Considerada uma “monstruosidade” por Adolf Hitler, a principal sinagoga de Munique, na Alemanha, foi mandada destruir pelo líder nazi em 1938. Passados 85 anos, destroços do monumento foram encontrados debaixo de água, a cerca de oito quilómetros de distância do local onde em tempos se encontrava.

A descoberta foi feita no dia 28 de junho por trabalhadores da construção civil da cidade alemã que, durante as obras de renovação de uma pequena barragem no rio Isar, encontraram colunas da antiga sinagoga juntamente com uma tábua de pedra com os Dez Mandamentos inscritos em hebraico. Os destroços estavam a cerca de quatro a sete metros de profundidade. Segundo o jornal The New York Times, os restantes terão sido armazenas pela empresa responsável pela demolição para serem depois utilizados como material de aterro quando, em 1956, uma estrutura subaquática foi reconstruida.

Munich Synagogue Sinagoga Munique mandada destruir por Hitler

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“Ontem vi [os restos] pela primeira vez e foi um dos momentos mais emocionantes em 30 anos de trabalho em museus judeus, especialmente ao ver a tábua dos Dez Mandamentos que não era vista desde 1938“, disse Bernhard Purin, diretor do Museu Judaico de Munique, à BBC.

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“Nunca pensámos que encontrássemos algo da antiga sinagoga”, afirmou, acrescentando: “Senti-me feliz e triste ao mesmo tempo com esta descoberta extraordinária”.

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“Foi como se se tivesse aberto  uma fenda no tempo”, descreveu Charlotte Knobloch, ex-presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha que ainda se lembra de ir à sinagoga em criança, com a família. Tal como esta sobrevivente do holocausto apesar do choque, a comunidade judaica da cidade alemã também ficou muito satisfeita com a descoberta.

Agora com 90 anos, Charlotte Knobloch classifica a destruição da sinagoga como o “sinal inequívoco para os judeus de Munique de que o terror estava a chegar”. “Marcou o início da exclusão, da perseguição e da destruição da cultura judaica”, disse, citada no jornal espanhol ABC.

“A descoberta dos restos devolve-nos um pedaço de memória, de um templo no qual os nossos familiares prestavam culto durante gerações”, acrescentou.

Concluída em 1887, a sinagoga foi concebida para se integrar no estilo arquitetónico de Munique. Hitler mandou-a destruir cinco meses antes de os nazis terem desencadeado a “Kristallnacht” — “Noite de Cristal” —, em que quase uma centena de judeus foram espancados até à morte nas ruas e mais de 20 mil foram encaminhados para campos de concentração. Foi o início da “solução final” levada a cabo pelo regime nazi de Hitler. A onda de violência dessa noite destruiu duas centenas de sinagogas, milhares de empresas e casas judaicas e iniciou o processo em larga escala dos judeus.

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“O facto de hoje encontrarmos vestígios do magnífico edifício que outrora definiu a paisagem urbana é um golpe de sorte e comove-me profundamente”, afirmou o presidente da câmara de Munique, Dieter Reiter, citado no The New York Times.

Com a descoberta, cerca de 150 toneladas serão agora recuperadas para serem examinadas, em busca de mais peças da sinagoga. De acordo com o jornal norte-americano, este trabalho que pode demorar anos a ser concluído.