É o caso que está a chocar Inglaterra. Um total de 201 recém-nascidos e nove mães morreram por negligência na maternidade pública de Shrewsbury and Telford, no oeste de Inglaterra. Durante duas décadas, as 210 mortes registadas poderiam ter sido evitadas, apurou um relatório publicado esta quarta-feira citado pela Sky News. O documento também revela que, na maior parte das vezes, as mães eram culpadas pelas mortes dos próprios bebés. 

Dos 201 mortes, 131 eram nados-mortos, enquanto 70 perderam a vida após o nascimento por terem sofrido lesões irreversíveis, incluindo danos no cérebro em parte devido à falta de oxigénio durante o parto.

Na origem destas mortes, está em parte o facto de os técnicos da maternidade preferirem partos naturais em vez de cesarianas. Por negligência e descuido, existiam vários problemas que não permitiam avaliar o risco para as grávidas e para os recém-nascidos. Donna Ockenden, a principal responsável por elaborar o relatório, sinalizou que que “estas falhas nos cuidados eram repetidas de um acidente para outro”, tendo sido praticadas durante quase duas décadas.

“Em muitos casos, as mães e os bebés ficavam com problemas para a vida como resultado dos cuidados” na maternidade. “Há razões para essas falhanços. Não havia profissionais de saúde suficientes, havia uma falta de treino, havia uma falta de investigação e havia a cultura de não ouvir as famílias envolvidas”, apontou Donna Ockenden, que considerou “assombroso” que “durante duas décadas” esses “problemas não tenham sido abordados internamente”. “Ninguém foi responsabilizado por organismos externos.”

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O secretário da Saúde britânico reagiu ao relatório, dizendo que o cenário traçado por Donna Ockenden era “trágico” e “angustiante”. “Peço desculpa a todas as famílias que sofreram tanto.” Sajid Javid sublinhou que o governo britânico tem “investido nos serviços de obstetricia” e tem aumentado o número de profissionais de saúde a trabalhar na área.

Para Donna Ockenden, é necessário uma “mudança sistémica” a “nível nacional” para conseguir “providenciar cuidados às famílias” de forma “profissional e compassiva”. “É preciso que as equipas médicas estejam conscientes e sejam responsáveis pelos valores e padrões que devem defender”, vincou a responsável.

A maternidade de Shrewsbury and Telford mudou de direção em 2020. Louise Barnett, a nova chefe de administração, pediu desculpa “às famílias” a quem o hospital falhou. “Ninguém pode tirar a dor e o sofrimento causado”, lamentou, prometendo, contudo, que está focada “com determinação” em resolver os problemas e melhorar os cuidados de saúde.

O relatório identifica mais de 60 áreas em que o hospital de Shrewsbury and Telford deve melhorar.