Quatro organizações da área do ambiente e do combate ao desperdício alimentar apelaram, esta segunda-feira, aos partidos concorrentes às eleições de 10 de março para considerarem como uma das prioridades o desperdício de alimentos.

“É tempo de assumir o combate ao desperdício alimentar, independentemente da cor partidária ou ideologia”, dizem as organizações numa carta-aberta a propósito das próximas eleições legislativas. E lembram que esse desperdício representa 10% das emissões de gases com efeito de estufa, à escala global.

Recordando os números nacionais e globais do desperdício alimentar, os subscritores consideram fundamental que os partidos se comprometam a aprovar legislação para reduzir o desperdício alimentar, “e que isto conste nos seus programas eleitorais”, devendo o próximo Governo aprovar uma lei nesse sentido.

Essa legislação deve contemplar, dizem também os autores do documento, obrigações e boas práticas para as organizações e empresas, criação de modelos de medição em toda a cadeia alimentar, definição de objetivos de redução de desperdício, e incentivos (fiscais e outros) para a redução desse desperdício.

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“É importante ter em conta que países europeus, como Espanha, França ou Itália, já têm ou estão agora a desenvolver obrigações e incentivos relevantes para combater o desperdício alimentar”, diz-se no documento, no qual se lembra que antes da queda do Governo estava em discussão no parlamento uma lei contra o desperdício alimentar.

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Assinam a carta o coordenador da área da alimentação da organização ambientalista ANP/WWF, Tiago Luís, e responsáveis de três organizações que lutam contra o desperdício alimentar, Hunter Halder, presidente da “Refood”, Victoria Albiñana, responsável de relações internacionais da “Too Good To Go”, e Francisco Mello e Castro, coordenador executivo do movimento “Unidos contra o Desperdício”.

Os quatro salientam que o desperdício alimentar “tem de ser” um tema prioritário, até pelo compromisso para com a Agenda 2030 da ONU, estando nos objetivos de desenvolvimento sustentável, ou por ser também um tema crucial para a União Europeia.

“A próxima legislatura será crucial para fazer a diferença no cumprimento dos objetivos definidos para o ano de 2030”, dizem.

Na carta-aberta, lembram que 1,8 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente em Portugal, um desperdício de comida que chega a 6,6 quilos por minuto, com cada português a desperdiçar em média 180 quilos de comida por ano.

“O impacto económico é também impressionante, ao custar mais de 3,3 mil milhões de euros por ano. Algo chocante, quando em Portugal cerca de dois milhões de pessoas vivem no limiar de pobreza”, afirmam as organizações, recordado que no mundo passam fome mais de 828 milhões de pessoas.

Globalmente são desperdiçadas 79 toneladas de alimentos por segundo, correspondendo a mais de 2.500 milhões de toneladas por ano. Evitar um quarto desse desperdício faria com que não houvesse fome no planeta.

O desperdício é ainda responsável por 10% das emissões de gases com efeito de estufa à escala global, “um problema ambiental que resulta numa utilização ineficiente” dos recursos, com 30% das terras cultivadas em todo o mundo a serem utilizadas para produzir alimentos que nunca serão consumidos, alertam também os autores da carta-aberta.