Espanha vai retirar as medalhas de “mérito no trabalho” concedidas pelo Estado ao ditador Francisco Franco e a outras pessoas que tiveram cargos públicos no regime franquista, decidiu esta terça-feira o Conselho de Ministros.

Segundo uma nota do Ministério do Trabalho, serão retiradas aquelas medalhas a Francisco Franco e a outras oito pessoas que assumiram cargos públicos no regime autoritário que terminou em 1976, com a morte do ditador.

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“O único trabalho que suscitaram as pessoas a quem hoje retiramos este mérito é terem trabalhado pela agressão e violação dos Direitos Humanos e da democracia no nosso país”, afirmou a ministra do Trabalho, Yolanda Díaz.

A ministra já tinha anunciado a intenção de retirar as medalhas de mérito no trabalho a 62 pessoas ligadas à ditadura e “com as mãos manchadas de sangue” em outubro do ano passado, após a entrada em vigor da Lei de Memória Democrática em Espanha.

O processo para concretizar a retirada de medalhas tem de seguir um procedimento que foi iniciado logo a seguir ao anúncio de Yolanda Díaz e as primeiras decisões foram tomadas pelo Conselho de Ministros desta terça-feira, quando Espanha está em plena campanha eleitoral para as legislativas antecipadas de 23 de julho.

As distinções com a Medalha do Mérito no Trabalho estão inscritas num designado Livro de Ouro que é, em grande medida, um livro da infâmia. Basta percorrer as suas páginas para comprovar, com assombro, que demorámos demasiado tempo a dar este passo”, disse a ministra, na conferência de imprensa final do Conselho de Ministros.

Esta medalha é uma condecoração criada em 1926 que desapareceu com a implantação da República em 1932, mas foi restaurada pela ditadura franquista, em 1942.

A aprovação desta medida coincide com a campanha eleitoral em Espanha para as legislativas de 23 de julho, que tem sido marcada pela possibilidade de uma coligação pós-eleitoral que leve a extrema-direita ao Governo do país, como já aconteceu, nas últimas semanas, em executivos regionais e municipais.

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A esquerda fez da ameaça da entrada da extrema-direita no Governo a principal mensagem da campanha, alertando para os acordos em regiões e municípios que diz serem uma ameaça a direitos consagrados na lei como o do aborto ou outros relacionados com a igualdade de género ou com as pessoas LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais e outras).

Além de ministra do Trabalho, Yolanda Díaz é líder da plataforma de extrema-esquerda Sumar (Somar, em português) e candidata nas eleições de 23 de julho.

O atual Governo espanhol é uma coligação do Partido Socialista (PSOE) com uma plataforma de extrema-esquerda Unidas Podemos.

As sondagens das eleições dão todas a vitória à direita em 23 de julho.