Centenas de doentes (adultos e crianças) procuraram um tratamento inovador para os distúrbios alimentares de que sofriam numa clínica de Bath, mas a terapeuta agravou o estado de saúde das doentes e sujeitou-as a abusos psicológicos, noticia a BBC.

A Clínica Individual de Distúrbios Alimentares entrou em funcionamento em no final dos anos 1990 sob a alçada de Anna Auty, que se apresentava como “psicóloga da saúde” (“health psychologist”). Um título que passou a ser protegido e regulamentado pela Comissão de Saúde e Assistência Social, em 2010, numa altura em que a clínica já teria fechado.

Em Portugal, só podem apresentar-se como médicos, enfermeiros ou psicólogos, aqueles que fizeram um estágio reconhecido pelas respetivas ordens e estão inscritos nas mesmas. Qualquer pessoa pode denunciar uma pessoa que, sem habilitações ou credenciais, se faça passar por um destes profissionais.

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Anna Auty e a clínica não estavam registadas junto de nenhuma autoridade de saúde ou saúde mental, mas uma vez que não anunciava serviços médicos (antes de bem-estar) também não carecia deste tipo de registos, como disse a própria ao jornal Belfast Telegraph, em 2006. Já na altura o jornal indicava que Anna Auty estaria a ser investigada pela proteção de menores por, alegadamente, quase ter provocado a morte de uma criança com os seus tratamentos.

Anna Auty já tinha sofrido de anorexia e criou a clínica e os alegados tratamentos inovadores com base na própria experiência. “Montei a clínica com base em alguns princípios fundamentais: todos são um indivíduo, nenhum distúrbio alimentar é igual, quem sofre têm uma razão por trás da doença e merecem um lugar seguro para explorar isso“, disse igualmente em 2006.

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Mas aquilo que as doentes reportaram à BBC está longe de se assemelhar a um tratamento psicológico ou de bem-estar. Uma doente queixa-se de estar praticamente nua em frente a um espelho enquanto Anna Auty fazia comentários sobre o seu corpo, outra diz que a suposta terapeuta queria que ele se masturbasse para se sentir melhor e outras dizem que os vídeos de pornografia faziam parte da alegada terapia.

Mais, apesar de ser um clínica de tratamento de distúrbios alimentares, não havia qualquer estrutura nas refeições, acusam as doentes, que referem ter tido dias em que comiam apenas uma torrada. A uma doente, a dona da clínica disse que os pensamentos que tinha era capazes de lhe provocar doença ou cancro, criando-lhe ainda mais ansiedade, o que só fez piorar a sua saúde mental.

Se alguém teve uma experiência difícil, pode considerar complicado voltar a confiar em alguém num futuro próximo. A recuperação é longa e pode durar vários anos”, disse Kerri Fleming, chefe de Salvaguarda e Avaliação de Qualidade na associação para os distúrbios alimentares Beat, à BBC.

Cada doente pagava mais de mil libras (quase 1.200 euros) por cada semana na clínica e algumas das doentes passaram lá várias semanas sem terem conseguido alcançar os resultados que desejam e mantendo as marcas dos abusos psicológicos até aos dias de hoje.

A clínica de Bath fechou, mas a BBC não sabe se a alegada terapeuta continua a praticar noutro espaço. Certo é que um fórum online tem registadas críticas à clínica entre 2008 e 2018, mas também algumas pessoas a defender a terapeuta.

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