Pelo menos 14 pessoas morreram esta quarta-feira num ataque a um autocarro militar em Damasco, seguido de bombardeamentos governamentais nas zonas rebeldes que fizeram 13 mortos, o mais mortífero surto de violência na Síria desde há meses.

Duas bombas colocadas num autocarro militar explodiram de manhã ao passar perto de uma ponte no centro de Damasco, noticiou a agência oficial SANA, matando 14 pessoas e ferindo pelo menos outras três.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que tem uma extensa rede de fontes na Síria, todas as vítimas mortais eram militares.

O ataque, o mais mortal na capital síria há quatro anos, ainda não foi reivindicado, mas, uma hora depois, as forças governamentais bombardearam a província de Idleb, o último grande bastião “jihadista” e rebelde no noroeste.

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Uma fonte militar citada pela SANA disse que um terceiro engenho explosivo “caído do autocarro após a explosão foi desmantelado”.

Imagens publicadas pela agência síria mostraram socorristas a inspecionar o autocarro queimado numa área normalmente movimentada no centro de Damasco.

Em 2011, a repressão dos protestos pró-democracia na Síria desencadeou uma guerra que tem vindo a diminuir de intensidade nos últimos anos.

Há muito tempo que não víamos este tipo de incidentes, pensávamos que já tinham acabado”, testemunhou Salman, trabalhador numa mercearia local.

Este atentado foi o mais mortífero em Damasco desde um ataque reivindicado pelo grupo “jihadista Estado Islâmico” em dezembro de 2017 (pelo menos 30 mortos), uma vez que a cidade tem sido largamente poupada à violência desde que as forças pró-governamentais recapturaram o último grande reduto rebelde perto da capital, em 2018.

Na província rebelde de Idleb, os bombardeamentos do regime mataram 13 pessoas e feriram outras 26, segundo o OSDH.

Os civis incluem quatro crianças e um professor que estavam a caminho da escola, de acordo com uma declaração do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que condenou a violência.

Os bombardeamentos são os mais mortíferos em Idleb desde a trégua negociada pela Turquia, que apoia os rebeldes sírios, e a Rússia, aliada do regime, em vigor desde março de 2020 na região.

O grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e outras organizações “jihadistas” que controlam parte da província de Idleb retaliaram com bombardeamentos nas zonas vizinhas controladas pelo regime.

Além disso, seis combatentes das principais forças pró-regime, as Forças de Defesa Nacional, morreram e outros sete ficaram feridos esta quarta-feira numa explosão num depósito de munições na província central de Hama, de acordo com o OSDH.

O jornal pró-regime Al-Watan disse que a explosão se deveu a um “erro técnico”.

A violência coloca em causa a retórica das autoridades sírias sobre o fim da guerra, uma vez que o regime de Bashar al-Assad tenta há meses tirar o país do isolamento internacional para permitir a reconstrução e o regresso dos investimentos.

Após sofrer grandes contratempos no início da guerra, o regime sírio recuperou uma grande parte do território desde 2015, apoiado pela Rússia, cuja intervenção é amplamente vista como um importante ponto de viragem no conflito.

Apoiado também por milícias ligadas ao Irão, o regime controla agora quase todas as grandes cidades.