As autoridades prisionais iranianas bloquearam a transferência hospitalar urgente da laureada com o prémio Nobel da Paz de 2023, Narges Mohammadi, por se recusar a cobrir a cabeça, informou a sua família.

“Mulheres, vida, liberdade.” Ativista iraniana Narges Mohammadi vence o Nobel da Paz 2023

No domingo, “o diretor prisional anunciou que, de acordo com as ordens das autoridades superiores, era proibido transferir Mohammadi para o hospital sem véu islâmico, sendo a sua transferência cancelada pela segunda vez”, lamentou esta quinta-feira a sua família através de uma publicação na rede social Instagram.

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Na segunda-feira, uma equipa médica foi à ala feminina da prisão de Evin para examinar Mohammadi e realizar um eletrocardiograma após a “prisão ter recusado transferir Narges para a enfermaria”, acrescentaram os seus familiares.

Segundo a família, os problemas cardíacos e pulmonares da laureada com o Nobel da Paz exigem cuidados urgentes.

Ela está disposta a arriscar a vida ao não usar o ‘hijab obrigatório’, mesmo para tratamento médico”, afirmou a família.

O Comité Nobel atribuiu o Prémio Nobel da Paz, a 6 de outubro, a Narges, uma ativista e jornalista de 51 anos, elogiando “a sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e a sua luta pela promoção dos direitos humanos”.

Presa 13 vezes, condenada cinco vezes a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas, Narges Mohammadi, novamente presa desde 2021, tornou-se um dos principais rostos da revolta “Mulheres, Vida, Liberdade” no Irão.

O movimento, que viu mulheres retirarem o seu véu, cortarem o cabelo e manifestarem-se nas ruas, foi desencadeado pela morte, no ano passado, de Mahsa Amini, uma jovem curda iraniana de 22 anos, após a sua detenção em Teerão pelo incumprimento do código de vestuário islâmico.

Prémio Sakharov para a iraniana Mahsa Amini, que morreu o ano passado, e para o movimento Mulher, Vida, Liberdade do Irão

Numa mensagem de agradecimento pelo Nobel, lida pela sua filha e publicada no página oficial do Nobel na terça-feira, Mohammadi descreveu o hijab obrigatório como a “principal fonte de controlo e repressão na sociedade, destinada a manter e perpetuar um governo religioso autoritário”.