Numa altura em que enfrenta duras críticas da parte da opinião pública em França, devido aos planos para alterar o sistema de pensões e ao aumento da idade da reforma, dos 62 para os 64 anos, Emmanuel Macron está envolto numa nova polémica. O Presidente francês encontrou-se com Jeff Bezos no Palácio do Eliseu, numa cerimónia que não era de conhecimento público, e agraciou o magnata norte-americano com a Legião de Honra, a mais alta condecoração do Estado francês.

A reunião, que decorreu à porta fechada na quinta-feira, terá contado com a presença de vários convidados VIP e líderes do mundo empresarial francês. O jornal britânico The Guardian deu conta de que Bezos já teria sido condecorado há cerca de dez anos, durante o mandato de François Hollande, mas não tinha ainda recebido presencialmente a medalha — algo que o evento desta quinta veio retificar.

O empresário de 59 anos é atualmente o terceiro homem mais rico do mundo, atrás do magnata francês Bernard Arnaut, e do CEO da Tesla e dono do Twitter, Elon Musk (primeiro e segundo da lista, respetivamente). Arnaut terá sido um dos presentes na cerimónia de condecoração de Bezos que, curiosamente, aconteceu no mesmo dia em que teve lugar uma ação industrial com vista a protestar contra o aumento da idade da reforma decretado pelo Presidente francês.

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A ocasião não foi anunciada pelo Eliseu e não constava da agenda oficial de Macron, uma vez que foi considerado um “evento privado”, que foi organizado com a família Bezos para coincidir com uma altura em que o fundador da Amazon estivesse em Paris. A revista francesa Le Point, que noticiou o sucedido, descreveu o evento como “sumptuoso, mas confidencial”. Ao The Guardian, fonte do gabinete de comunicação do Palácio disse não ter quaisquer informações sobre o evento.

A revelação aumentou ainda mais o clima de tensão e críticas que o governo de Macron tem enfrentado. Críticos ligados à esquerda francesa, que o têm acusado de ser “o Presidente dos ricos”, aproveitaram para lançar farpas ao evento e à forma aparentemente secreta como este ocorreu.

Manon Aubry, do movimento político de esquerda França Insubmissa, fundado por Jean-Luc Mélenchon, fez eco das críticas ao Presidente francês na sua página de Twitter:

“Contexto: lucros recordes na CAC40 [bolsa de valores francesa], inflação, manifestações massivas contra a reforma nas pensões… Ideia brilhante de Macron: condecorar o chefe da Amazon Jeff Bezos… com a Legião de Honra”, pode ler-se.

Também no Twitter, o deputado do partido na Assembleia Nacional, François Piquemal, resumiu o descontentamento crescente contra o executivo: “Agora e sempre, tudo para os ricos, nada para o povo”.

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