A Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, manifestou-se esta segunda-feira contra a autorização de filmagens na zona durante “oito noites seguidas”, previstas para julho, por considerar que penalizam o direito ao descanso e a mobilidade dos moradores.

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“São filmagens noturnas que implicam fecho de quarteirões, de ruas inteiras, alterações de tráfego, que implicam ruído, cenas de tiros, carros a bater, perseguições de motos em escadas, que achamos muito difícil de concretizar […], até pelo mau exemplo que darão às pessoas, portanto estamos preocupados”, afirmou o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), referindo que o plano previsto é de “oito noites seguidas”, entre as 18h00 e as 08h00.

Em declarações à agência Lusa, o autarca considerou que o plano de filmagens previsto vai “penalizar de uma forma muito acentuada a qualidade de vida, o direito ao sossego e ao descanso das pessoas que vivem no território”, assim como os direitos de circulação, acesso e estacionamento, em consequência da “ocupação massiva” do espaço público por parte da produção cinematográfica.

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A cumprir o seu terceiro mandato consecutivo na liderança da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho disse que o seu executivo “nunca dá parecer favorável” à realização de filmagens noturnas, “tirando uma ou outra situação excecional e por pouco tempo”, ainda que a autorização seja da competência da Câmara Municipal de Lisboa.

Não digo não às filmagens, percebo que é uma circunstância excecional, certamente que haverá retorno financeiro muito grande para a autarquia de Lisboa, para a câmara, mas não posso de maneira nenhuma posso aceitar que na freguesia na qual eu sou o primeiro responsável haja oito noites consecutivas, praticamente, de filmagens noturnas. Não posso aceitar isso”, declarou o autarca.

O executivo da freguesia foi excluído do processo de autorização deste plano de filmagens noturnas apresentado pela produtora Ready to Shoot, numa produção para a Netflix, mas está disponível para encontrar uma outra solução: “Mais do que lamentar não ter sido ouvido, porque não fui ouvido, é que não haja aqui a sensibilidade para perceber que isto assim não pode ser”.

A expectativa de Miguel Coelho é que a Câmara de Lisboa, presidida pelo social-democrata Carlos Moedas, “procure, naturalmente, sensibilizar os produtores para redimensionarem o projeto, sobretudo o período de filmagens em Santa Maria Maior”, com uma eventual distribuição por outras zonas da cidade.

“Isto é transformar a freguesia num estúdio cinematográfico, portanto não é isso que eu quero aqui para este território e para esta freguesia”, frisou o autarca do PS, explicando que o plano de filmagens “é muito extensivo”, incluindo as zonas da Baixa, Chiado e Mouraria, e prevê “oito noites seguidas e dois dias” no mês de julho.

Neste sentido, a junta propõe ser incluída numa reunião com o presidente do município ou um outro responsável político e com a produtora, para encontrar “um ponto de encontro que, não impedindo as filmagens, também de facto não transforme Santa Maria Maior num estúdio a céu aberto durante tantos dias seguidos”.

“Não tenho competências para proibir, isto é mesmo licença camarária. Agora, também não posso é ser cúmplice de uma situação que eu sei que não é desejável aqui para freguesia e para quem cá mora e que tem direito ao descanso, à tranquilidade, a não ser alarmado de noite, enfim, um conjunto de prerrogativas já tão difíceis de manter no centro histórico […]. Portanto, não é agora que eu vou transigir só porque é a Netflix”, reiterou.

Em resposta escrita à agência Lusa, a Câmara Municipal de Lisboa informou que “o assunto está a ser alvo de análise”, que está a decorrer “em estreita articulação com as Juntas de Freguesia envolvidas”, cumprindo os trâmites normais deste tipo de processos, sem adiantar mais detalhes.