O Aeroporto Internacional Ted Stevens, em Anchorage, no Alasca (Estados Unidos) é um forte candidato ao aeroporto com melhor localização do mundo, neste momento da história. Com a União Europeia a ter acordado encerrar o espaço aéreo à Rússia (e vice-versa), este modesto centro de movimentações de carga pode revelar-se estrategicamente importante.
Concluído em 1951, o Aeroporto Ted Stevens foi durante 40 anos uma escala popular para os passageiros que viajavam da Europa para a Ásia. Com a inauguração a coincidir com a Guerra Fria, tirou proveito das problemáticas aéreas com a União Soviética. Mais tarde, já na década de 90, as companhias aéreas estabeleceram rotas mais diretas e económicas que sobrevoavam a Rússia.
Agora, com a invasão das tropas russas à Ucrânia, a infraestrutura vê a história repetir-se e está já a “trabalhar internamente” com o propósito de garantir uma resposta adequada, caso receba solicitações, revela a gerente de operações, Trudy Wassel, à CNN.
Por exemplo, determinada companhia aérea só vai precisar de uma paragem técnica, o quê que isto significa? Que vai abastecer, talvez mudar a tripulação e depois partir?”, questiona Wassel. ” Os nossos trabalhadores podem realizar a manutenção de um avião em cerca de uma hora e 40 minutos, dependendo das necessidades. Ou essas companhias aéreas passarão por Anchorage e precisarão de serviços adicionais? Ainda não sabemos”.
É improvável que Anchorage regresse aos níveis de tráfego de passageiros da Guerra Fria, refere Ian Petchenik, diretor de comunicações do FlightRadar24. O alcance dos aviões comerciais – “ir da origem ao destino sem parar” — melhorou drasticamente desde a queda da União Soviética.
Nas próximas semanas, as companhias aéreas trabalham para descobrir e delinear novas rotas. “Por exemplo,[a companhia] Finnair [da Finlândia] assentou o modelo de negócios num atalho pela Rússia para chegar ao leste da Ásia e sem a capacidade de fazer isto, em que direção viajará?”, pergunta Petchenik. Também os voos da União Europeia para a Ásia podem demorar mais quatro horas de forma a não sobrevoar o espaço aéreo russo.
Voos da UE para Ásia podem demorar mais quatro horas para não sobrevoar Rússia
O desvio mais extremo observado até agora é o voo 43 da Japan Airlines, que liga Tóquio a Londres. Passou “de um voo de 12 horas e 12 minutos para um voo de 15 horas e 15 minutos”, pormenoriza: “Basicamente, em vez de ir para o oeste sobrevoando a Rússia, segue para o leste e depois chega ao Alasca, ao norte do Canadá, à Gronelândia, à Islândia e depois desce para o Reino Unido”.
Muito do tráfego que normalmente passaria pela Rússia está a mover-se para o sul, daí estar a ver-se um aumento do tráfego na Turquia, Roménia [e outros] lugares na Europa Oriental”.
As rotas polares – que “sobem” pela Noruega e depois “descem” pelo Canadá e Alasca — diz Petchenik, “podem ser as mais interessantes”.
Por sua vez, tal como recordou o centro de controlo FlightRadar24 no Twitter, “as opções são poucas” para as companhias aéreas russas que continuam a operar.
For the Russian airlines that continue to operate international flights, routing is complicated and options are few. https://t.co/wIkRzgtBLU pic.twitter.com/r0Ejr6wl51
— Flightradar24 (@flightradar24) March 8, 2022
Antes do cenário geopolítico mudar tão drasticamente, a recente Northern Pacific Airways já planeava lançar um serviço internacional entre os EUA e a Ásia tendo o Aeroporto de Anchorage como base, embora isto ainda esteja sujeito à aprovação do governo.
Depois, há razões geográficas, já que o aeroporto é equidistante entre Nova Iorque e Tóquio e, como conta o próprio site, a apenas nove horas e meia de voo de 90% do mundo industrializado.
Passam por ali cerca de cinco milhões de pessoas por ano. Por exemplo, em 2019, atravessaram o Aeroporto Internacional de Atlanta Hartsfield-Jackson mais de 110 milhões passageiros e, comparando a Portugal, pelo Aeroporto Humberto Delgado (Lisboa), no mesmo ano, passaram mais de 31 milhões, de acordo com a PorData. Aliás, num município com 300 mil pessoas, cerca de um em cada dez empregos têm ligação ao aeroporto.
Não é a primeira vez que o Aeroporto Internacional Ted Stevens acode em tempos de crise
A pandemia de Covid-19 trouxe igualmente o pequeno aeroporto para a ribalta, desempenhando um papel chave no transporte de mercadorias médicas, noticiava o Anchorage Daily News na altura.Tornou-se até, em determinados sábados, o aeroporto mais movimentado do mundo, relatava a CNN Travel.
“A vantagem de Anchorage é que os aviões podem voar cheios de carga, mas apenas com metade do combustível. Eles voam para lá, reabastecem e depois seguem para o destino”, explicou o gerente Jim Szczesniak.
No início de março, passavam por aquela pista 115 aviões de grande dimensão (wide bodies) por dia. Tal equivale a aproximadamente 300 quartos de hotel para a tripulação por noite, exemplificou Trudy Wassel.
Em 2020, “hospedou” ainda o maior avião de carga do mundo, o Antonov An-225 Mriya, recentemente destruído na Ucrânia.
Forças russas destroem maior avião de carga do mundo perto de Kiev