Os documentos confidenciais norte-americanos que foram divulgados nas redes sociais esta sexta-feira incluem informação sobre a política de países aliados dos Estados Unidos, nomeadamente no que diz respeito à sua posição face à guerra da Ucrânia.

Justiça dos EUA abre investigação à fuga de informação de alegados planos militares, após nova leva de documentos chegar às redes sociais

Em concreto, os EUA terão reunido informação sobre as posições de Coreia do Sul, Israel e Emirados Árabes Unidos, países que Washington espera conseguir convencer a apoiar mais a causa ucraniana. Mas a divulgação desta informação, escreve o The New York Times, pode “afetar as relações diplomáticas” com alguns países, já que “torna claro que os Estados Unidos não estão apenas a espiar a Rússia, mas também os seus aliados“.

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O Times destaca o caso da Coreia do Sul, país que tem recusado exportar armamento para o conflito ucraniano. Segundo o jornal, os documentos contêm pelo menos duas referências à política de Seul e à possibilidade de contornar a questão com a entrega de munições por parte da Coreia aos EUA, para que estes os enviem para a Ucrânia (evitando assim a entrega direta de Seul a Kiev).

Esse acordo está a ser estudado desde pelo menos novembro do ano passado, segundo o Wall Street Journal, e poderá agora estar mais perto de ser concluído, já que há um fabricante sul-coreano a negociar diretamente com Washington neste momento. Mas o caso estará a provocar desconforto em Seul e os norte-americanos parecem estar a par disso, com a informação contida nesta fuga de documentos a dar conta de que o governo coreano teme que o Presidente Joe Biden pressione diretamente o país.

A Coreia do Sul não é o único país visado nos documentos secretos revelados, embora haja menos informação sobre os restantes. Segundo a CNN, as secretas americanas reuniram também informação sobre a possibilidade de Israel vir a fornecer armamento à Ucrânia e sobre as ligações dos Emirados Árabes Unidos à Rússia.

No primeiro caso, é de notar que Israel tem mantido oficialmente uma posição de neutralidade no conflito da Ucrânia, em particular para não prejudicar relações com a Rússia na vizinha Síria. Em março, porém, o governo israelita autorizou pela primeira vez a venda de sistemas de defesa aérea à Ucrânia, justificando a sua decisão com o facto de ser material de defesa e não de ataque.

Relativamente aos Emirados, outro país que assume como neutral, o governo de Abu Dhabi tem estado debaixo da mira de norte-americanos e europeus pelo facto de se estar a assumir como um mercado de exportação de bens ocidentais para Moscovo, ajudando assim o regime de Vladimir Putin a contornar as sanções internacionais.

Já em março, o Financial Times dava conta de uma visita de responsáveis dos EUA, União Europeia e Reino Unido ao país com o objetivo de pressionar os Emirados. Segundo o jornal, a exportação de componentes elétricos dos Emirados para a Rússia disparou ao longo do ano passado, atingindo um volume de negócios de quase 300 milhões de euros.

A fuga de documentos confidenciais que ocorreu esta sexta-feira continua a ser investigada pelo Pentágono. A veracidade da informação continua por apurar, com alguns especialistas a notarem que algum do conteúdo pode ter sido adulterado, nomeadamente o número das baixas russas registadas no conflito da Ucrânia. Por essa razão, Washington desconfia que a Rússia poderá estar por trás da divulgação dos documentos.