A eletricidade foi o fator que mais pesou na aceleração da taxa de inflação registada em julho, de acordo com os dados divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatísticas. O INE confirmou que a inflação atingiu os 9,1% face a igual mês do ano passado, uma aceleração do índice de preços ao consumidor face a junho que foi puxada pela eletricidade. Este subgrupo teve uma variação mensal de 10,25% face a junho, não obstante julho ter sido o mês em que entrou em vigor a descida das tarifas reguladas.

INE confirma inflação de 9,1% em julho, a mais alta desde novembro de 1992

Para além da descida das tarifas reguladas em 2,6% para os consumidores domésticos, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) determinou igualmente uma redução acentuada das tarifas de acesso das empresas — entre 75% e 134,4% que chegaram a entrar em valores negativos para clientes com média, alta e muito alta tensão. Também as tarifas de acesso da baixa tensão, pagas pelos consumidores, caíram 68,4%, e são apenas os preços pagos pelas famílias que contam para o cálculo da inflação.

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Esta descida extraordinária dos preços num contexto de fortes valorizações no mercado grossista resultou sobretudo da opção de antecipar a transferência para o sistema do sobreganho obtido nos contratos de venda de energia eólica para aliviar a fatura elétrica. Também a EDP, o maior cliente do mercado liberalizado, anunciou uma baixa de até 2,9% nos preços para o segmento residencial.

Eletricidade. EDP Comercial reduz preços até 2,9% a partir de julho

No entanto, estas descidas foram insuficientes para travar o agravamento em 10% dos preços da eletricidade no mês passado. Apenas os voos internacionais tiveram um aumento mais expressivo no cabaz de bens e serviços que compõem o índice de preços ao consumidor, mas o seu peso no índice é muito menor que o da energia elétrica. Questionado pelo Observador sobre o efeito da anunciada descida da eletricidade nos dados da inflação de julho, fonte oficial do INE refere que o aumento registado no IPC daquele mês “é referente ao preço da eletricidade em julho, independentemente do momento de faturação”.

Comercializadores aumentaram preços em julho

O INE explica que o índice relativo aos preços da eletricidade “é apurado com base nos tarifários praticados por uma amostra das maiores empresas comercializadoras de eletricidade, bem como informação disponibilizada pela ERSE. A recolha de preços é efetuada na semana de referência do IPC, a meio de cada mês, e são tidos em conta um conjunto de tarifários com caraterísticas constantes ao longo do tempo”.

Apesar de se ter verificado uma redução dos preços no mercado regulado — onde estão um pouco menos de um milhão de famílias —, no mercado liberalizado — onde estão cinco milhões de famílias — “foram registadas variações significativas de preços nos tarifários representados na amostra do IPC”. O INE sublinha ainda que o preço da eletricidade “resulta da conjugação de componentes fixas e variáveis, cujas variações poderão nem sempre ser no mesmo sentido”.

O mecanismo ibérico que limita o preço do gás natural na produção elétrica entrou em vigor a 15 de junho.

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Ou seja, o IPC é calculado tendo por base um “perfil de consumo representativo da população residente em Portugal, onde as componentes fixa e variável têm uma ponderação específica, dado particularmente relevante no caso em que o preço da componente fixa diminui enquanto a componente variável aumenta, e/ou vice-versa”. Ou seja, se em julho e por determinação da ERSE, na sequência de uma decisão política, as tarifas de acesso baixaram para todos os consumidores, a tal componente fixa, o preço da componente variável, ou seja a energia, terá tido um comportamento contrário de subida, anulando os efeitos da referida baixa, pelo menos para o consumo que conta para o INE calcular a inflação.

No destaque sobre a inflação de julho, o INE refere que as classes que mais contribuíram para taxa de variação mensal do índice de preços ao consumidor foram a habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis com uma subida de 3,1% face a junho e os bens alimentares e bebidas alcoólicas com um variação positiva de 0,8%. A inflação homóloga de julho é o valor mais elevado desde novembro de 1992.