As ruas em Guimarães apertam e a caravana socialista fica espremida com o candidato lá no meio quase sem perceber o que se passa para lá dessa bolha central. Foi por isso que Pedro Nuno Santos não viu o momento que marcou essa arruada, com a caravana a acelerar mal viu que numa varanda, num prédio no centro histórico, estava um homem a fazer gestos obscenos em direção aos socialistas. Voaram vários objetos. O dia, com arruadas em Caxinas, Guimarães e Vizela na agenda, era para mostrar força e tentar um movimento de viragem, como fez António Costa em 2022, mas ficaram ligeiramente aquém e, a meio caminho, ainda surgiu um incidente e o candidato socialista acabou a pedir “respeito” e “serenidade”.
O caso mais bicudo apareceu em Guimarães, mas logo a seguir, em Vizela, novamente num balcão mais elevado, também se ouviram insultos dirigidos aos socialistas, logo depois do líder do partido passar, mas não passou daí. Curiosamente, mal Pedro Nuno chegou, dois simpatizantes que estavam perto do carro tinham gritado em jeito de saudação de boas vindas: “Não se preocupe que aqui não há latas de tinta” — uma referência ao que aconteceu com Luís Montenegro no início da semana.
Antes, em Guimarães, um homem tinha já provocado o tal momento de descontrolo da caravana, dirigindo insultos aos socialistas que iam na cauda da caravana e que ripostaram. Primeiro, uma troca de palavras, depois os apoiantes do partido começaram a atirar objetos, como paus de bandeira e até mesmo um chapéu de chuva.
Pedro Nuno à bolina, procura a onda e tenta caçar os indecisos do centro
Alguns elementos da direção da caravana tentaram acalmar os ânimos, mas a troca de palavras de baixo para cima e de cima para baixo continuava, até que o homem que estava na varanda pegou num vaso e respondeu ao arremesso de objetos de que estava a ser alvo atirando-o aos socialistas, que o atiraram de volta. O momento só acalmou porque o homem entrou para dentro de casa e fechou a janela. Entretanto, Pedro Nuno Santos já estava num edifício uns metros mais à frente, também à varanda, a acenar aos militantes que o tinham seguido.
O candidato havia de falar do sucedido na paragem seguinte, em Vizela, onde disse que não sente que o ambiente esteja extremado. Em resposta às perguntas dos jornalistas, o socialista pediu “respeito por quem pensa diferente”. Questionado sobre se ficou triste com o que se passara em Guimarães, respondeu que “não” e que os candidatos têm de fazer o seu “trabalho, todos, com serenidade, apresentando as diferentes visões mas sempre respeitando os outros com humildade”.
“A democracia é isso, visões diferentes que devem ser partilhadas com respeito pelos outros”, afirmou ainda o candidato do PS que disse ser “fundamental conseguir apresentar as ideias e propostas, mobilizar o povo português com serenidade e tranquilidade”.
Ao seu lado, neste domingo pelo distrito de Braga, Pedro Nuno Santos teve sempre ao seu lado o cabeça de lista pelo círculo eleitoral, José Luís Carneiro. Foi o seu adversário nas eleições internas, em dezembro passado, mas surgiram agora lado a lado. No início da arruada, um simpatizante furou a bolha para ir até ao dois e pedir uma selfie de “um abraço” entre os três. Pedro Nuno e Carneiro concederam o desejo e, no final da arruada, os dois subiram a um carro para saudar os apoiantes que os tinham acompanhado no percurso. Mais tarde, em Vizela, o líder do PS havia de agradecer ao “grande deputado e grande ministros”
Já da parte da manhã, o PS tinha passado pelo distrito do Porto, onde Pedro Nuno contactou a população de Caxinas, num circuito curto pela Avenida Carlos Pinto Ferreira. A massa de simpatizantes atrás de si entupiu o trânsito e para Pedro Nuno isso mostrou “aos que já tinham a arrogância dos que acham que vão ganhar onde está a verdadeira força” — de manhã a TSF divulgara uma sondagem que dava o PS à frente da AD, embora estivessem muito próximos.
Montenegro que não vai para Espinho e os apupos a Marcelo
Em Vizela, o seu amigo e autarca local Victor Hugo Salgado tinha dado um ajuda também, sobretudo nos ataques à direita, enumerando, num palco instalado junto ao coreto no Jardim Público, que foi a “AD que cortou as progressões na função pública, não aumentou as reformas, não aumentou o salário mínimo” e do público um apoiante gritou: “E os feriados”. O autarca agradeceu a deixa e concluiu que, sim, “cortaram os feriados”.
E ainda se dirigiu a Montenegro que “andou a vida toda a trabalhar para se primeiro-ministro”, por isso, disse perguntando ao público: “Se ele precisar de uma coligação com o Chega para chegar ao poder, acham que vai para Espinho? Não, vai coligar-se com o Chega”, respondeu logo. Também tinha reservada um alinha para Marcelo Rebelo de Sousa que diz que “vai criar condições para ele fazer esse acordo”. Aqui ouviram-se apupos dos muitos simpatizantes que estavam a ouvir as intervenções num mini-comício muito participado.
É ponto de passagem quase obrigatório em campanha, local onde o atual autarca já se afastou do partido, em conflito, candidatando-se sozinho à câmara. Ganhou e anos depois, fizeram as pazes e, em 2021, Victor Hugo Salgado já se voltou a candidatar pelo partido. Responde sempre a esta passagem das caravanas eleitorais pela terra com a mesma coreografia: foguetes, bombos, banda, papelotes e um comício no Jardim Público Manuel Faria e um comício com o líder. Foi a papel químico do que se passou com António Costa há dois anos.
O mesmo já tinha sido tentado em Caxinas e em Guimarães, mas a afluência não esteve ao mesmo nível de 2022 — mais visível em Guimarães. Ainda assim, Frederico Castro, presidente do PS-Braga, disse, no comício do final da tarde, ter visto “multidões” ao longo do dia. Pedro Nuno tinha dito, logo após a arruada de Caxinas, disse que o PS acabara de mostrar “onde está a verdadeira força” e à saída de Vizela a falar de um “entusiasmo popular extraordinário” que “mostra a força” do seu projeto.