O processo de classificação dos documentos da TAP que se encontravam no computador de Frederico Pinheiro — e que justificaram a chamada do SIS por parte do gabinete do ministro João Galamba — iniciou-se após a constituição formal da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Tutela Política da TAP e após os deputados terem pedido o primeiro conjunto de documento aos ministérios das Infraestruturas e das Finanças.

A CPI foi formalmente constituída a 22 de fevereiro de 2023 e, ao que o Observador apurou junto de fontes próximas do processo, a classificação que tornou aqueles documentos confidenciais apenas se iniciou entre 16 e 24 de março.

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Contactado pelo Observador, Frederico Pinheiro, o ex-adjunto que foi exonerado por João Galamba esta quarta-feira, confirmou que foi ele próprio a sugerir o processo da classificação à chefe de gabinete Eugénia Correia: “Foi por mim sugerido”, garantiu. Sem querer fazer qualquer outra declaração, acrescentou apenas que não guardou nenhum desses dados: “Não fiquei com qualquer documento classificado na minha posse”.

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Frederico Pinheiro começou por ser adjunto do ministro Pedro Nuno Santos e acompanhou o plano de reestruturação da TAP desde o início. Esteve presente em todas as reuniões preparatórias com a Comissão Europeia que culminaram na notificação formal a Bruxelas do “auxílio à reestruturação” no valor de 3,2 mil milhões de euros com “objetivo de financiar um plano de reestruturação” da TAP.

Quando transitou para o gabinete de João Galamba, mantendo a pasta da TAP, Pinheiro era o adjunto que mais know-how tinha sobre o dossiê da TAP, porque o acompanhava desde o início, como era aquele que tinha mais documentação sobre o processo de reestruturação da TAP no seu computador profissional.

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Precisamente por causa disso, terá sido Frederico Pinheiro quem sugeriu à chefe de gabinete Eugénia Correia que se iniciasse o processo de classificação da documentação relativa ao processo de reestruturação da TAP. Isto porque, segundo Pinheiro, a documentação continha segredos comerciais da transportadora, nomeadamente informações financeiras muito precisas sobre a rentabilidade das rotas, a política de remuneração, a faturação da empresa, assim como todo o projeto financeiro inerente à reestruturação.

É esta informação financeira da TAP e do respetivo processo de estruturação que foi alvo de processo de classificação que o gabinete de João Galamba iniciou no Gabinete Nacional de Segurança — organismo público responsável pelo processo de classificação de documentação que recomenda os diferentes tipos de segredo que se aplicam a cada caso.

No caso da informação financeira da TAP, foi aplicado o grau de “confidencial”.

Classificação só se terá iniciado após reunião com as Finanças a 15 de março

Contudo, o processo de classificação só se iniciou no Gabinete Nacional de Segurança (GNS) entre 16 e 24 de março e após a Comissão de Parlamentar de Inquérito da TAP ter pedido os primeiros documentos.

Antes, ocorreu uma reunião de coordenação entre os gabinetes dos ministros das Infraestruturas e das Finanças no Terreiro do Paço a 15 de março. Vários adjuntos de João Galamba e de Fernando Medina encontraram-se para se coordenarem em relação dossiê TAP, nomeadamente sobre a documentação que deveria ser entregue. Terá sido nessa reunião que as Finanças terão ficado a saber do processo de classificação que as Infraestruturas iriam iniciar no Gabinete Nacional de Segurança.

A Comissão Parlamentar de Inquérito da TAP começou a ponderar sobre os documentos a solicitar às entidades públicas na reunião de 1 março, as primeiras diligências oficiais terão começado após a reunião de 8 de março e só a 15 de março é que começaram a chegar as primeiras respostas das entidades públicas.

As perguntas enviadas ao Ministério das Infra-Estruturas

Na sequência das informações recolhidas, o Observador enviou as seguintes perguntas formais ao Ministério das Infraestruturas ao início da noite deste sábado:

  • “A que dizem respeito as respetivas informações classificadas?
  • “O Ministério das Infraestruturas confirma que estariam unicamente relacionadas com dados comerciais da TAP?”
  • “Quando é que o processo de classificação desses documentos começou e quem é que sugeriu tal classificação?”

O Ministério das Infraestruturas não respondeu até à publicação desta peça.

O Observador apurou, contudo, junto de uma fonte governamental que “os documentos classificados são os que foram enviados à CPI”.