O presidente da empresa do Alqueva avisou esta segunda-feira que esta albufeira, no Alentejo, tem água suficiente para entregar aos vizinhos espanhóis, mas vincou que “a manta é curta” e a que for transferida já não volta.

A água não se multiplica. Se for para um lado, há menos garantia de que fica para servir clientes no futuro. A manta é curta. Ou tapa os pés ou a cabeça”, afirmou à agência Lusa José Pedro Salema, presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA).

Assinalando que os pedidos de água “são, sobretudo, conversas em Espanha a tentar influenciar a opinião pública e os decisores políticos”, o responsável frisou que o assunto “tem que ser tratado ao mais alto nível” entre os dois Estados e não “através dos jornais, nem entre associações, empresas ou autonomias”.

O presidente da EDIA foi esta segunda-feira contactado pela Lusa, a propósito de notícias recentes, publicadas em Portugal, que dão conta de que o Parlamento Regional da Andaluzia, em Espanha, quer água do Alqueva devido à seca.

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A relação dos rios internacionais está protocolada na Convenção de Albufeira, que é até um exemplo de relação entre dois países relativamente à água e onde está muito bem definido quais os fóruns onde esses assuntos se decidem”, notou.

José Pedro Salema disse compreender os anseios das entidades da Andaluzia, devido à falta de água, pois os agricultores dessa região espanhola estão “a atravessar um momento de carência grave e veem uma relativa abundância do outro lado da fronteira“.

A situação de armazenamento no Guadiana espanhol é francamente mais grave do que no Guadiana português”, reconheceu, referindo que as albufeiras da Andaluzia “estão com um nível de armazenamento muito inferior”.

Nesta zona de Espanha, à falta de chuva, sublinhou o presidente da EDIA, junta-se “a pressão sobre os recursos, que também é muito alta”, por ter “muito mais regadio, muito mais população e muito mais turismo“.

Lembrando que, em setembro do ano passado, Portugal “facilitou o não-cumprimento da Convenção de Albufeira” para a redução da água que chegava ao país vinda de Espanha pelo rio Douro, o responsável considerou que se tratou de “um sinal da boa vontade e da atenção que Portugal tem também aos interesses de Espanha”.

Não estou a dizer que vamos fazer igual no Guadiana, até porque seria muito difícil”, ressalvou, advertindo que, neste caso, “não se pode só estalar os dedos” e, ainda que existe um rio, teria que se pensar na forma de captar a água para o lado espanhol.

De acordo com José Pedro Salema, Espanha já faz captações de água, a jusante de Alqueva, junto à barragem de Bocachanza (Huelva), no início do troço internacional do rio Guadiana, e esse também é um dos “temas de discussão há muitos anos“.

Portugal deve ter em atenção os interesses dos outros, mas tem também de defender os seus e há vários problemas por resolver”, pelo que tem que fazer “uma negociação tendo em conta todos os interesses e não um isolado”, acrescentou.

O Parlamento Regional da Andaluzia aprovou uma proposta para a transferência dos direitos da água dos utentes do Alqueva para os utentes da bacia hidrográfica Tinto-Odiel-Piedras e Chanza, no âmbito da cooperação entre Portugal e Espanha, noticiou o jornal Público, este fim de semana.

Segundo o jornal, o pedido de água a Portugal, que resultou de uma proposta do Partido Popular (PP) de Andaluzia, foi justificado pela situação de seca extrema que vive o setor agrícola na região espanhola de Huelva.