Que dizem de avançarmos para uma conversa ligeira sobre as minudências politico-sociais do nosso querido Portugal, fazendo por crer que o ribombar que escutamos provém dos ensaios para as comemorações do 25 de Abril e não já dos tambores de guerra que se escutam pela Europa à medida que o conflito na Ucrânia se agrava? Vamos a isto? Alinham comigo nesta irresponsabilidade? Óptimo. Vamos lá, então.

Mais ou menos a propósito, está de volta o debate sobre o Serviço Militar Obrigatório, tendo a Iniciativa Liberal declarado que “em 2024, numa democracia consolidada como a portuguesa, é eticamente inaceitável que por meio da coerção estatal se obrigue a que jovens abdiquem da sua autonomia e liberdade individual para servir o Estado nas condições e valores que esse mesmo Estado entenda como as adequadas”, e que “a entrada nas Forças Armadas ou é voluntária ou é inaceitável.” Eh, lá! Calma, pessoal. Guardem um bocadinho da justa indignação com intromissões do Estado na autonomia e liberdade dos jovens para a questão da identidade de género nas escolas.

Não gastem essas ganas todas com o Serviço Militar Obrigatório. Assim, não só o Bloco de Esquerda fica sem nada para dizer sobre o assunto, como depois é complicado venderem-nos a ideia que ficaríamos a perder com éticas de Estado e respeito pela autonomia e liberdade ao estilo de uma Suíça, de uma Noruega, ou de uma Finlândia. Tudo sítios onde a malta vai à tropa e é forte e feio. Mas onde não sei, confesso, se na segunda classe se aprende que há 273 géneros. Vai-se a ver e é essa a causa do subdesenvolvimento deste pessoal.

A propósito de guerra, não é tarde nem é cedo para comentar (quer dizer, já é um bocado tarde, mas não tive oportunidade de o fazer antes) o conflito aberto que foi a eleição do novo Presidente da Assembleia da República. Mas que rico granel que para ali se montou, com o Chega no olho do furacão. Como se esperava, aliás, uma vez que André Ventura tem sempre em vista tempestades políticas. Por isso, para o Chega, esta eleição foi chegar, ver e vencer a esperança de tantos eleitores de direita de que, em circunstância alguma, o partido de Ventura daria a mão ao PS.

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Já o novo Presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, venceu o prémio para o nome mais apropriado do evento, uma vez que foi a conduzir pálido (Atenção, trocadilho. Repararam? Aguiar-Branco, a conduzir pálido. Achei melhor avisar, não fosse passar em claro. E tumba! Novo trocadilho. Claro, Branco, pálido. Enfim), dizia eu, Aguiar-Branco foi a conduzir pálido para casa ao fim do primeiro – e supostamente último – dia de votações, sem acreditar que não tinha ainda sido eleito para o cargo.

Entretanto, Luís Montenegro formou governo e confesso que as escolhas do novo primeiro-ministro me causaram imensa estranheza. Chegam mesmo a ser bizarras, as opções. É que após a última década de governos socialistas, foi muito esquisito os nomes apresentados não sugerirem observações do género: “Então mas o ministro A é nomeado sendo arguido no processo B?”; ou “Não admira a escolha da ministra C, uma vez que é filha do ex-ministro D”; ou ainda “Como é possível o indivíduo E voltar a ser ministro se, enquanto membro do governo, não reparou em nenhuma das ilegalidades cometidas pelo ex-Primeiro-Ministro S?” Nada. Montenegro nomeou as pessoas e nada. Silêncio. Tranquilidade. Muito esquisito.

Ainda antes de tomar posse, já o novo executivo de Luís Montenegro tinha decidido mudar o logotipo do governo que eliminou o escudo e a esfera armilar e os trocou por aqueles desenhos de peças Lego Duplo a duas dimensões. Sabem do que falo? Daquela bandeira portuguesa em que estrelam um rectângulo verde e um quadrado vermelho, ladeando um ovo estrelado. Foi tudo para trás. Regressa o símbolo antigo. E regressam as manifestações públicas de desagrado com o governo, que tão tímidas tinham andado nos últimos anos. Que a decisão de Montenegro é bacoca, e tal, dizem por aí. Espera lá. Mas não ficou estabelecido, em 2015, que reversões é óptimo? Ficou. Então, cá está uma reversão. E agora esta malta de esquerda, afinal, não gosta. Que mimados, pá. Não sabem o que querem, é o que é.