As imagens do Chringuito a três horas do início do encontro de basquetebol entre Partizan e Real Madrid em Belgrado mostravam aquilo que mil palavras não iriam contar tão bem: num parque adjacente à Stark Arena, onde iria ser disputado o jogo 3 dos quartos da EuroLeague, começavam a chegar carrinhas e carrinhas de militares sérvios quase como se estivessem a preparar uma guerra. “Vamos ter a mesma segurança que há numa partida com o Estrela Vermelha”, defendiam os responsáveis do clube, apontando para os mais de 500 elementos destacados para o jogo. No entanto, mesmo com toda a segurança a postos, e com a promessa que ao primeiro incidente todas as bancadas seriam esvaziadas, toda a tensão era demasiado evidente.

Para se perceber o que estava em causa era preciso recuar até à passada quinta-feira, quando se realizou o jogo 2 da série: a menos de dois minutos do final da partida que era controlada por completo pelo Partizan, uma falta mais dura de Sergio Llull sobre a estrela Kevin Punter deu origem a uma autêntica batalha campal, com o trio de árbitros, onde se incluía o português Fernando Rocha, a desqualificar um total de 21 jogadores. Os sérvios ganhariam mesmo a partida por 95-80 sem a mesma chegar ao fim, os merengues estavam a um desaire de cair mas havia quase que uma “promessa de retaliação” dos adeptos balcânicos, que encheram o aeroporto na chegada de madrugada da equipa para saudar os seus jogadores e “heróis”.

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O jogo em si, a nível de qualidade, nunca seria o mesmo: Yabusele foi punido com cinco jogos de suspensão, Kevin Punter apnhou dois encontros de castigo, Deck e Lessort falhavam também a partida 3 da série. Eram elementos importantes nos dois conjuntos que não marcariam presença no recinto com melhor média de assistências na EuroLeague (17.763) que desta vez teve 50.000 solicitações em 24 horas para onde cabiam menos de 20.000 pessoas. E para controlar tudo o que se poderia passar, no sentido de virar de vez uma das páginas mais negras das competições europeias de basquetebol, rumou a Belgrado o diretor desportivo de toda a competição, Ibrahim Erkan. Dúvida: como conseguiria o Real reagir neste ambiente?

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“Sempre houve ali um ambiente de grande animação, fazem duvidar-te do teu jogo porque não é fácil jogar ali com tanta gente, tão próxima, tão dentro do jogo e a vibrar tanto com os seus jogadores. No entanto, nós só pensamos mesmo no basquetebol. Não viajámos com medo, vamos só fazer um jogo e não se vai passar mais nada”, dizia o técnico dos espanhóis, Chus Mateo. “O meu grande desejo é que os adeptos criem o ambiente que tivemos todo o ano, que sejam justos e que tenham desportivismo. Quero que tudo aconteça como deve acontecer e que o Real não tenha problemas”, destacara o treinador dos sérvios, Zeljko Obradovic. As palavras tentavam colocar água na fervura mas este seria mais do que um mero jogo de basquetebol. No entanto, é nos infernos que os merengues encontram o paraíso. E de forma discreta, humilde e com muito trabalho à mistura, superaram o impacto do ambiente para ganharem por 82-80 e forçarem o jogo 4.

Tal como se podia antever, o Partizan teve uma entrada demolidora no jogo a fazer um prolongamento do ambiente que se vivia no pavilhão: Dzanan Musa começou o encontro com uma falta atacante, a seguir fez um turnover e quando deram por ela a vantagem já ia em 9-0 com uma defesa campo inteiro logo após um desconto de tempo. Tudo corria bem aos sérvios até mesmo quando o Real reentrou na partida, com uma percentagem de lançamentos incrível que permitiu terminar o primeiro período a ganhar por 32-19. Todavia, e por mais gritos que Obradovic desse no banco, o Partizan não conseguiu aguentar a vantagem, permitindo que Walter Tavares ganhasse a zona interior e Rudy Fernández fizesse triplos para o 48-45 ao intervalo.

Aquele primeiro tremor inicial estava superado e os espanhóis estavam apostados em conseguir manter a esperança na EuroLeague, com a defesa a conseguir acertar melhor nas marcações e nas trocas e o ataque a encontrar outras soluções de lançamento. Foi assim que, a meio do terceiro período, o Real passou mesmo para a frente (54-53), deixando a partida capaz de cair para os dois lados mas com os visitantes a chegarem aos últimos dez minutos com uma vantagem de três pontos (66-63). Só mesmo no final haveria um vencedor com um triplo de Williams-Goss a desequilibrar as contas para um triunfo apertado por 82-80 que deixa tudo em aberto na eliminatória face a um pavilhão que recebeu um enorme balde de água fria…