tendo como palco o Museu Cosme Damião e o canal do clube (Fotos: SL Benfica)

Rui Costa adotou quase um espírito de missão perante o que estava a acontecer, algo que começou quase de imediato após assumir funções com as conversas que foi tendo com parceiros mais próximos e importantes do clube para assegurar que o Benfica iria conseguir estabilizar após toda a convulsão criada pela operação Cartão Vermelho. Outras questões, como o acordo entre José António dos Santos e John Textor para a compra por parte do empresário norte-americano de 25% do capital social da SAD ou a intenção de venda por parte de Luís Filipe Vieira dos 3,28% de ações que tem da sociedade (com o clube a ter o direito de preferência numa operação que pode custar quase seis milhões de euros), acabaram por ficar adiadas para depois das eleições mas serão um dos problemas por resolver a breve prazo pelo líder eleito.

Benfica diz que Vieira não deu “informações essenciais e necessárias” e lamenta timing para a venda das ações em vésperas de eleições

Ao longo de mais de dois meses, Rui Costa reinventou o seu papel no Benfica, onde  lhe faltava assumir a camisola de número 1 do clube depois de ter feito toda a formação no clube como jogador, de se ter estreado (fez 30 anos no dia seguinte ao anúncio da candidatura) e terminado a carreira na Luz, de ter sido diretor e administrador da SAD e de assumir o papel de número 2 como vice-presidente de Vieira no último ano. Nas últimas duas semanas, tomou o pulso de forma mais concreta ao universo que terá pela frente em caso de vitória e percebeu de maneira direta a massa humana espalhada pelo país que ainda o recorda como o grande jogador que se destacava na Luz, como aconteceu com Pedro em Santarém. Em caso de eleição, Rui Costa sabe que a missão para ser recordado como um grande presidente será bem diferente.

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