Era a maravilha de jogar depois do principal adversário, com a informação reunida e na posse do conhecimento de todas as circunstâncias: este sábado, em Londres e depois de o Manchester City ter perdido com o Wolverhampton, o Liverpool defrontava o Tottenham a saber que era líder isolado da Premier League em caso de vitória. O “em caso de vitória”, porém, era o grande obstáculo da equipa de Jürgen Klopp.

Na capital inglesa, o Liverpool entrava em campo vindo de sete triunfos consecutivos e sem qualquer derrota desde o início da temporada, tendo somado apenas um empate contra o Chelsea. Do outro lado, porém, estava um Tottenham que também ainda não tinha perdido na Premier League, que está claramente a criar uma nova identidade à boleia de Ange Postecoglou e James Maddison e que vinha de um empate em casa do Arsenal no North London Derby. Algo que deixava Klopp de pé atrás.

“Tenho de olhar para o jogo e perceber o que posso fazer dele. Não posso adivinhar. Mas claro que sei que vamos ter momentos muito difíceis, é tudo o que posso dizer. Não sei o quão estáveis vamos estar, porque ainda não conseguimos ser estáveis, os nossos inícios de jogo não são ótimos. Ainda não foram ótimos. Mas já mostrámos que conseguimos adaptar-nos, que vamos aprendendo ao longo do jogo e que usamos muito bem o intervalo”, explicou o treinador alemão, que não esqueceu que os reds voltam a jogar para a Liga dos Campeões a meio da semana e que o Tottenham não está nas competições europeias.

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Neste contexto, o Liverpool atuava com Curtis Jones, Mac Allister e Szoboszlai no setor intermédio, com Salah e Luis Díaz a apoiarem Gakpo e Darwin, Diogo Jota e Alexander-Arnold a começarem todos no banco, já que Joe Gomez era o lateral direito de serviço. Nos spurs, Ange Postecoglou lançava Kulusevski, Maddison e Richarlison nas costas de Son, com Pedro Porro a ser titular na direita da defesa, e tanto Højbjerg como Manor Solomon eram suplentes. Tudo numa semana em que o treinador grego, que tem vindo a conquistar muitos fãs desde que assumiu o comando técnico do Tottenham, assumiu que era adepto do Liverpool na adolescência.

“Como qualquer miúdo, tinha posters na parede e o Liverpool era a minha equipa. Mas cresces, as coisas mudam. Era fascinado pela cultura do clube. [Bill] Shankly e [Bob] Paisley, Ronnie Moran, todos esses tipos. Adorava ler sobre eles. O Liverpool, naquela altura… Era uma história única, era onde toda a magia acontecia. Para mim, era quase como ler contos de fadas. Era uma influência. Muitos amigos meus eram do Manchester United, mas eu fui por outro lado para manter as coisas interessantes. Tinha posters do Kenny Dalglish, era louco por ele. Era o meu ídolo”, contou o antigo treinador do Celtic.

O jogo ficou desde logo marcado pela expulsão de Curtis Jones ainda na meia-hora inicial, com o médio inglês a ver o cartão vermelho direto depois de uma falta sobre Bissouma. O Tottenham aproveitou para subir as linhas e aproximar-se da baliza de Alisson de forma mais recorrente, acabando por chegar à vantagem de forma natural: Maddison abriu Richarlison na esquerda com um grande passe e o brasileiro assistiu Son, que só precisou de encostar na grande área (36′).

Ainda assim, e mesmo em inferioridade numérica, o Liverpool conseguiu empatar ainda na primeira parte: Szoboszlai cruzou para a área, Van Dijk amorteceu e Gakpo, com um grande movimento de rotação, atirou para bater Guglielmo Vicario e levar o jogo empatado para o intervalo (45+4′). O avançado neerlandês ficou em dificuldades físicas depois do lance do golo e foi substituído logo no início da segunda parte, com Jürgen Klopp a decidir lançar Diogo Jota.

Ange Postecoglou só mexeu a cerca de 20 minutos do fim, trocando Son por Solomon, e o Liverpool acabou por ficar reduzido a nove elementos logo depois — Jota viu dois cartões amarelos em dois minutos, por duas faltas sobre Destiny Udogie, e deixou os reds ainda mais fragilizados em casa do Tottenham. Klopp tentou reajustar a equipa com as entradas de Endō, Konaté e Alexander-Arnold, com Postecoglou a carregar com Ben Davies e Oliver Skipp, e tudo apontava para o empate. Até ao último suspiro.

Naquele que foi praticamente o último lance do jogo, Porro apareceu na direita e cruzou rasteiro para a área, onde Matip desviou para tentar intercetar a jogada e acertou na própria baliza (90+6′), traindo Alisson e oferecendo a vitória ao Tottenham. No fim, o Liverpool falhou o assalto à liderança da Premier League e sofreu a primeira derrota da temporada, apesar do jogo de enorme sacrifício onde merecia mais, e os spurs mantiveram a invencibilidade e saltaram para o 4.º lugar.