A crise em que o CDS mergulhou depois do resultado eleitoral do último domingo poderá levar o partido a ter de sair do Palácio Caldas, a histórica sede lisboeta dos centristas, para fazer face às despesas, gravemente afetadas com a perda de representação parlamentar.

A notícia é avançada esta sexta-feira pelo semanário Expresso, que cita vários dirigentes do CDS que afirmam que deixar a sede — um enorme palacete na baixa de Lisboa desproporcional à atual dimensão do partido — é uma solução vital para regularizar as contas do CDS.

Os problemas financeiros do partido não são novidade, mas têm vindo a aprofundar-se com os maus resultados eleitorais. Em 2019, a grande queda dos centristas nas legislativas (passando de 18 para cinco deputados) já levou o partido a ter de reorganizar as suas finanças para fazer face a uma redução drástica da subvenção pública — na altura cifrada pouco acima dos 50 mil euros mensais.

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Agora que perdeu, pela primeira vez na sua história, a representação parlamentar, o partido vê-se ainda com as contas mais estranguladas. O facto de ter passado a barreira dos 50 mil votos permitirá ao partido receber uma subvenção, mas consideravelmente inferior ao valor que recebia até agora: cerca de 20 mil euros mensais.

O CDS tem atualmente uma dívida de cerca de 700 mil euros e, com as receitas regulares significativamente reduzidas, o partido poderá ter de se voltar para a venda do património, incluindo algumas das suas sedes espalhadas pelo país. Um dos defensores de uma solução destas — que inclua o próprio Palácio Caldas — é o ex-deputado centrista Raul Almeida.

Se já antes era difícil, ninguém nos vai emprestar dinheiro agora e é preciso pagar as dívidas de campanha e aos fornecedores“, diz aquele ex-deputado ao Expresso.

O Palácio Caldas, sede nacional do CDS, é um grande palacete com quatro pisos, anexos e um pátio que é propriedade do Patriarcado de Lisboa — e a instituição católica já recebeu várias propostas para adquirir o edifício. Porém, o prédio tem-se mantido nas mãos do CDS devido a um acordo a três entre o partido, a Igreja Católica e a câmara de Lisboa (que tomou posse administrativa do edifício para forçar a execução de obras consideradas necessárias e que agora recebe a renda, de cerca de 1.200 euros mensais, um valor muitíssimo abaixo dos valores médios de mercado para aquela zona da cidade).

Àquela velocidade, estima o Expresso, o pagamento das obras à câmara demoraria cerca de 200 anos — mas, no entender de Raul Almeida, uma solução para o problema poderia passar pela devolução do edifício em troca de uma indemnização. Outros dirigentes do CDS disseram ao Expresso que a melhor forma de honrar os compromissos seria vender outras sedes do partido, espalhadas pelo país, que são propriedade dos centristas.

Na sequência dos resultados eleitorais do último domingo, o atual líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, demitiu-se do cargo. O congresso para eleger o sucessor está marcado para 9 e 10 de abril, com o eurodeputado Nuno Melo, para já, como o único candidato.

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