Na reunião camarária desta segunda-feira foram apresentadas quatro moções sobre a guerra na Ucrânia, condenando a invasão russa no país e expressando solidariedade com as vítimas, mas nem todas tinham a mesma visão e foi a proposta da CDU a que causou mais polémica e tensão entre o executivo liderado por Rui Moreira.

“Há aqui três moções que mais ou menos vão no mesmo sentido, mas há uma que diverge profundamente da análise e tenta reescrever o que está a acontecer. A moção da CDU parte de pressupostos com os quais não me revejo e não posso votar favoravelmente. A versão que a CDU apresenta sobre aquilo que está a suceder na Ucrânia tem sido aquilo que o Partido Comunista tem reiteradamente feito nos últimos dias. Reescrever a história e assumir uma posição de neutralidade”, começou por acusar o autarca do Porto, acrescentando que “não há uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia, há uma invasão e não vale a pena tentarmos mascarar as coisas”.

A vereadora comunista Ilda Figueiredo tomou a palavra e pediu que se encontrasse uma “posição conjunta”. “A CDU discorda desta guerra ou desta invasão, como quiserem chamar, está contra e que fique claro de uma vez por todas. O que aqui está em causa é tentar encontrar algo comum que defenda a paz. Não posso deixar que se coloquem mais achas para a fogueira de uma guerra terrível que terá consequências terríveis para a população mundial.”

Rui Moreira não tardou a responder e aproveitou para criticar, mais uma vez, os comunistas. “Verifico que a CDU ao longo dos últimos dias, com o insucesso da invasão, tem vindo a mudar de posição. Aliás, ontem [domingo] já se percebeu na intervenção do camarada Jerónimo de Sousa.”

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Vários vereadores pediram para explicar o seu voto contra a moção comunista, mas foi Ricardo Valente, responsável pelos pelouros da Economia e do Turismo, o mais efusivo nas palavras. Na passada sexta-feira, o vereador já tinha criticado a posição do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CCPC) presidido por Ilda Figueiredo e cujo logótipo consta na proposta apresentada pela CDU.

“Não percebo se a proposta é da CDU ou do CCPC, aparecem ambos na mesma proposta. É verdadeiramente incrível que sra. vereadora seja incapaz de estar do lado certo da história e não tenha a coragem de dizer que deste lado não há neutros, há o bem e há o mal. Quem está do lado do Sr. Putin, merecia que lhe entregassem toalhas para limpar o sangue que tem nas mãos.”

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Perante todos os ataques, Ilda Figueiredo, que já não tinha muito tempo para falar, pediu uma alteração ao primeiro dos oito pontos da sua proposta, onde se podia ler que os subscritores “apelam ao fim da guerra na Ucrânia, ao estabelecimento de negociações, de modo a encontrar um acordo justo e duradouro, no interesse dos povos”.

“Peço que incluam que [os subscritores] manifestam-se contra a agressão militar e a invasão da federação russa à Ucrânia. Quanto ao resto, o objetivo é a defesa da paz. Recordo que sempre criticámos todas as guerras que foram feitas, venham de que lado for.”

Face a esta alteração, que foi aceite, o presidente da Câmara do Porto, num claro momento de tensão, voltou a condenar a posição adotada pelos comunistas relativamente à invasão russa na Ucrânia. “Esta é a altura para denunciar aquilo que é a posição do PCP. O PCP não defende uma questão ideológica, está a branquear uma invasão de um país a outro país”, começou por dizer, antes de acrescentar:

“O PCP está interessado na destruição daquilo que é nossa civilização, uma civilização liberal e europeia. Estamos de facto em trincheiras diferentes, sabe, é muito fácil ser comunista num país livre, difícil é ser livre num pais comunista. A posição do PCP envergonha muitos militantes do seu partido. Pode dar a volta que quiser à sua moção, votaremos contra.”

Maria Manuel Rola, que esta segunda-feira substituiu o vereador do BE Sérgio Aires, disse “lamentar a intransigência” do independente para chegar a um consenso relativamente ao assunto. “Podíamos beneficiar de uma discussão que retirasse o que nos separa de cima da mesa. Parece-nos que existe espaço para discutirmos para moção conjunta.” Rui Moreira não concordou e fez-se ouvir. “Há linhas vermelhas e da nossa parte há, de facto, uma intransigência.”

Também Vladimiro Feliz, vereador do PSD, apelou a um documento comum, apesar de não ter apresentado qualquer moção ao executivo. “O Porto poderia dar um exemplo de consenso em torno de uma proposta que todos nos revíssemos. Vivemos um momento em que é mais importante vincar afinidades do que diferenças.”

Já Tiago Barbosa Ribeiro, vereador socialista, sublinhou com ironia que os textos apresentados ainda antes da ordem do dia “não são passíveis de grande homogeneidade”. “Mais depressa se chega um cessar fogo do que conseguimos entender-nos aqui sobre esta matéria.”

O vereador socialista sublinha que o documento assinado pela CDU é “eufemístico”, fala de “uma situação de guerra” e nunca é referido que se trata de uma invasão ou de quem invade. “Há uma narrativa anacrónica de uma visão que é apresentada por Vladimir Putin.”

No final, as moções apresentadas pelo Movimento de Rui Moreira, PS e BE foram aprovadas, já a proposta comunista foi rejeitada, apenas com o voto favor do bloco.