O líder do governo espanhol, Pedro Sánchez, considera que a comissão de inquérito ao caso dos abusos sexuais denunciados no seio da igreja católica aumenta o ruído e prejudica as vítimas e propõe, em alternativa, a criação de uma comissão independente, liderada pelo Provedor da Justiça, avança o El Pais.

Contra a proposta parlamentar promovida pelas bancadas da Unidade Popular (UP) e dos independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e do Euskal Herria Bildu (EH Bildu), do País Basco, a bancada do Partido Socialista Espanhol (PSOE) vai apresentar outra iniciativa para confiar à Provedoria da Justiça, liderada por Ángel Gabilondo, a investigação dos abusos sexuais. Investigação essa que, tal com aconteceu em França, será apoiada por uma comissão independente, composta pelas associações das vítimas, por representantes das administrações públicas, elementos da própria Igreja, psicólogos e outros médicos e peritos especializados.

Se conseguir os votos necessários para aprovação da proposta no Congresso — o que implica convencer a esquerda que a solução do PSOE é melhor –, o relatório final será debatido em plenário, no parlamento espanhol, cujo objetivo central será determinar responsabilidades, reparar as vítimas e planear políticas públicas voltadas para a prevenção e atendimento desses casos. Além de apurar as circunstâncias e determinar um número mais exato de vítimas de abuso sexual na igreja, o documento deverá ainda avaliar o papel das autoridades públicas.

Em comparação com as 216 mil vítimas de abuso sexual por parte de elementos da igreja que a comissão independente francesa conseguiu apurar na investigação que terminou no ano passado, o número de casos em Espanha é consideravelmente maior. A expectativa do PSOE é que esta investigação independente consiga traçar um retrato mais fidedigno do que acontece para lá dos muros da igreja.

Em paralelo, para apurar as responsabilidades criminais, a Procuradoria Geral espanhola também anunciou a abertura de um inquérito a propósito do dossier com 251 denúncias que, depois de ter compilado, o El País fez questão de fazer chegar ao Papa Francisco e ao presidente da Conferência Episcopal, Juan José Omella. A imprensa espanhola dá ainda conta de uma outra investigação paralela a decorrer na própria igreja católica.

No país vizinho, não há qualquer registo oficial dos abusos sexuais cometidos por padres, bispos e demais elementos do clero espanhol, embora de acordo com a própria igreja tenham sido apresentadas 220 denúncias, das quais 69 estão em apreciação. Na investigação que começou com 251 casos inéditos, o El País acabou por identificar um total de 1.250 vítimas de abuso, entre 1945 e 2018. Dos jesuítas aos franciscanos, as próprias congregações assumiram que realizaram as tais investigações internas, sem nunca denunciá-las às autoridades competentes. As associações das vítimas falam em “milhares” de traumas.

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