Associações contra o desperdício alertaram, esta sexta-feira, para os excessos de consumo até ao fim do ano, pedindo contenção e lembrando os números que indicam que um terço dos alimentos é desperdiçado.

As pessoas podem usar essa média olhando para a mesa da consoada: um terço do bacalhau, do peru, do bolo-rei, dos doces e dos salgados irá para o lixo, disse à Lusa o diretor do movimento “Unidos Contra o Desperdício”, Francisco Mello e Castro.

“É uma época de muitos abusos de consumo, ainda que por boas razões, e não só alimentar. Basta ver nas manhãs seguintes (ao Natal e Ano Novo) a quantidade de lixo nos caixotes”, referiu, lamentando que ao mesmo tempo seja notório um aumento de pessoas sem-abrigo.

O movimento lembra dados como 25% da água doce ser usada para cultivar alimentos que serão desperdiçados, mas também os gases com efeito de estufa gerados para produzir esses alimentos inúteis (tantos que se o desperdício alimentar fosse um país seria o terceiro maior emissor).

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A verdade, contrapõe também à Lusa, Sara Morais Pinto, da associação “Zero Waste Lab”, é que devia haver mais sensibilização e informação sobre o ciclo de vida de um produto, desde quando é feito, que quantidade de água consumiu, que materiais foram necessários, onde foi feito, a logística de transporte, o tempo de utilização, até ser considerado lixo.

Entende a cofundadora da associação que a sensibilização para o desperdício, alimentar ou não, é crucial. E na altura de Natal e Ano Novo é um momento em que as pessoas, individualmente, “podem fazer diferente”, para que assim as políticas públicas também sejam melhoradas.

O desperdício alimentar é uma responsabilidade de todos

A “Zero Waste Lab”, com outras associações, está a preparar um documento a entregar ao próximo governo no sentido de ser flexibilizada a venda a granel e que essa venda a granel seja um direito do consumidor, disse Sara Morais Pinto.

“E é a sociedade civil que tem de pensar nisto. Não vemos nas normas sobre a economia circular a questão alimentar”, lamentou, referindo que o Natal não tem nada que ver com o consumo, mas o apelo ao consumo já está enraizado, bem como a ideia de que se fica mais satisfeito comprando mais.

Nesse sentido, entende a responsável, deve-se replicar as lojas de venda de produtos em segunda mão, a reutilização, comprar nos mercados locais, nos artesãos, ou mesmo fazer o próprio presente.

Há muitas formas de fazer diferente, da forma de se embrulhar as prendas à preparação da ceia de natal. “E até pode ser divertido”, afiançou, lembrando que 40% do conteúdo dos caixotes do lixo sejam resíduos urbanos.

Segundo estimativas citadas pela “Zero Waste Lab” são coletadas a cada ano 11,2 mil milhões de toneladas de resíduos sólidos, com o setor dos resíduos a contribuir significativamente para a emissão de gases de efeito estufa em ambientes urbanos e para a perda da biodiversidade.

Cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas a cada ano, e está estimado que até 37 milhões de toneladas de resíduos plásticos entrem anualmente no oceano até 2040.

Também na área da alimentação os números do movimento “Unidos Contra o Desperdício” são altos. Em 2019 os 21 Bancos Alimentares evitaram que cerca de 17.218 toneladas de alimentos fossem para o lixo, alimentando-se com elas 320.000 pessoas ao longo de todo o ano.

Os mesmos números indicam que cada português desperdiça por ano 184 quilos de alimentos, o que dá 1,8 milhões de toneladas, um dos países (o quarto) que mais desperdiça na Europa. O bloco europeu manda para ao lixo, em cada ano, 88 milhões de toneladas de alimentos.

É por isso que, neste Natal, Francisco Mello e Castro aconselha que as compras de alimentos sejam planeadas, e depois que se aproveitem as sobras, que se coma bacalhau em mais refeições, que se reinventem os pratos e se criem novas receitas, que se congele. E que se ofereça o que não se quer a entidades como a “Refood” ou a “Comunidade Vida e Paz”, para citar apenas duas.