Já entrou em vigor o cessar-fogo prometido pelo Kremlin no complexo industrial de Azovstal, onde está sitiado o último bastião de resistência ucraniana em Mariupol.

Depois de um dia de “batalhas sangrentas” e “ferozes” no local, o Kremlin promete que irá cumprir o cessar-fogo para permitir, durante os próximos três dias (5ª feira, 6ª feira e sábado) a retirada dos civis ucranianos que ainda ali estão refugiados em bunkers. Na véspera, esta quarta-feira, mais de 300 civis foram retirados e transportados ao longo de um corredor humanitário, em operação conjunta da Cruz Vermelha e ONU.

O cessar-fogo começa no mesmo dia em que o ministério da Defesa da russa revelou ter feito exercícios nucleares junto ao Mar Báltico. Os exercícios consistiram em disparo simulado de mísseis com capacidade nuclear e em operações militares ensaiadas em condições de “contaminação química” e em ambição de “radiação”.

Mapa atualizado esta quinta-feira, 5 de maio de 2022

Aqui fica um ponto de situação para compreender o que aconteceu nas últimas horas. Pode também seguir as reportagens do Observador na Ucrânia, da autoria dos enviados especiais Carlos Diogo Santos e João Porfírio, assim como os desenvolvimentos, minuto a minuto, no liveblog do Observador.

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O que aconteceu durante a tarde e a noite

  • Dmitry Polyansky, vice-representante da Rússia na Organização das Nações Unidas, prometeu que sexta-feira o Kremlin apresentará “as provas dos crimes do exército russo à ONU”.
  • Esta quinta-feira começou mais uma operação de retirada de civis de Mariupol. Nas últimas duas, 500 civis foram retirados da área da cidade portuária, contabilizam as Nações Unidas e o Comité Internacional da Cruz Vermelha.
  • A Organização das Nações Unidas juntou-se à Cruz Vermelha para providenciar uma nova caravana humanitária para salvar civis de Azovstal.
  • Um vídeo publicado esta quinta-feira denuncia os bombardeamentos que a fábrica de siderurgia de Azovstal, em Mariupol, está a sofrer e sugere que o cessar-fogo não está a ser cumprido.
  • Após ter dito que a Rússia continuava disponível para a retirada de civis de Azovstal, Putin disse que a Ucrânia deveria ordenar a rendição dos seus combatentes que permanecem na fábrica de Mariupol.
  • A autarquia da cidade portuária de Mariupol confirma que amanhã serão retirados mais civis da fábrica, pedindo que não se esqueçam “os militares e os feridos” no local.
  • O Presidente russo, Vladimir Putin, falou ao telefone com o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, e pediu “desculpa” ao país após as declarações de Sergei Lavrov, que disse que havia nazis com sangue judeu.

Lavrov recordou o mito urbano, a teoria existe desde os anos 50. Mas porque se diz que Hitler era judeu?

  • Vyacheslav Volodin, presidente da Duma — câmara baixa do parlamento russo —, disse que a Rússia apenas lançará um ataque nuclear “em resposta” a uma “agressão” de outro país.
  • O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convidou o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, para irem a Kiev. O convite surge após ter havido um mal-entendido entre os líderes alemães e o Presidente ucraniano. Os primeiros garantiram que Zelensky não aceitou que se deslocassem à capital ucraniana, enquanto o chefe de Estado ucraniano garantiu que não recebeu qualquer pedido para um encontro.
  • Annalena Baerbock, ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, também vai visitar a Ucrânia.
  • O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, prometeu aumentar a presença militar no mar Báltico. “Estou convencido de que encontraremos as soluções de segurança que a Suécia precisa num período de transição”, disse.
  • António Guterres considera que a guerra na Ucrânia “é sem sentido em toda a sua extensão, implacável nas suas dimensões e sem limites no seu potencial para os danos globais”.
  • O Reino Unido impôs sanções à Evraz, a siderúrgica multinacional parcialmente detida por Roman Abramovich.
  • António Costa anunciou que Portugal vai contribuir com 2,1 milhões de euros em ajuda humanitária para a Ucrânia.

Costa anuncia contributo financeiro de 2,1 milhões de euros em ajuda humanitária

Russos que receberam refugiados ucranianos tentaram entrar no SEF e em notários

O que aconteceu durante a manhã

O Ministério da Defesa russo alegou que ao longo da última noite conseguiu aniquilar 600 ucranianos e destruir “múltiplos postos militares” do país e um “grande depósito de armazenamento de munições” na cidade de Mykolaiv.

As Forças Armadas ucranianas garantiram ter conseguido recuperar o controlo de “várias povoações” no sul do país, nos arredores e fronteiras de Mykolayiv e Kherson. Acusam também as forças russas de, “com o apoio de meios aéreos”, terem “retomado a ofensiva com o intuito de tomar o controlo” do complexo industrial e da fábrica de Azovstal — o último reduto da resistência ucraniana na região.

A resposta chegou pouco depois: através do seu porta-voz Dmitry Peskov, o Kremlin negou estar a atacar a fábrica de Azovstal em Mariupol e garantiu que está a cumprir o cessar-fogo prometido para permitir a retirada de civis do local.

O “último reduto” ucraniano em Mariupol voltou a ser atacado, mas não caiu. Rússia anuncia cessar-fogo à Azovstal, onde ainda há civis

A morte de generais russos na guerra da Ucrânia foi possível devido a informações enviadas pelos serviços secretos dos Estados Unidos aos militares ucranianos. Quem o garante é o jornal The New York Times, citando fontes não identificadas dos serviços secretos dos EUA.

As aldeias russas de Zhuravlevka e Nekhoteevka, junto à fronteira com a Ucrânia (a menos de dois quilómetros da mesma), terão sido bombardeadas, relatou o governador da região russa de Belgorod, Vyacheslav Gladkov. É mais um relato de ataques atribuídos pela Rússia à Ucrânia — há três semanas, um conselheiro de Zelensky, Mikhailo Podolyak, classificou anteriores ofensivas a esta região como “karma”, notando que “as razões para a destruição de infraestruturas militares em áreas fronteiriças podem ser bastante variadas”.

O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediu esta quinta-feira que a adesão da Ucrânia à UE acelere e seja facilitada pelos Estados-membros da União. Zelensky discursou por videochamada na Conferência internacional de doadores para a Ucrânia, iniciativa organizada pelos primeiros-ministros da Polónia e Suécia.

Na mesma intervenção, Zelensky defendeu que “a Ucrânia, a Europa e o mundo inteiro caminham para uma vitória conjunta”, pediu um “plano de apoio internacional estratégico” para o país que lembre “o histórico Plano Marshall” e defendeu que esta é “uma guerra pela liberdade e por uma vida democrática para milhões de pessoas — não apenas para a Ucrânia mas para todos nós e para todos aqueles que se possam sentir ameaçados pela tirania”.

Zelensky pede que entrada da Ucrânia na UE acelere: “Não deve ser apenas uma promessa”

Numa entrevista que antecedeu a Conferência internacional de doadores para a Ucrânia, o Presidente do Conselho Europeu Charles Michel alinhou com Zelensky quanto à necessidade de “um Plano Marshall” europeu para reconstruir a Ucrânia. Deu ainda um exemplo de fundos que o podem financiar: os bens russos que ficaram congelados na sequência de sanções impostas a oligarcas e altas figuras do país podem ser “confiscados” e canalizados nesse sentido.

Já o primeiro-ministro português António Costa, que também participou na conferência (de forma remota), anunciou que Portugal vai contribuir com 2,1 milhões de euros em ajuda humanitária à Ucrânia.

O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky lançou também uma campanha mundial de doação e levantamento de fundos para ajudar a Ucrânia — mais especificamente, para “ajudar os defensores” do país, “salvar os civis” e “reconstruir” a nação.

Um deputado russo, Vyacheslav Nikonov, defendeu que a União Europeia (UE) não tem alternativa e terá de usar petróleo da Rússia. O motivo: a maioria das refinarias europeias estão adaptadas especificamente para as matérias-primas russas, alegou.

A perda de tanques russos é fruto de um erro de design que o Ocidente conhece desde a Guerra do Golfo

O que aconteceu durante a noite e madrugada

As forças russas terão matado cinco civis nas últimas 24 horas, em Lugansk. A informação foi avançada nas últimas horas pelo governador ucraniano da região do leste da Ucrânia, Serhiy Gaidai, que atribuiu os óbitos a bombardeamentos russos.

O ministério da Defesa da Rússia anunciou esta quinta-feira que realizou exercícios de disparo simulado de mísseis com capacidade nuclear junto ao Mar Báltico, tendo praticado também operações militares em condições de “radiação química” e em ambiente de “radiação”.

Os exercícios nucleares das forças militares russas foram feitos em Kaliningrado. A região, que pertence à Rússia (é um exclave, um território localizado fora dos principais limites geográficos do país), fica próxima do Mar Báltico e está situada entre a Lituânia e a Polónia. O Kremlin já tinha ameaçado aumentar o armamento nuclear na região, caso a Finlândia e a Suécia sinalizassem uma vontade de aderir à NATO — algo a que Putin se opõe.

Rússia diz ter feito exercícios de disparo simulado de mísseis com capacidade nuclear

Durante a noite, as Forças Armadas da Ucrânia anunciaram que tropas russas entraram no complexo industrial de Azovstal, o último reduto da resistência ucraniana em Mariupol. Porém, não terão ainda conseguido entrar na fábrica metalúrgica onde estão sitiados soldados do batalhão Azov, que procuram defender a cidade da invasão russa.

Já depois dos relatos de batalhas “ferozes” e “sangrentas” no complexo industrial de Azovstal, a Rússia anunciou um cessar-fogo que o Kremlin promete cumprir. O motivo: permitir a retirada de civis — que ainda ali estão retidos — em corredores humanitários, ao longo dos próximos três dias (5ª feira, 6ª feira e sábado)

“Parecia que estávamos num grande berço de bebés, sempre a abanar”. Os dias na Azovstal e as horas na estrada contadas por quem saiu

O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, reforçou a pressão junto dos países aliados da Ucrânia para que enviem mais armas para o país. E acusou os Estados da União Europeia (UE) que bloquearam as importações do petróleo russo de serem “cúmplices” dos “crimes cometidos” na Ucrânia

Já o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, alegou que a “operação militar especial” da Rússia em Mariupol tem como objetivo “restaurar a paz” na cidade portuária.

Lula da Silva acusou o chefe de Estado ucraniano Volodymyr Zelensky, que preside um país invadido militarmente pela Rússia, de querer a “guerra”. “Se ele [não] quisesse a guerra, teria negociado um pouco mais”, apontou.

A agência de notícias Associated Press fez uma investigação detalhada ao bombardeamento russo a um teatro na cidade de Mariupol, a 16 de março, e diz ter concluído que o número real de mortes será mais próximo das 600 vítimas, em vez das 300 confirmadas oficialmente nos dias seguintes.

A Rússia invadiu o espaço aéreo da Finlândia, acusou o ministério da Defesa de Helsínquia num momento em que o país prepara-se para submeter uma candidatura de adesão à NATO.