Roger Waters está a ser investigado pela polícia alemã por “suspeita de incitamento ao ódio público”. Em causa está a roupa usada pelo músico britânico durante um concerto em Berlim este mês de maio.

Segundo as autoridades, “a roupa usada em palco” por Waters, “semelhante à roupa de um oficial das SS”, “pode ser usada para glorificar ou justificar a liderança nazi, perturbando, por isso, a paz pública”, declarou esta sexta-feira o porta-voz da polícia alemã, Martin Halweg, à AFP, confirmando assim a notícia avançada um dia antes pelo Jewish News, um jornal judaico britânico.

O Jewish News refere-se apenas ao espetáculo de 17 de maio na Mercedes-Benz Arena, em Berlim, embora o co-fundador dos Pink Floyd tenha dado um outro concerto no mesmo local no dia seguinte. As duas datas integraram a digressão europeia e sul-americana “This is Not a Drill”, que arrancou em Lisboa em meados de março. A tour é descrita como podendo ser a última do músico de 79 anos.

[Um vídeo do concerto em Berlim partilhado por Roger Waters nas redes sociais:]

O espetáculo, que segue mais ou menos a mesma linha em todas as datas (em Lisboa, por exemplo, também usou a mesma roupa), inclui uma cena em que Waters usa um uniforme preto semelhante ao de um oficial nazi, mas que tem nos colarinhos os dois martelos do álbum The Wall, enquanto empunha uma arma falsa. É um momento de sátira, que termina com disparos fictícios em direção ao público.

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O alinhamento dos concertos de “This is Not a Drill”, que revisita temas de Pink Floyd e da carreira a solo de Waters, inclui vários temas de The Final Cut. O álbum, o último dos Pink Floyd em que o músico participou, é dedicado ao pai de Waters, Eric Fletcher Waters, que morreu em 1944 na Batalha de Anzio, durante a Segunda Guerra Mundial. The Final Cut tem inúmeras críticas a este conflito e ao período do pós-guerra no Reino Unido.

O co-fundador dos Pink Floyd foi também atacado por ter exibido nos ecrãs uma imagem de Anne Frank, a jovem alemã judia que morreu no campo de concentração der Bergen-Belsen, e de Shireen Abu Akleh, jornalista palestino-americana assassinada durante uma visita a um campo de refugiados na Palestina.

No Twitter, o governo de Israel acusou o músico de relativizar o Holocausto. “Bom dia a todos menos a Roger Waters que passou a noite em Berlim (sim, Berlim) a violar a memória de Anne Frank e dos seis milhões de judeus que foram assassinados durante o Holocausto”, refere a publicação.

A coordenadora da Estratégia Europeia para Combater o Antissemitismo, a alemã Katharina von Schnurbein, também condenou as ações de Waters, declarando no Twitter que se sente “doente e mal disposta com a obsessão de Roger Waters com menosprezar e banalizar a Shoah” e com “a maneira sarcástica como se delicia a pisar as vítimas sistematicamente assassinadas pelos nazis”. “A banalização do Holocausto está criminalizado por toda a União Europeia”, acrescentou.

O tweet foi partilhado pela Enviada Especial dos Estados Unidos da América para a Monitorização e Combate ao Antissemitismo, Deborah E. Lipstadt, que declarou estar totalmente de acordo com as palavras de Von Schnurbein.

Figura polémica devido às suas posições políticas, Waters é um conhecido defensor da causa palestiniana. O músico britânico tem sido acusado de antissemitismo, acusação que nega veemente, dizendo que os seus protestos têm como alvo as autoridades israelitas e não o povo judaico.

Nos últimos tempos, o músico tem dado que falar devido às suas opiniões sobre a guerra na Ucrânia. Em fevereiro, discursou no Conselho de Segurança da ONU a convite da Rússia, tendo sido depois criticado por vários diplomatas por ter alegado que a invasão russa foi provocada.

Até ao momento, Waters não respondeu publicamente à abertura da investigação na Alemanha.