O líder da maior e mais temida associação criminosa do Equador fugiu da prisão e com essa fuga parece ter vindo o caos. A situação de segurança interna do país deteriorou-se quando sete estabelecimentos prisionais foram tomados pelos reclusos, tendo sido sequestrados seguranças e guardas. A tensão escalou ainda mais após José Adolfo Macías, conhecido como o criminoso mais perigoso equatoriano, ter fugido de uma prisão em Guayaquil, estando agora a monte.

Inicialmente, o Presidente equatoriano, Daniel Noboa, decretou o estado de exceção para facilitar o trabalho das Forças Armadas na “caça ao homem”. A decisão desagradou aos grupos de narcotráfico e pelo menos sete policias foram sequestrados, as prisões foram novamente tomadas por tumultos e as ruas pelos confrontos, e um grupo de homens armados invadiu uma transmissão em direto da televisão pública.

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José Adolfo Macías Villamar tem 44 anos e é, então, o homem que se considera ser a acendalha dos últimos acontecimentos em território equatoriano. Mais conhecido por Fito, lidera o gangue Los Choneros e estava a cumprir uma pena de 34 anos por crime organizado, narcotráfico e homicídio antes de fugir da Penitenciária do Litoral.

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O crescimento no mundo do crime

“Fito” nasceu a 30 de setembro de 1979, na cidade de Manta, na zona litoral do Equador, e que serve de local estratégico para o tráfico de drogas. Foi nesse mundo que o jovem José Villamar cresceu até se tornar no conhecido – e temido – “Fito”. A primeira vez que foi detido aconteceu em 2000, quando tinha 21 anos e foi acusado de roubo.

Cerca de dez anos depois voltou a ser detido, desta feito por tráfico de droga e crime organizado. Foi então transferido para a prisão de máxima segurança La Roca, de onde fugiu, juntamente com outros 17 presos, em fevereiro de 2013. Para esta fuga, os criminosos imobilizaram 14 guardas prisionais e fugiram de barco. O grupo passou a ser dos mais procurados do país e conseguiu estar em liberdade durante 10 meses. Os foragidos acabaram capturados após serem descobertos nas suas próprias casas.

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A fuga de "Fito" da prisão motivou um forte contingente policial

AFP via Getty Images

No momento da detenção, os agentes apreenderam 3,4 quilogramas de cannabis, cerca de 1 kg de cocaína, 147 munições, 195 fogos de artifício, geladeiras, frigoríficos, ar-condicionados, caixas de som e telemóveis, divulgou na altura a Presidência de Guillermo Lasso, citada pelo Qué Noticias.

Em 2020, Fito assumiu a liderança do gang Los Choneros, depois de Jorge Luis Zambrano (conhecido como Rasquiña), o anterior líder e de quem era o braço direito, ter sido assassinado na cafetaria de um centro comercial local. Desde então, é acusado de ser o culpado pela morte de Zambrano com o objetivo de subir ao poder na prisão, algo que aconteceu depois de se ter gerado uma grande onda de violência nas prisões do Equador, que terminou com quase 300 mortes. O grupo acabou por se dividir nessa altura: parte  do gang considerava que Rasquiña não tem sucessores. O grupo tem, segundo os especialistas, pelo menos oito mil membros.

A transferência de prisão que mobilizou 4 mil policiais

Fito encontrava-se a cumprir uma pena de 34 anos de prisão quando, em julho de 2023, a Penitenciária do Litoral sofreu um massacre que acabou com 31 reclusos assassinados. Para colocar fim à onda de mortos, Fito celebrou um acordo de paz com outros gangues, acabando com os sequestros e extorsões.

O criminoso foi visto em público pela última vez em setembro do ano passado, quando foi transferido para esse estabelecimento prisional, depois de Fernando Villavicencio, candidato nas Presidenciais, ter sido assassinado. Na semana anterior à sua morte, o político tinha dito publicamente que Fito o tinha ameaçado de morte. Na mudança para a prisão de La Roca estiveram envolvidos quatro mil policias.

A mudança durou pouco, já que um mês depois estava de volta à sua “prisão favorita”. No regresso, lançou um videoclipe dentro da cadeia, da música “El Corrido del León”, interpretada por Mariachi Bravo e Queen Michelle, a sua filha. O videoclipe passa por três ambientes diferentes: um bar, um campo com cavalos e a prisão onde Fito cumpria a pena.

Um dos versos da música diz “Ele é o patrão, e o patrão, senhores, é Adolfo Macías Villamar”, em “homenagem” ao criminoso. Após a divulgação do videoclipe, a entidade que rege o sistema prisional do Equador demarcou-se do sucedido, dizendo que “não foi autorizada a entrada de equipamentos de gravação ou produtoras audiovisuais no estabelecimento prisional”. Deste modo, as imagens “podem ter sido obtidas a partir de alguns equipamentos introduzidos ilegalmente”.

Noutra parte do videoclipe, o líder de Los Choneros aparece com um chapéu, sentado e a ler um livro numa das alas da prisão, numa alusão ao diploma de advogado obtido com os estudos que efetuou na cadeia.

O criminoso obteve o diploma de advogado na prisão

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